Uma das custódias de D.Manuel I, que se julgava perdida, foi encontrada numa sala do Castelo de Chantilly, em França, onde vai ser exposta após ter sido restaurada. É um “verdadeiro tesouro profano” e uma obra “essencial da arte do Renascimento em Portugal”.
O Castelo de Chantilly é uma das jóias do património francês, tendo sido mandado construir pelo duque Henri d’Orléans, filho do último Rei de França. O espaço acolhe colecções de arte e vai, a partir de agora, exibir ao público a custódia de D. Manuel I, cujo paradeiro não se conhecia.
A peça de prata dourada, com 70 centímetros de altura, esteve esquecida mais de um século numa das salas do Castelo. A humidade levou a que ficasse oxidada, o que exigiu uma profunda intervenção de restauro, concretizada nos últimos meses.
De origem portuguesa e datada de 1500-1520, a custódia, ou ostensório, será proveniente da Sé de Braga, onde é mencionada nos inventários, acrescenta um comunicado do Castelo de Chantilly.
A custódia terá chegado ao Castelo através de doação efectuada em 1531 pelo arcebispo Diogo de Sousa, ainda segundo o mesmo comunicado que é citado pela Lusa.
Apresentada como uma obra de “microarquitetura e originalmente usada em actos religiosos, a custódia combina múltiplos pináculos, arcos de trevo, ornamentos de plantas, pequenas estátuas, armas e símbolos dos reis de Portugal, nomeadamente as armas de Bragança.
Mathieu Deldicque, Conservateur du patrimoine au musée Condé, animera 2 conférences au #FHA22 ce samedi au @CFontainebleau.
De 17h30 à 18h : Le Portugal à Chantilly – Restauration d’un ostensoir portugais de la #Renaissance, grâce au mécénat de la Galerie Mendès.@FHA_Festival https://t.co/e4AXM14TAc pic.twitter.com/6kIbDbcmTf
— Château de Chantilly (@CdeChantilly) June 3, 2022
“Um verdadeiro tesouro profano”
“Este objeto é um testemunho essencial da arte do Renascimento em Portugal. O restauro devolve-lhe o seu lugar na história e na história da arte portuguesa”, sustentam os serviços da instituição francesa.
Trata-se de “um verdadeiro tesouro profano do Museu Condé”, onde está exposta, no Castelo de Chantilly, como aponta ainda a entidade.
“Exceptuando alguns raros investigadores que sabiam da sua existência, ninguém olhou para esta peça, abandonada em favor das fabulosas pinturas de Chantilly” e “esteve esquecida durante mais de um século”, aponta o site francês Noblesse et Royautés, citando dados do Castelo de Chantilly.
Os responsáveis do Castelo de Chantilly ressalvam que o restauro desta peça, que demorou seis meses, foi conseguido “graças ao apoio” da Galeria Mendes, em Paris, de Philippe Mendes, curador luso-francês e coleccionador de arte.
Philippe Mendes fez parte do departamento científico do Museu do Louvre, onde lecionou igualmente História da Pintura Italiana.
O processo de restauro da custódia de D. Manuel I foi liderado por Fabienne dell’Ava, especialista em conservação e restauro de obras em metal.
Peça foi doada ao Estado francês
A mais antiga referência quanto à atual posse da custódia remonta a uma exposição dedicada a obras de arte da Idade Média e da Renascença, que esteve patente em Londres, no então Museu de South Kensington, actual Victoria & Albert, em 1862.
O catálogo desta exposição identificava como seu proprietário o duque Henri d’Orléans, filho do rei Louis-Philippe, então no exílio no Reino Unido.
Ainda segundo o catálogo da mostra, citado pelo Castelo de Chantilly, a peça tinha sido adquirida, em 1859, a um antiquário em Londres, Samuel Pratt, por cerca de 300 libras.
Em 1871, a custódia acompanhou o duque d’Orléans no seu regresso a França e ao Castelo de Chantilly, entretanto reconstruído para acolher a sua coleção de arte.
Em 1886, com a doação do castelo e do seu acervo, a custódia transitou para o património do Institut de France, entidade que gere cerca de um milhar de instituições, entre academias, fundações, castelos e museus no país.
A partir de agora, esta custódia vai estar exposta no Musée Condé, no Castelo de Chantilly, na região de Oise, no Norte de França, associando-se aos eventos a decorrer no âmbito da temporada cruzada França e Portugal.
ZAP // Lusa
(A custódia terá chegado ao Castelo através de doação efectuada em 1531 pelo arcebispo Diogo de Sousa, ainda segundo o mesmo comunicado que é citado pela Lusa.) Neste país dão tudo e restará também o património levado pelos franceses aquando das invasões francesas mandadas pelo senhor Putin, perdão, Napoleão!