Segundo um responsável do Centro Médico da Universidade de Leiden, nos Países Baixos, milhões de doses de vacina em todo o mundo estão próximo de perder a validade – uma “tragédia evitável” que resulta de uma “atitude elitista e decadente”.
Há milhões de doses de vacina em todo o mundo quase a perder a validade, denuncia o epidemiologista holandês Dennis Mook-Kanamori em declarações ao Washington Post.
De acordo com o médico, até recentemente responsável pela vacinação no Centro Médico da Universidade de Leiden, nos Países Baixos, há dezenas de pequenas caixas brancas guardadas numa câmara de refrigeração, em instalações governamentais localizadas na cidade universitária holandesa.
Mas, diz Dennis Mook-Kanamori, a maior parte destas caixas brancas, que contêm doses de vacina contra a covid-19 da AstraZeneca no valor de milhares de euros, está marcada com seis pequenos números que, brevemente, as tornarão inúteis: 08.2021.
O mês passado, Mook-Kanamori e a sua equipa deitaram fora 600 doses destas vacinas. No fim deste mês, serão inutilizadas mais oito mil doses. E, se nada mudar, diz ao Post o médico holandês, todas as restantes 10 mil doses guardadas na câmara refrigeradora de Leiden serão também deitadas ao lixo.
Segundo estimativas dos médicos holandeses, poderá haver nos Países Baixos cerca de 200 mil doses de AstraZeneca com destino semelhante.
A situação holandesa está a acontecer em inúmeras instalações de refrigeração em todo o mundo: milhões de doses de vacinas contra o novo coronavírus, desenvolvidas em tempo recorde para combater a epidemia de covid-19, caminham silenciosamente para o fim da sua data de validade — que será atingida antes que possam ser usadas.
Segundo Mook-Kanamori, esta é uma situação trágica, que poderia ser evitada, mas o governo holandês prepara-se para deixar as vacinas expirar em vez de optar pela sua exportação para outros países, alegando “razões legais e logísticas”.
Uma “atitude elitista e decadente“, considera o médico holandês.
Enquanto na maior parte das nações desenvolvidas, como os Países Baixos, a procura de vacinas desacelera e há doses armazenadas a ganhar pó e perder validade, há uma notória escassez de vacinas nos países mais vulneráveis, nomeadamente em África e na Ásia.
Segundo números da Organização Mundial de Saúde, no continente africano, o mês passado, apenas 2,2% da população tinha recebido pelo menos uma dose de vacina — enquanto mais de metade da população holandesa está já vacinada.
Entretanto, em Israel, 80 mil doses de Pfizer-BioNTech expiraram e julho e foram deitadas ao lixo. Na Polónia, 73 mil doses de vacina de diversos fabricantes foram desperdiçadas, e 160 mil doses de Sputnik V “com data de validade desconhecida” foram devolvidas pela Eslováquia à Rússia.
Nos Estados Unidos, a situação é semelhante, numa escala diferente. A Carolina do Norte, por exemplo, tem nada menos que 800 mil doses de vacina a expirar brevemente.
Em Portugal, a escala é outra e os números são diferentes. Segundo Gouveia e Melo, coordenador da ‘task-force’ da vacinação, foram até agora perdidas cerca de 20 mil doses de vacinas em 13 milhões administradas — 0,15% do total de doses.
Em declarações à TSF, Gouveia e Melo adiantou esta sexta-feira que há em Portugal cerca de 500 mil doses de vacina a expirar em outubro. Mas “não há qualquer risco de serem desperdiçadas: se não forem usadas, são doadas“, garantiu o coordenador da ‘task-force’ da vacinação.
Neste momento, com 63,84% da população completamente vacinada, Portugal é o 19º país do mundo com maior taxa de doses administradas por 100 habitantes.
Tanta falta e tanto desperdício e talvez tanta irresponsabilidade!