O trabalho mais difícil não tem de ser sempre difícil. Sobretudo quando os próprios pais tornam o dia-a-dia mais fácil. Nem tudo é um drama.
Dizem que ser mãe, ou pai, é o trabalho mais difícil. Quem o diz são as mães, são os pais.
Mas nem tudo tem de ser um drama.
Claro que é preciso estar com os filhos e saber estar. É preciso ter um emprego para ter dinheiro para lhes dar o que for preciso, mas não se deve abusar no trabalho porque é preciso estar com eles – tempo de qualidade!
É preciso estabelecer limites, impor regras, mas não convém impor um regime quase ditatorial.
É natural uma mãe ou um pai estarem preocupados, mas não convém exagerar nas preocupações. Porque, mais uma vez, nem tudo é um drama.
Voltando ao que está ali em cima, o trabalho mais difícil de todos não tem de ser sempre difícil. Sobretudo quando os próprios pais tornam o dia-a-dia mais fácil.
Dorsa Amir focou-se nisso: o que não deve estar na lista de preocupações. Dorsa apresenta-se como cientista de desenvolvimento – dedica-se à psicologia do desenvolvimento, o estudo científico das mudanças progressivas psicológicas que ocorrem nos seres humanos nas diferentes etapas da vida. E também formou-se em antropologia, diga-se.
Dorsa é, sobretudo, mãe.
E foi dentro destes dois contextos que publicou na sua página do Twitter uma lista de “anti-conselhos” para outras mães e outros pais. Ou seja, partilhou o que acha que não deve ser motivo de preocupação para os progenitores.
“Eu própria sou mãe de uma criança pequena (quase 2 anos). Por isso, passei em primeira mão por esta pressão da ‘parentalidade perfeccionista’. Devemos dar aos nossos filhos o melhor início de vida possível – mas há tanta ansiedade à volta disto e, às vezes, também sou vítima disso”, começou por explicar, no portal Bored Panda.
E é uma ansiedade, uma pressão, que aparecem de vários pontos: da família, da comunicação social, de especialistas e dos próprios pais.
Por isso, esta partilha de anti-conselhos foi para os outros mas também para ela própria. Uma espécie de terapia para todos. Embora esta lista tenha surgido só depois de estudos e pensamentos “profundos” por parte da própria Dorsa.
Então. Coisas que justificam pouca preocupação.
1. Nem tudo tem de ser “serviço educativo”. Ou seja, as crianças podem…brincar! Só. Não precisam de estar a aprender algo a cada minuto do seu dia. Deixem-nos brincar. Deixem os vossos filhos serem…crianças.
2. Não te pressiones em relação a ensinar coisas. Mais uma vez, os filhos não têm que estar sempre a aprender. Aliás, na História da humanidade, raramente existem instruções directas e activas por parte de um adulto que realmente resultam. Os filhos aprendem muito por outros meios, sobretudo pela observação – e são muito bons nisso. Há muitas coisas que eles sabem, ou rapidamente ficam a saber, sem precisares de lhe dizer.
3. Deixa a criança passar por momentos de aborrecimento. Ela deve ter essa experiência, faz parte. Está aborrecida? Não é dramático. Não te sintas obrigada ou obrigado a estar sempre a entretê-la. Ela não tem de ter uma nova actividade a cada minuto que passa. Vais ver que ela, sozinha, até vai criar algum divertimento.
4. Deixa a criança entrar em conflito. Sim, conflito. Não é suposto entrar num ringue de boxe, mas deixa-a passar por conflitos sociais: discutir com um amigo, não concordar com algo que está a acontecer. Se não for preciso um adulto intervir, não intervenhas. As crianças resolvem a situação; muitas vezes não é preciso estar “em cima”.
5. Emoções negativas não são, obrigatoriamente, sinónimo de algo negativo. Também fazem parte da vida e, por isso, também devem fazer parte do seu crescimento. Sentem o que é e cedo começam a processar esses momentos. Não é suposto, nem é aconselhável, uma criança passar por uma infância sem qualquer desafio emocional. Há nuances da vida pelas quais ela deve passar.
6. Não tens de ser uma mãe “palhaça” ou pai “palhaço”. Não tens de estar sempre a fazer caretas. Só no Ocidente é que há essa tendência.
7. Sim, a mãe e o pai condicionam muito da sua agenda (da sua vida, no fundo) por causa dos filhos – mas não tens de condicionar tudo por causa das crianças. Cada pessoa, adulta ou pequenina, tem as suas preferências, as suas prioridades. E até podes ficar surpreendida quando a criança gostar de te acompanhar em algumas das tuas rotinas anteriores.
8. A criança não precisa de ter 520 brinquedos. Ela brinca com praticamente tudo. Não exageres. Mas, por outro lado, não te sintas a pior mãe ou o pior pai do mundo se o teu filho tiver 520 brinquedos. Também está certo. E também não te preocupes se não lhe tiveres dado um aspirador a fingir, ou uma vassoura-brinquedo: a criança baseia-se muito na imitação e provavelmente vai adorar fazer coisas reais, como limpar a casa (algumas coisas, pronto).
9. Não é preciso estar a fazer “papinha para o menino”, sempre. Ela pode comer o mesmo que tu.
10. Tenta não entrar em desespero. Seja pelo que for. Sobretudo quando és mãe ou pai pela primeira vez, o cansaço vai surgir, a desmotivação também, as perguntas vão multiplicar-se. Mas a paciência e fugir à pressão são essenciais.
O essencial é manteres o amor pelos filhos.
De resto… Há milhões de formas de sermos humanos. Todas são válidas.