No seu habitual espaço de comentário na SIC, este domingo, Luís Marques Mendes falou sobre o Orçamento do Estado para 2022 (OE2022), a libertação de Armando Vara e a candidatura de Paulo Rangel à liderança do PSD.
Embora considere o OE2022 “habilidoso”, Luís Marques Mendes argumenta que não é “competente nem com visão de futuro”. O comentador político diz que vende-se bem na opinião pública — para a classe média, pensionistas, jovens e SNS — mas “é tudo poucochinho” e “não ataca qualquer problema de fundo da nossa economia, do crescimento económico, da produtividade, da competitividade”.
Marques Mendes aponta uma dualidade em relação a alguns aspetos do Orçamento. Por um lado, a redução do défice e da dívida é positiva, por outro, o crescimento da despesa pública é assustador; apesar de o desagravamento fiscal do IRS ser positivo, é mais simbólico do que real; o apoio às pensões mais baixas é bem-vindo, mas é bastante redutor; e embora o orçamento seja generoso para o SNS, desconhece-se as melhorias efetivas.
O conselheiro de Estado fala também de um “pecado capital”, sublinhando que este é mais um OE “virado apenas para a distribuição de riqueza” e não é um OE “preocupado com a criação de riqueza”.
“Este é o ADN da geringonça: são bons a distribuir rendimentos, não são eficazes a criar riqueza. É assim que vamos empobrecendo”, atirou.
Se não havia um risco sério de o OE chumbar, Marques Mendes garante que “passou a haver”.
“Numa semana diabólica, tudo acelerou. Hoje o risco é maior: 60% de hipóteses de o OE ser viabilizado; 40% de hipóteses de chumbo. É real. Daqui a uma semana veremos se a situação melhora ou piora. Depende das negociações que vão ocorrer”, explicou na noite deste domingo.
Luís Marques Mendes realça que nem BE nem PCP querem uma crise política, mas estão a passar a batata quente entre si para ver quem a evita. “Como não se falam, este jogo de sombras pode dar asneira”, disse o ex-ministro.
Sobre um cenário de chumbo e crise política, assevera Marques Mendes “era suicídio” para comunistas e bloquistas.
O que contribuiu para este cenário foi, segundo Marques Mendes, o endurecimento da posição do PCP, visível no seu “discurso mais radical”. Isto porque “o setor autárquico, que sempre foi o mais favorável à geringonça, perdeu a força dentro do PCP”.
A oscilação do Governo, entre querer e não querer eleições antecipadas, também contribuiu para esta conjuntura, acrescentou.
As maiores consequências de uma crise política seriam: acrescentar mais uma crise à crise económica e social; adiar a recuperação; prejudicar a utilização de fundos comunitários; e um péssimo sinal para os investidores.
“Numa palavra: se houver racionalidade não há crise”, acredita Marques Mendes, embora considere que o risco de irracionalidade “passou a ser maior”.
Luís Marques Mendes disse também que a libertação de Armando Vara antes do prazo normal “é uma vergonha para a política e a justiça”. Se a decisão de libertar presos por razões de saúde pública durante o pico da pandemia foi uma “decisão compreensível”, a libertação de Vara nem tanto.
“À pala” desta lei excecional estão a ser libertados presos que não deviam ser libertados, sublinhou o comentador político, que atribui a culpa ao Governo e aos partidos. “Governo e deputados não fizeram o que deviam ter feito. Uma vergonha para a justiça, por causa dos políticos”, disse.
Quanto à formalização da candidatura de Paulo Rangel à liderança do PSD, Marques Mendes considera que o eurodeputado tem três vantagens políticas muito fortes.
A primeira é a unidade do partido, já que Rangel nunca foi um crítico de Rio, podendo trazer unidade ao partido e agregar apoiantes de Montenegro, Pinto Luz e Rio.
A qualidade do seu pensamento político, “sólido e estruturado”, é também uma mais-valia, reforçou Marques Mendes.
A terceira vantagem é a sua “forma de fazer oposição”, que o antigo ministro considera que é mais eficaz. “É assertivo e acutilante. Causa mesmo urticária no Governo e no primeiro-ministro”, argumentou.
O advogado pequenino que jurava a pés juntos – nesse mesmo espaço onde faz de comentador – que o BES era seguro, a falar de competência e visão do futuro…
Lindo!…