O preço do leite e de alguns derivados pago ao produtor tem subido, desde o início do ano, em Portugal, mas continua a ser um dos mais baixos da União Europeia, segundo dados do GPP e de Bruxelas.
Em janeiro, no continente, o preço do leite comprado a produtores individuais era de 0,356 euros por litro, abaixo dos 0,405 euros registados em abril, segundo dados do Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral (GPP).
O valor do leite adquirido a postos de receção e salas coletivas de ordenha ascendeu a 0,368 euros por litro em abril, quando no primeiro mês do ano estava em 0,338 euros.
Nos Açores também se verificou a mesma tendência, com o preço pago aos produtores individuais (que possuem tanque na refrigeração na exploração e com transporte a cargo da fábrica) a passar de 0,317 euros por litro em janeiro para 0,333 euros em abril.
Já no que se refere ao leite adquirido a produtores individuais, que entregam em postos de receção, com o transporte a cargo do produtor, o valor passou de 0,299 euros por litro em janeiro para 0,317 euros por litro em abril.
No período em causa, o preço médio do leite biológico à produção foi de 0,533 euros por litro em abril, quando, em janeiro, estava nos 0,520 euros.
O preço médio do leite em pó (à saída da fábrica) é apresentado à semana, variando consoante a subcategoria — desnatado, inteiro ou soro.
Desde janeiro e até junho, considerando o leite em pó desnatado, o valor mais elevado verificou-se na semana de 07 de março, com 393,09 euros por 100 quilogramas (kg), enquanto o valor mais baixo (277,09 euros) foi apurado na semana de 10 de janeiro.
O preço do leite inteiro, por seu turno, atingiu, neste período, um máximo de 468,96 euros por 100 kg na semana de 09 de maio e um mínimo de 287,69 euros por 100 kg na semana de 10 de janeiro, considerando os dados disponibilizados pelo GPP.
O valor do soro oscilou entre os 85,48 euros por 100 kg (semana de 03 de janeiro) e os 124,39 euros por 100 kg (semana de 09 de maio).
Por sua vez, o preço da manteiga à saída da fábrica, que também é apresentado à semana, teve vários avanços e recuos, estando, em 06 de junho, nos 701,84 euros por 100 kg. .
Tendo em conta o período apresentado, o valor mais baixo registou-se na semana de 17 de janeiro (453,40 euros por 100 kg). .
Nos primeiros quatro meses deste ano, o preço do queijo flamengo à saída da fábrica, em bola ou em barra, passou de 463,19 euros por 100 kg para 504,67 euros.
O GPP ressalva que, a partir de março de 2016, há uma quebra de série, por isso, passaram a ser comunicados os preços reais de venda, em vez dos preços de tabela.
Dados da Comissão Europeia revelam que o preço de leite de vaca cru atingiu, em Portugal, os 37,85 euros por 100 kg em maio, o valor mais alto, desde junho de 2008.
Porém, esse valor é o segundo mais baixo da União Europeia, apenas acima da Eslováquia (37,83 euros).
Portugal teve mesmo o valor mais baixo entre todos os Estados-membros da UE, nos primeiros quatro meses do ano, enquanto Malta esteve sempre a liderar, apresentando valores acima de 61 euros.
Entre 1996 e até maio de 2022, Portugal atingiu o valor mais elevado (39,40 euros) em novembro de 2007, tendo-se prolongado até janeiro de 2008.
Vacarias estão a encerrar
O preço do leite à produção e a subida dos custos está a levar as vacarias a encerrar, podendo haver escassez deste produto, alertou a Associação dos Produtores de Leite de Portugal, vincando que, quando a distribuição “acordar”, poderá já ser tarde.
“Há vacarias de grande dimensão que já fecharam e muitos produtores estão a pensar se fecham ou se reduzem a produção”, afirma o secretário-geral da APROLEP, Carlos Neves, em declarações à Lusa.
“Temos situações de produtores com água limitada por causa do regadio e outros compram silagem de milho, que está muito mais cara. Se não tiverem um preço que lhes permita pagar as despesas, a única solução é reduzir as compras e a produção”, acrescentou.
“O encerramento de vacarias e a redução da produção só não é maior porque quem fez projetos de investimento tem que se manter na atividade durante cinco anos”, indicou o responsável, notando que os produtores que se aproximam da reforma ou que têm outras atividades deixam este trabalho.
“Tenho conhecimento de vacarias que vão fechar e ser substituídas por projetos de produção de amêndoas”, exemplificou.
Segundo a APROLEP, esta não é uma situação recente, uma vez que já há cerca de 30 anos os pequenos produtores abandonavam a atividade, por não serem competitivos ou rentáveis.
Neste momento, com os baixos preços pagos à produção e a subida dos custos, as grandes vacarias também já estão a encerrar, podendo haver escassez de leite em Portugal.
“Receio que, quando a indústria e a distribuição acordarem, já seja tarde. Quem abandona a produção não volta a meter vacas. Não é como plantar batatas, que podemos deixar a terra em pousio e, no ano seguinte, voltamos a produzir. Quem deixa as vacas não volta”, sublinhou Carlos Neves.
Segundo a APROLEP, os produtores estão desiludidos e apreensivos com o futuro da produção de leite em Portugal.
“Desilusão porque vemos que, na Europa, o leite está a ser valorizado e em Portugal não. Um país que estava na média ou ligeiramente aproximado e está há 12 anos abaixo da média. Fomos ultrapassados pelos países do Leste, com um nível de vida inferior ao nosso”, destacou.
ZAP // Lusa
Os Centros de Emprego vão estar sobrecarregados , com tantas Vacas no desemprego !