Investigadores atribuem o surto a um conjunto de vírus que pode ter sido potenciado pelo período de isolamento social vivido durante a pandemia da covid-19.
Os cientistas acreditam ter identificado a causa de um misterioso surto de hepatite aguda que afetou centenas de crianças em todo o mundo durante 2022. De acordo com três novos estudos, o fenómeno pode ter sido provocado por um conjunto de infecções de vírus infantis comuns. A situação pode ter atingido contornos mais graves devido a um efeito de arrastamento da pandemia da covid-19, a qual perturbou as cadeias normais de transmissão.
Entre 6 de abril e 8 de julho de 2022, a Organização Mundial de Saúde anunciou mais de 1.000 casos prováveis de hepatite aguda de causa desconhecida em crianças em pelo menos 35 países. No total, 46 crianças necessitaram de transplantes de fígado e 22 perderam a vida.
Tal como lembra o IFL Science, a hepatite consiste numa inflamação do fígado e pode ter origem em diferentes causas, tanto infecciosas como não infecciosas. Tende a ser relativamente rara em crianças, pelo que o surto em 2022 causou estranheza em muitos cientistas e médicos que não conseguiram explicar o número de casos.
Na última investigação, cientistas da Universidade da Califórnia, em São Francisco, realizaram vários testes diferentes para vírus — incluindo testes PCR, sequenciação metagenómica e métodos de testes moleculares — em 16 casos de hepatite em crianças de seis estados dos EUA.
Desta forma, perceberam que os casos de hepatite em crianças tinham ligações claras com outros vírus, tais como adenovírus humanos (HAdVs), que foram detectados em todos os casos. O vírus adeno-associado 2 (AAV2) também foi detectado em 93% dos casos, enquanto um tipo específico de adenovírus ligado a gastroenterite (HAdV-41) foi encontrado em 11 casos. Além disso, foram encontradas co-infecções com Epstein-Barr, herpes, e enterovírus em 85,7 por cento dos casos.
Concluíram que a combinação de adenovírus e AAV2 tinha uma clara ligação com o surto.
Os AAV são estranhos porque não são conhecidos por resultarem diretamente em doenças humanas. No entanto, podem causar problemas de saúde quando se agarram a outros vírus “ajudantes“, tais como adenovírus que causam constipações e gripes.
“Ficámos surpreendidos com o facto de as infeções que detetámos nestas crianças terem sido causadas não por um vírus invulgar e emergente, mas por patogénios virais infantis comuns”, disse Charles Chiu, diretor do Laboratório de Microbiologia Clínica da UCSF, numa declaração.
Esta teoria é ainda especulativa, sobretudo pelo facto de os testes terem sido conduzidos retrospectivamente, o que não é a forma mais fiável de investigar cientificamente um problema como este.
No entanto, estudos anteriores concluíram que o recente surto de hepatite entre as crianças foi provavelmente desencadeado por AAVs que se juntaram ao adenovírus. Esta última investigação é mais uma indicação de que o culpado pode ter sido corretamente identificado.
No entanto, não deixa de ser bastante invulgar que as infecções virais se tenham comportado desta forma. As crianças apanham frequentemente este tipo de vírus quando estão em contacto com outras crianças, o que não representa problemas. Contudo, as medidas de distanciamento social impostas durante a pandemia de covid-19 roubaram crianças a oportunidade de contraírem algumas doenças e ganharem imunidade.
Quando as medidas de distanciamento social terminaram, muitas crianças pequenas adoeceram com vírus recorrentes, mas com os quais não tinham contactado anteriormente. “Foi isso que nos levou a especular que o momento do surto estava provavelmente relacionado com as situações realmente invulgares que estávamos a atravessar com os encerramentos de escolas e creches“, disse Chiu.
“Pode ter sido uma consequência não intencional do que vivemos durante os últimos dois a três anos da pandemia”.
Para além disso, parte da outra investigação concluiu que 25 das 27 crianças afetadas partilharam uma variante genética pouco comum relacionada com a imunidade, sugerindo que uma predisposição genética pode ter desempenhado um papel.
“predisposição genética pode ter desempenhado um papel” mais valia perguntar ao bruxo de Fafe. Era a mesma conclusão: Não faço ideia.
“Quando as medidas de distanciamento social terminaram, muitas crianças pequenas adoeceram com vírus recorrentes, mas com os quais não tinham contactado anteriormente.”