Os certificados digitais, quando introduzidos como condição de acesso a certos locais, levam a um aumento de procura da imunização, em determinados países.
Este efeito apenas se verificou em países onde a vacinação estava abaixo da média e, de acordo com o estudo publicado a 13 de dezembro, realizado por investigadores da Universidade de Oxford, este contexto é muito importante.
De acordo com o Público, Melinda Mills e Tobias Rüttenauer, investigadores do Centro Leverhulme de Ciências Demográficas da Universidade de Oxford, afirmam que esta “é a primeira análise empírica rigorosa da relação entre a introdução de certificados da covid-19 e a cobertura vacinal”.
Os responsáveis pelo estudo afirmam que um estudo como este é importante “porque alguns inquéritos sugeriam que os certificados poderiam reduzir a intenção de ser vacinado em alguns contextos, e uma revisão sistemática não encontrou provas conclusivas de que os certificados afetassem a aceitação das vacinas”.
Os investigadores concluíram que a introdução do certificado digital em países com uma cobertura vacinal abaixo da média, como foi o caso de França, Israel, Itália e Suíça, provocou um aumento significativo nas taxas de vacinação.
“Observámos uma subida significativa na procura da vacinação cerca de 20 dias antes de entrarem em vigor novas restrições, antecipando a introdução do certificado, que durou até 40 dias depois”, explicou Melinda Mills.
“Para avaliar o impacto desta medida, é crucial levar em conta o contexto local de aceitação das vacinas, a hesitação em relação às vacinas, o nível de confiança nas autoridades e a trajetória da pandemia“, acrescenta.
As pessoas abaixo dos 30 anos foram quem mais contribuiu para o aumento da procura da vacina após a introdução do certificado digital de covid-19.
Na Suíça, quando a apresentação do certificado passou a ser uma condição obrigatória para frequentar discotecas e grandes eventos, como concertos, foi o grupo etário de menores de 20 anos que mais procurou a vacina, refere o estudo.
Já quando o certificado de vacinação passou a ser necessário para hotéis e outros espaços de lazer, foram as pessoas entre os 20 e os 49 anos que mais aumentaram a procura de vacinas.
Estes dados permitiram aos investigadores considerar o certificado uma ferramenta útil para encorajar a vacinação em determinados grupos socioeconómicos, embora existam outros fatores ainda por investigar, como o estatuto social ou a etnia.
“Sabemos que alguns grupos se vacinam mais do que outros, e pode ser que os certificados covid-19 sejam uma forma útil de encorajar os mais complacentes, como os jovens e os homens, a vacinarem-se”, frisa Tobias Rüttenauer.
O contexto dos países em estudo é, de facto, determinante. A prova disso é que nos países onde a taxa de vacinação já era elevada, como é o caso da Alemanha, a introdução do certificado não provocou um aumento na procura das vacinas.
O mesmo verificou-se na Dinamarca, onde o certificado foi introduzido num momento em que o fornecimento de vacinas era limitado.
O objetivo principal das autoridades dinamarquesas foi incentivar a realização regular de testes, antes de as pessoas frequentarem espetáculos e grandes espaços públicos, explicam os investigadores.
“Os certificados digitais não são, só por si, uma bala de prata que faz aumentar a vacinação contra a covid-19″, realça Tobias Rüttenauer. “Devem ser usados em conjunto com outras políticas“.
“Pode-se lidar de forma mais eficaz com a hesitação em vacinar-se devido à falta de confiança nas autoridades, que é comum em algumas minorias étnicas e grupos de estatuto socioeconómico mais baixo, com outras intervenções“, acrescenta.
Os exemplos dados pelo investigador são “campanhas dirigidas a estas comunidades e diálogo para gerar maior compreensão sobre o que são as vacinas da covid-19″.
A Comissão Europeia fez um balanço no fim de novembro, que concluiu que a União Europeia já tinha emitido mais de 650 milhões de certificados digitais.
Isto fez com que vários países alargassem o âmbito da sua utilização para além das fronteiras e os tornassem necessários também no acesso a determinados espaços, como restaurantes, bares, museus, teatros, salas de concerto, entre outros.
Embora este alargamento tenha sido realizado com o objetivo de aumentar a taxa de vacinação, nem sempre surtiu o efeito desejado, talvez pelas razões explicadas no estudo da Universidade de Oxford.
Coronavírus / Covid-19
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