Um novo relatório revelou que cerca de 85% dos reclusos britânicos declararam ter estado trancados 23 horas por dia, durante longos períodos, no decurso da pandemia de covid-19. As consequências vão da ansiedade à depressão, passando pela automutilação.
“Os reclusos são medicados” para passarem o dia a dormir e, durante toda a noite, “gritam das janelas [das suas celas]”, avançou o relatório, recentemente divulgado e desenvolvido pela User Voice e pela Queen’s University Belfast.
A pandemia veio agravar a situação vivida nas prisões britânicas, onde as taxas de suicídio e de automutilação já eram elevadas. Com um sistema sobrelotado e com falta de investimento e de pessoal, os serviços de saúde mental – inadequados antes da covid-19 – deixaram de existir em alguns presídios.
Também os serviços de apoio e a educação foram interrompidos, os ginásios encerrados e as visitas das famílias canceladas. Num artigo publicado no Guardian, o correspondente Eric Allison indicou que a tortura descrita no relatório não terminou com o levantamento das restrições.
De acordo com o jornalista, as regras da Organização das Nações Unidas (ONU) determinam que o confinamento solitário não pode exceder as 22 horas por dia sem que haja contacto humano significativo. Segundo o próprio, 15 dias consecutivos na solitária equivalem a tortura.
De acordo com o correspondente, as sentenças de milhares de prisioneiros chegaram ao fim durante a pandemia, tendo estes sido libertados sem qualquer reabilitação ou cuidados de saúde, depois de terem passado pelos momentos de privação.
“Colocamos as pessoas na prisão porque fizeram coisas que prejudicaram a sociedade”, disse Bob Johnson, psiquiatra consultor nas prisões, que leu o relatório. Mas o tratamento dado a esses reclusos “equivale a tortura, é insano e sádico e inflige dor à sociedade”, acrescentou.
Coronavírus / Covid-19
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