Vitor Constâncio confirma: “Juros vão iniciar ciclo de aumentos”, mas deve existir “sensato gradualismo”

Eric Chan / Wikimedia

O Euro em frente ao edifício do BCE – Banco Central Europeu em Frankfurt

Esta semana, o BCE reúne-se para uma dos encontros mais difíceis, à luz do atual momento social e político que a Europa atravessa.

Vitor Constâncio, antigo vice-presidente do Banco Central Europeu, reconheceu que “as taxas de juro irão iniciar um ciclo de aumentos” tendo em vista a contenção da aceleração dos preços na Zona Euro. Ainda assim, o também antigo governador do Banco de Portugal sublinhou que essa “política monetária restritiva deverá respeitar um sensato gradualismo”, considerando os efeitos já de si recessivos da inflação e da guerra na Ucrânia.

As declarações acontecem numa semana em que está prevista uma reunião de política monetária, agendada para quinta-feira, na qual se irá discutir o grande dilema que nas últimas duas semanas foram apresentados aos governadores do banco central, aponta o Eco.

Se, por um lado, a inflação atingiu um máximo histórico de 5,8%, por outro, a guerra na Ucrânia e as sanções impostas com impacto na economia europeia também deverão afetar a moeda europeia. É ainda expectável que as medidas prolonguem a aceleração dos preços devido ao choque dos preços da energia. Este é mais um fator a criar indefinição sobre a política da instituição dirigida atualmente por Christine Lagarde.

Vítor Constâncio acredita que a normalização da política monetária ocorrerá aí, indo ao encontro do que tem sido defendido por vários decisores, mas também no que respeita às expectativas do mercado – com toda a sensatez que o momento exige.

“A política monetária restritiva deverá respeitar um sensato gradualismo, dependente da evolução dos mecanismos internos de amplificação da inflação importada. Não restem, porém, dúvidas que as taxas de juro irão iniciar um ciclo de aumentos como resposta aos mecanismos internos que alimentam a dinâmica inflacionista“, explica o economista.

O antigo vice-presidente do Banco Central Europeu aponta que a atual situação de um grande choque de preços externos, com os seus efeitos inflacionistas e recessivos, “é a maior dificuldade que os bancos centrais podem enfrentar”. Segundo a mesma fonte, numa primeira fase, o efeito nos preços internos é inevitável e o efeito recessivo ajuda a atenuar os efeitos noutros preços.

Neste campo, entende, a política monetária pouco pode ajudar, ainda que, “na prática, existirão sempre repercussões noutros preços, incluindo nos preços do trabalho, mecanismos que amplificam a dinâmica da inflação e a sua persistência”.

Simultaneamente, a questão o choque de preços externos de energia é um imposto que impacta todos os agentes económicos de um país. “Se todos aceitassem o imposto sem obter compensações, os mecanismos de amplificação não existiram e a política monetária teria um papel menor, uma vez que os aumentos dos preços internacionais não se repetirão todos os anos e a inflação é uma variação dos preços.”

Como tal, o economista conclui: “A política monetária não deve responder na primeira fase com medidas muito restritivas que agravariam desnecessariamente o efeito recessivo de choque externo, sem ter efeitos visíveis no aumento inicial na inflação.”

ZAP //

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