O deputado brasileiro Jair Bolsonaro, do Partido Progressista, insultou a deputada Maria do Rosário, do Partido dos Trabalhadores, na sessão plenária da Câmara dos deputados desta terça-feira.
Maria do Rosário falava no Dia Internacional dos Direitos Humanos sobre os trabalhos da Comissão Nacional da Verdade (CNV), que entrega esta quarta-feira à presidente Dilma Rousseff o seu relatório final.
A CNV investiga crimes ocorridos durante a ditadura militar brasileira, de 1964 a 1985, e Jair Bolsonaro é um dos maiores críticos da comissão, por não incluir representantes dos militares e não investigar crimes cometidos pelos militantes de esquerda.
Discursando imediatamente após a deputada, Bolsonaro começou por afirmar: “Fica aí, Maria do Rosário, fica. Há poucos dias você me chamou de estuprador no salão verde e eu disse que não estuprava você porque você não merece. Fica aqui para ouvir”.
Jair Bolsonaro voltou a citar as mesmas palavras que usou em 2003, numa discussão com Maria do Rosário, quando lhe disse que não a estupraria “porque não merece”.
Na altura, a deputada tinha-o chamado de estuprador, por incentivar tal prática mesmo sem ter consciência disso.
Jair empurrou Maria do Rosário e chamou-a de “vagabunda”.
O vídeo na Internet com a discussão entre os dois faz sucesso até hoje, entre defensores e inimigos do parlamentar.
Após a discussão, Bolsonaro afirmou que não teme processos, e que apenas quis chamar a atenção da deputada para a sua versão sobre o relatório da Comissão da Verdade.
“Na altura, fui chamado de estuprador, se alguém tem de ser processado, não sou eu”, disse.
Horas depois de dirigir estas palavras à deputada e ex-ministra da secretaria de Direitos Humanos da Presidência, Jair Bolsonaro reiterou o discurso pelo Twitter: “Após mentir sobre o período militar, Bolsonaro coloca Maria do Rosário em seu devido lugar”.
A frase chamava os seguidores para o vídeo publicado pelo perfil de Bolsonaro no YouTube com o seguinte título, escrito em maiúsculas: “BOLSONARO ESCOVA MARIA DO ROSÁRIO”.
As imagens mostram o seu discurso na sessão plenária.
Nota de repúdio
O presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves, afirmou que a Câmara não pode permitir que os parlamentares tenham um comportamento incompatível com o decoro parlamentar.
“A Câmara não pode permitir esse tipo de comportamento. Tem que dar o exemplo aqui na relação, não só política como pessoal também”, disse Alves.
O Partido Comunista do Brasil vai entrar com uma representação contra Bolsonaro “na Câmara ou diretamente no Supremo. Estamos a analisar qual é o melhor caminho e vamos fazer ou um ou os dois. Vamos estudar do ponto de vista jurídico o que é mais curto e o que menos o protege”, defendeu a deputada Jandira Feghali.
A deputada Jô Moraes, do mesmo partido, propôs que o Código de Ética da Câmara passe a proibir explicitamente o que chamou de “ofensas machistas“. Solidarizando-se com Maria do Rosário, a deputada disse que todas as mulheres se sentiram agredidas. “Nenhuma mulher ‘merece’ ser estuprada”, frisou.
O líder do PT, Vicentinho, leu em Plenário uma nota do partido considerando que Bolsonaro desrespeita a condição de deputado, e promete medidas judiciais e regimentais pela ofensa. “Deixa assim transparecer que lhe é admissível a ideia de assumir o papel de estuprador condicionando e o ‘merecimento’ da vítima, assim demonstrando a covardia que é tão típica dos estupradores“, disse.
Mais cedo, o deputado Pastor Marco Feliciano, do Partido Social Cristão, defendeu o colega, afirmando que Bolsonaro não ofendeu ou atacou Maria do Rosário.
“Eles estavam a chamar o deputado Bolsonaro de estuprador, e ele disse que mesmo que fosse não estupraria a deputada. É preciso restabelecer a verdade, ele não disse que era um estuprador”, disse.
ZAP / Agência Câmara Notícias / BBC