LMM. Medidas para a Saúde são “desoladoras”. Começou a “campanha para saída” de Temido

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Mário Cruz / Lusa

Luís Marques Mendes

Embora atribua a maior fatia da responsabilidade pela crise nos hospitais ao primeiro-ministro António Costa, o comentador Luís Marques Mendes disse no domingo que esta semana “começou em força” a campanha para a saída da ministra da Saúde, Marta Temido.

“Começou com força, a campanha para a destituição da ministra da Saúde. Dentro do PS, o que é uma novidade. E fora, como é mais natural”, disse, no seu comentário habitual na SIC, referindo que as medidas estruturais previstas pelo Governo para a situação na Saúde são uma “mão cheia de nada”, uma resposta “desoladora”.

Na sua opinião, se Temido “não remodelar acaba a ser remodelada”, podendo acontecer o mesmo que sucedeu com antigos ministros socialistas Correia de Campos e Adalberto Campos Fernandes, também da Saúde. “A ministra é apenas o elo mais fraco”.

A maioria absoluta no Governo não muda nada, já que “o critério da contestação e das sondagens é sempre determinante numa área como a da Saúde”, referiu, criticando Costa: “Quem tem experiência de Conselhos de Ministros sabe muito bem que o espírito reformista” não começa nos ministros, “mas no primeiro-ministro”.

Marques Mendes disse que Temido parece ter sido “apanhada desprevenida”, mas os problemas já eram conhecidos. “Porque é que não se agiu a tempo e horas? É desolador”, considerou, indicando não ver respostas do Governo para “a falta de organização, de gestão e de remuneração justa dos seus profissionais”.

“Por razões ideológicas, o Governo não queria ter uma gestão privada [nos hospitais públicos]. Mas o maior erro nem foi acabar com essas PPP que eram, segundo entidades independentes como o Tribunal de Contas, benéficas para o Estado e para os utentes. O maior erro foi não ter transportado os bons exemplos e as boas práticas, que geraram esses bons resultados, para dentro da gestão pública”, referiu.

Segundo dados levantados pelo comentador, em 2011 havia 2 milhões de seguros privados de saúde, em 2016 cresceram para 2,35 milhões e, em 2021, para 3,30 milhões. Em 10 anos, um crescimento de 64%.

“Não vai haver referendo nenhum”

Quanto à descentralização, apontou o anúncio do Governo em extinguir 30 serviços do Estado até 2023, faltando, na sua opinião, explicar sobre a poupança desta mudança para o Estado ou qual o destino dos funcionários dos organismos extintos, desconfiando que aquela tenha alguma relação com a “futura regionalização do país”.

Apesar de o PS ter prometido, no programa eleitoral, avançar com o referendo nesta legislatura, em 2024, o comentador acredita que “não vai haver referendo nenhum”.

“Quem não se entende no mais fácil (a descentralização) dificilmente se entende no mais complexo (a regionalização)” e um referendo em tempo de crise económica e social “é um não garantido, é uma derrota para o Governo”, apontou.

Costa do “lado dos poderosos”

Sobre a aproximação da Ucrânia à União Europeia (UE), considerou o parecer favorável da Comissão Europeia ao estatuto de candidata como um sinal “inteligente, sensato e necessário” e uma “demonstração firme da solidariedade” com o país.

“A UE expressa solidariedade à Ucrânia, exibe firmeza perante a Rússia, mostra que percebeu que em 24 de fevereiro tudo mudou. Mudou o mundo, mudou a Europa e mudou a natureza geopolítica da UE. Putin “obrigou” a Europa a ser o escudo protetor dos países de leste”, apontou.

partyofeuropeansocialists / Flickr

O primeiro-ministro, António Costa

O primeiro-ministro, António Costa

Por outro lado, criticou Costa, que “esteve ao lado dos poderosos, da França e da Alemanha. Tinham grandes reservas e acabaram por ceder para não desagradarem aos seus eleitores. A posição do Governo não foi brilhante”. Para Marques Mendes, essa posição deve-se a uma ambição para um futuro cargo europeu.

“Eu tinha preferido que Portugal tivesse estado desde o início ao lado da Ucrânia. Por uma razão de coerência: também quando no passado precisámos da solidariedade europeia, a Europa esteve connosco. E por uma razão de princípio: o que está em causa na Ucrânia são os valores europeus da liberdade, da paz e da autodeterminação dos povos”, sublinhou.

Le Pen foi “a estrela da noite”

Relativamente às eleições em França para a Assembleia Nacional, destacou as vitórias dos candidatos de extrema-direita de Jean Luc Mélenchon, líder da coligação de esquerda (NUPES – Nova União Popular de Esquerda e Socialista).

Já “Macron levou um sério cartão amarelo. Tem uma vitória com sabor a derrota. Perde a maioria absoluta com uma margem significativa. Vai ser obrigado a negociar com os republicanos. Fica politicamente fragilizado. O eleitorado, no fundo, quis dizer: és Presidente mas tens de mudar as políticas”, analisou Marques Mendes.

Marine Le Pen foi “a estrela da noite”, enalteceu, explicando: “Politicamente foi quem mais ganhou com estas eleições. Com um sistema eleitoral que lhe é profundamente adverso, consegue um grande resultado em votos e mandatos”.

