O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, advertiu hoje para o perigo de a civilização atual caminhar para o totalitarismo, em resultado da centralização de informação, e recomendou aos cibernautas a procura de caminhos alternativos a essa centralização.
O aviso foi dado num debate realizado em Lisboa, via teleconferência, emitida da embaixada do Equador em Londres, onde Assange reside há dois anos. Assange intervinha no âmbito do fórum “Reagir contra a vigilância de massas: abrir o espaço à sociedade”, integrado no Festival de Cinema de Lisboa e Estoril (L&EFFest).
“O avanço da civilização, em termos cada vez mais de tecnologia complexa, pode levar-nos ao totalitarismo, como resultado da centralização de informação?
Essa é a verdadeira questão que tem de ser respondida”, disse o australiano, que desde meados 2012 está refugiado naquela embaixada, após o Supremo Tribunal britânico ter autorizado a sua extraditado.
Assange salientou que a globalização tende a ter como resultado um líder de mercado, como a Google, e defendeu que “podemos estar a caminhar” para uma situação de centralização em todo o mundo.
“A verdade é que, à medida que os serviços de inteligência [como o SIS e SIED, serviços de informações de Segurança e Estratégicas de Defesa, em Portugal] se tornam mais poderosos e mais secretos, e aumenta o fenómeno generalizado de ligação nas comunicações entre indivíduos, esses serviços tornam-se mais livres e poderosos e não há forma de escapar”, avisou.
E Assange foi ainda mais longe nas acusações à Google, defendendo que é uma empresa que está a crescer e é muito ambiciosa, e que essa ambição não acontece só nas ligações que a Google cria com o Governo e o poder norte-americanos, mas também porque a Google chega a qualquer canto do mundo.
“Vigiar cada pessoa, entender onde está, o que cada um de nós está a fazer, a ler, com quem contata”, precisou, defendendo que todos os que usam a internet, o Facebook, o Gmail, devem encontrar caminhos que permitam fugir dessa centralização da informação.
Assange defendeu ainda que, independentemente da verdade sobre os motivos da criação da Google, o seu modelo básico assenta no mesmo dos sistemas de segurança nacional, arrecadando informação de todo o mundo, tratando-a e organizando-a para cada pessoa.
E rebateu ainda os argumentos dos cibernautas que dizem não temer a Google ou a internet, por não terem nada a esconder: “A minha primeira pergunta é: o que está errado contigo? Deves ser muito aborrecido. Vai imediatamente arranjar algo para esconder“, disse, provocando o riso da plateia, na maioria composta por jovens.
“Estamos todos ligados, juntos, a informação viaja de uns para outros, somos amigos uns dos outros, direta ou indiretamente”, constatou, explicando que, se alguém usa o Gmail para contatar uma pessoa ou “posta” algo sobre ela no Facebook, acaba por dar informação sobre essa pessoa e sobre os seus familiares.
Assange defendeu que um dos passos importantes é tomar consciência sobre a centralização de informação e adquirir novos conhecimentos sobre alternativas de fugir a esse controlo, e recomendou: “Vão à pagina da Wikileaks e comecem por ler um documento chamado ‘Google Is Not What It Seems’ (a Google não é o que parece)”.
Julian Assange revelou ainda que a WikiLeaks se prepara para libertar mais documentos secretos, mas não deu mais pormenores.
/Lusa