Em Itália, a construção de uma estátua para homenagear a primeira mulher doutorada está a causar polémica

Wikimedia | Zairon

Padova Prato della Valle, praça italiana, em Pádua

Cidade italiana tem dois lugares vagos para homenagear figuras importantes da sua história, mas uma sugestão tem causado controvérsia entre historiadores e habitantes.

A proposta para erguer e incluir uma estátua da primeira mulher no mundo a concluir um doutoramento entre outras 78 figuras notáveis de uma vila italiana – todas masculinas – está a causar controvérsia. Em causa está a homenagem a Elena Lucrezia Conaro Piscopia, que concluiu um doutoramento em Filosofia na Universidade de Pádua. No entanto, o seu nome não foi incluído pelas autoridades da cidade num projeto desenhado no século XVIII e que previa a construção de estátuas no Prato della Valle, a maior praça de Itália com 90 metros quadrados.

Originalmente, existiam 88 estátuas, todas em honra de homens, tais como Galileo Galilei, António Canova e alguns papas. Durante a invasão napolitana, dez figuras com representações de responsáveis de Veneza foram destruídas pelos invasores, oito foram mais tarde substituídas por obeliscos e dois altares permanecem vazios.

Apesar de uma estátua em honra de Piscopia já existir na Universidade de Pádua, dois deputados municipais, Simone Pillitteri e Margherita Colonnello, propuseram celebrar a filosofia com uma estátua num dos pedestais vazios,, “Talvez não seja de conhecimento público que todas as estátuas, sem exceção, sejam todas dedicadas a homens”, pode ler-se na moção apresentada ao conselho da cidade.

A sugestão surgiu depois de a Mi Riconosci, uma associação de profissionais a trabalhar no setor da herança cultural da região, ter realizado uma espécie de censos relativos a todas as estátuas de figuras italianas erguidas nos espaços públicos em todo o país e ter descoberto que, destas, apenas 148 eram dedicadas a mulheres.

Fderuca Arcoraci, uma historiadora de arte na Mi Riconosci, explicou que o alinhamento no Prato della Valle “tem um impacto nas nossas vidas e na nossa imaginação coletiva”. “O regulamento Prato della Valle, estabelecido em 1776 proíbe estátuas de santos, pessoas vivas e que nunca tiveram relação com a cidade, mas não proíbe a representação de mulheres”, explica a especialista ao The Guardian.

“Obviamente, isso foi o resultado de uma tendência na história. Mas atualmente é possível criar um projeto que esteja relacionado com a história da praça na sua totalidade.”

No entanto, a proposta despertou imediatamente controvérsia, com os opositores a alegarem que colocar atualmente uma estátua na praça seria um gesto “fora do contexto” da história do lugar. Por exemplo, Carlo Fumian, professor de história na Universidade de Pádua, apelidou a ideia de “cara e bizarra”, um pouco “tendência, mas culturalmente inconsistente”.

“Movimentar monumentos como se fossem Lego e um jogo perigoso“, afirmou a um jornal regional. “Em vez disso, devemos ajudar as pessoas a descobrir a estátua original, triunfantemente sentada na universidade.”

Davide Tramarin, historiador de arte, por sua vez, considera que os dois púlpitos vazios assim devem permanecer, já que representam um símbolo da destruição histórica causada pela invasão de Napoleão. Já Fabrizio Magani, superintendente da herança cultural de Pádua, está disponível para considerar a adição, apesar de achar mais oportuno a inclusão de uma figura feminina da história nais recente.

Para Leonado Bison, jornalista residente da cidade, é “chocante” que apenas uma proposta tenha desencadeado um debate tão aceso, mostrando-se também “surpreendido” por Piscopia não estar representada quando figuras masculinas menos importantes figuram entre os imortais da cidade.

ZAP //

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