Descoberto o mistério dos “Círculos de Fada” no Deserto da Namíbia

Os círculos de fadas são manchas de terra dentro de prados áridos no sudoeste de África, em torno do Deserto da Namíbia e da Austrália Ocidental.

Um novo estudo liderado por investigadores da Universidade de Göttingen mostra que a morte da relva em círculos de fadas ocorre imediatamente após a chuva devido ao stress hídrico das plantas, e não devido à atividade das térmitas.

Os círculos de fadas são desprovidos de vegetação e frequentemente rodeados por uma franja de gramíneas altas. Embora as plântulas sejam por vezes encontradas nestas manchas depois da chuva, normalmente não sobrevivem, deixando as manchas completamente nuas durante a maior parte do tempo.

No noroeste da Austrália ocidental, os diâmetros típicos dos círculos são de cerca de 4 metros e, na Namíbia, os diâmetros aumentam com a aridez de 4 metros no sul para 6 metros. Podem mesmo chegar a ter 10 metros, mais a noroeste.

Embora a origem dos círculos de fadas tenha sido um mistério desde o início da década de 1970, este fenómeno na Austrália só foi descoberto em 2014. Até agora, os cientistas tinham várias teorias para explicar o padrão formado por estes círculos.

Alguns acreditavam que as térmitas ou formigas mordiscavam as raízes das gramíneas e as matavam. Outros suspeitavam que o monóxido de carbono tóxico podia vir do solo debaixo dos círculos e matar a vegetação.

Uma terceira teoria propunha que as áreas de terra nua simplesmente surgiam por iniciativa própria sob determinadas condições.

“A súbita ausência de relva na maioria das áreas dentro dos círculos não pode ser explicada pela atividade das térmitas, porque não havia biomassa para estes insetos se alimentarem”, explicou Stephan Getzin, autor principal do novo estudo, publicado na Perspectives in Plant Ecology, Evolution and Systematics a 20 de outubro.

“Mas mais importante, podemos mostrar que as térmitas não são responsáveis porque as gramíneas morrem imediatamente após a chuva sem qualquer sinal de criaturas a alimentarem-se da raiz”, realça o também investigador no Departamento de Modelação de Ecossistemas da Universidade de Göttingen.

No estudo, Getzin e os restantes investigadores acompanharam as chuvas na Namíbia entre 2020 e 2022 e avaliaram a causa da morte da relva dentro de círculos de fadas em diferentes intervalos de tempo, após chuvas torrenciais.

Para avaliar se a causa eram as térmitas, utilizaram escavações de relva e observaram atentamente as raízes e os rebentos.

“Os dados mostram que cerca de 10 dias após a chuva, as gramíneas já estavam a começar a morrer dentro dos círculos, enquanto a maior parte da área interior dos círculos não tinha germinação de relva“, relatam os investigadores.

“Vinte dias após a chuva, as gramíneas em luta dentro dos círculos estavam completamente mortas e apresentavam uma cor amarelada, enquanto as gramíneas circundantes eram vitais e verdes”, acrescentam.

“Quando examinámos as raízes das gramíneas de dentro dos círculos e as comparámos com as gramíneas verdes do exterior, descobrimos que as raízes dentro dos círculos eram tão longas, ou mesmo mais longas do que as do exterior. Isto indicava que as gramíneas estavam a esforçar-se para o crescimento das raízes em busca de água”, sublinhou a equipa de investigação.

“No entanto, não encontrámos provas de animais que se alimentem de raízes. Foi apenas 50-60 dias após a chuva que os danos das raízes se tornaram mais visíveis nas gramíneas mortas”, explicam, citados pela Sci News.

Quando analisaram os dados sobre as flutuações da humidade do solo, os investigadores descobriram que o declínio da água do solo dentro e fora dos círculos foi bastante lento após a precipitação inicial, quando as gramíneas ainda não se encontravam estabelecidas.

No entanto, quando as gramíneas circundantes estavam bem estabelecidas, o declínio da água do solo após a chuva foi bastante rápido em todas as áreas, embora quase não houvesse gramíneas dentro dos círculos para usufruírem da água.

“Sob o forte calor da Namíbia, as gramíneas estão permanentemente a transpirar e a perder água”, explica Getzin. “Assim, criam um vácuo de humidade no solo em torno das raízes e a água é atraída para elas”.

“Os nossos resultados concordam fortemente com os dos investigadores que demonstraram que a água no solo se difunde rápida e horizontalmente nestas áreas, mesmo em distâncias superiores a 7 metros”, garante o investigador.

“Ao formar paisagens fortemente padronizadas de círculos de fadas uniformes e espaçados, as gramíneas atuam como engenheiros de ecossistemas e beneficiam diretamente do recurso hídrico proporcionado pelas lacunas da vegetação”.

“De facto, conhecemos estruturas vegetais auto-organizadas relacionadas de várias outras zonas secas duras do mundo, e em todos esses casos as plantas não têm outra hipótese de sobreviver a não ser crescendo exatamente nessas formações geométricas”, sublinha Getzin.

Alice Carqueja, ZAP //

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