Tempo “do dinheiro barato está a acabar”

A subida das taxas de juro “é um problema”, referiu, sobretudo no crédito à habitação. “Com a subida da Euribor, as prestações a pagar aos bancos já estão a aumentar. Podem ainda não se ter refletido nos pagamentos mensais. Mas lá chegarão dentro de poucas semanas”, indicou.

Para Marques Mendes, “o tempo do dinheiro barato está a acabar”. “Segundo os especialistas, a Euribor poderá chegar a 2% já em 2023. Logo, as prestações vão subir mais. Não é motivo para se entrar em desespero. Mas é razão para se passar a ter mais prudência na gestão do orçamento familiar”, frisou.

Ainda assim, concluiu, os bancos “não acreditam” numa “vaga de incumprimentos dos contratos de crédito à habitação. Isso não sucedeu na crise da ‘troika’, apesar de a situação ter sido então mais grave que agora. Apesar de tudo, há uma diferença que pode ser essencial: o desemprego está hoje em números historicamente baixos”.

Taísa Pagno , ZAP //

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8 Comments

  1. Farto-me de rir quando vejo muitos dos ” comentadeiros” habituais, e são muitos, dizerem que as PPP’s na saúde terminaram por razões ideológicas.
    Será que essa gente se interroga sobre se a criação de tais PPP’s também não foi feita por razões ideológicas?
    Ah, mas disso não se fala, como convém!

    • Pois foi! Uns fazem as PPP´s, outros acabam com as PPP´s. É sempre a ideologia a condicionar tudo. Em 1969, na Universidade de Coimbra, uns receberam Américo Tomás com cartazes oponentes, outros estenderam as suas capas no chão para que ele passase por cima.

  2. Mas alguém no seu juízo perfeito, pensa que o primeiro ministro vai demitir a ministra da saúde?! Ela é, neste momento, o saco de boxe do governo e arca com as culpas todas. O António Costa, como bom cobarde que é, vai passando pelos pingos da chuva….
    É o que temos.

  3. Todas as ultimas intervenções dos Profissionais de saúde que vejo nas televisões ( ao serviço do sistema poderoso da Saúde Privada ) demonstram que o problema não é de falta de pessoal, é um problema de ganancia e Politico, ou seja, tratando-se de saúde é um problema de crime publico, estando em causa vidas humanas, percebo porque por exemplo a TVI tem permanente, 24 horas por dia, antena disponível á Ordem dos médicos, e enfermagem, servidores da saúde privada, já que se quer impor como primeiro órgão da comunicação social ao serviço do sistema de interesses, já não se compreende as RTPs por não depender do capital privado, o que ajuda a perceber a razão da RTP ser eleita como órgão da comunicação social mais verdadeira e mais seria, pois não será nada difícil concorrer com a TVI a SIC a CNN e ate a CMTV porque são Órgãos dependentes de acionistas, e de interesses de capitais, cada vez que na TV vejo um destes profissionais a minha mente transforma a imagem deles na imagem de Putin, embora as crianças morram com uma bomba em guerra, quando em Portugal está somente a ganancia de mais uns euros, do poder politico, e de interesses de capitais,

  4. O SNS não funciona. Quem tem dinheiro tem saúde, quem não tem… está tramado. Esta é a triste realidade. Felizmente tenho posses e deixei de frequentar o SNS. Vou a um hospital privado, resolvo tudo rapidamente e não estou em filas de espera 4 ou 5 anos ou vários meses para uma simples consulta. Tudo funcional mal no SNS.
    E não me venham dizer que a resposta do SNS foi exemplar no âmbito da COVID. Isso é a maior tonteria que se pode afirmar.
    O SNS no período pandémico esqueceu tudo o resto. As consultas de especialidade e intervenções cirúrgicas foram na sua maioria adiadas. As pessoas praticamente só se dirigiam ao SNS caso fosse situação de COVID. E se a resposta foi boa relativamente ao COVID em concreto, deveu-se ao esforço sobre-humano dos diferentes profissionais de saúde. Sem eles, o sistema teria mesmo colapsado. Turnos atrás de turnos a cair para o lado conseguiram que o sistema não ruísse. Que muitas vidas fossem efetivamente salvas. Os profissionais de saúde mereciam respeito por parte da tutela. E no final o que tiveram: a grande final da LIGA DOS CAMPEÕES! Sim, esse foi o seu prémio!
    Somos um país governado por tolos!

  5. Alguém tem problemas para marcar uma consulta num dentista?! Alguém se queixa dos preços cobrados pelos dentistas?! A razão é apenas uma: há dentistas a dar com pau. Aumentem-se as vagas na medicina, abram-se vagas para as especialidades e o problema está resolvido. E não venham com aquela treta que um médico demora 14 anos a formar-se. Também um bom pedreiro ou um bom carpinteiro demora bem mais de dez anos a formar-se. E em todas as outras áreas (engenharias, economia, gestão, educação, direito…) estamos sempre em permanente formação (pós-graduações, mestrados, especialidades, cursos, seminários, conferências de atualização…

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