As técnicas de interrogatório usadas pela CIA a suspeitos de terrorismo após os atentados de 11 de setembro de 2001 foram “ineficazes” e mais brutais do que alguma vez admitiu aquela agência norte-americana de serviços secretos externos.
A conclusão está expressa num relatório divulgado esta terça-feira pelo Senado norte-americano, a câmara alta do Congresso dos EUA.
O documento, da responsabilidade da Comissão sobre Serviços de Informação do Senado dos Estados Unidos, é uma versão editada de um meticuloso relatório de inquérito parlamentar que denuncia a detenção secreta de uma centena de homens suspeitos de terem ligações com a rede terrorista Al Qaeda, no âmbito de um programa secreto autorizado pela administração do então Presidente republicano George W. Bush.
“Em nenhum momento, as técnicas de interrogatório reforçadas da CIA permitiram recolher informações relativas a ameaças iminentes, tais como informações relativas a hipotéticos ataques bombistas, que muitos consideraram que justificavam tais técnicas”, afirmou a presidente da comissão, a senadora democrata Dianne Feinstein, durante a apresentação do resumo desclassificado de 525 páginas do relatório.
O relatório acusou também a CIA, agência norte-americana de serviços secretos externos, de ter mentido, não só ao público em geral, mas também ao Congresso norte-americano e à Casa Branca, sobre a eficácia do programa, nomeadamente ao afirmar que estas técnicas podiam permitir “salvar vidas”.
Quanto às técnicas utilizadas, o documento sublinhou que “eram brutais e bem piores do que a CIA havia descrito aos representantes” do Congresso.
Em 20 conclusões implacáveis para a CIA, o resumo do relatório da Comissão sobre Serviços de Informação do Senado norte-americano (atualmente controlado pelos democratas) acusou ainda a agência norte-americana de serviços secretos externos de ter submetido 39 detidos a métodos considerados como brutais durante vários anos, alguns dos quais não autorizados pelo executivo norte-americano.
“A CIA usou estas técnicas de interrogatório várias vezes durante dias e durante semanas”, descreveu o relatório.
Os detidos foram atirados contra paredes, despidos, colocados em água gelada e impedidos de dormir durante períodos até 180 horas.
De acordo com o documento, o detido Abu Zubeida, um alegado membro da Al Qaeda detido em finais de março de 2002 no Paquistão, após ter sido submetido a simulações de afogamento de forma repetida, “tinha espuma a sair da boca” e estava quase inconsciente.
No total, 119 suspeitos foram capturados e detidos ao abrigo deste programa secreto da CIA, em locais noutros países apelidados como “negros”. Uma dessas prisões secretas é qualificada como “masmorra“.
Os líderes republicanos no Senado denunciaram imediatamente este relatório, afirmando tratar-se de um documento partidário que está “a reescrever acontecimentos históricos”, segundo referiram, em declarações à comunicação social, Mitch McConnell, líder dos senadores republicanos, e Saxby Chambliss, vice-presidente republicano da Comissão sobre Serviços de Informação.
Obama considera métodos de tortura da CIA “contrários aos valores” dos EUA
O Presidente Barack Obama denunciou os métodos de tortura da CIA como “contrários aos valores” dos Estados Unidos.
“Estas técnicas prejudicaram fortemente a reputação da América no mundo”, considerou Obama num comunicado, prometendo tudo fazer para que jamais sejam utilizadas. “Nenhuma nação é perfeita”, reconheceu.
Segundo o Presidente norte-americano “uma das forças da América é a nossa vontade de nos confrontarmos abertamente com o nosso passado, enfrentarmos as nossas imperfeições, e mudar para que possamos melhorar”.
O líder da Casa Branca também reconhece que a administração do seu antecessor George W. Bush foi confrontada com opções “dolorosas” sobre a forma de perseguir a Al Qaeda e evitar “novos ataques terroristas” após os atentados do 11 de setembro de 2001, e sublinha que foram feitas “coisas boas” durante “esses anos difíceis”.
“Em simultâneo, algumas das ações efetuadas eram contrárias aos nossos valores“, acrescenta. “Essa é a razão pela qual bani explicitamente a tortura quando assumi as minhas funções”, prosseguiu Obama.
/Lusa