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Poeta birmanês terá morrido após ser torturado por militares. Aung San Suu Kyi comparece em tribunal

STR / AFP

O poeta birmanês Khet Thi, conhecido pelo trabalho que incita à resistência contra a Junta Militar, morreu este fim de semana, enquanto estava detido. O seu corpo foi devolvido com os órgãos removidos.

Segundo a esposa de Khet Thi, citada pelo jornal britânico The Guardian, os dois foram levados para interrogatório no sábado por soldados armados e policiais na cidade central de Shwebo, na região de Sagaing – um centro de resistência ao golpe no qual a líder eleita Aung San Suu Kyi foi deposta.

“Fui interrogada. Ele também. Disseram que ele estava no centro de interrogatório. Mas ele não voltou, apenas o seu corpo”, disse Chaw Su. “Ligaram-me de manhã e disseram-me para encontrá-lo no hospital em Monywa. Pensei que fosse só um braço partido ou algo assim… Mas quando cheguei aqui, estava no necrotério e os seus órgãos internos tinham sido retirados”.

No hospital, a mulher foi informada que o poeta tinha um problema cardíaco, mas não se preocupou em ler o atestado de óbito porque tinha certeza de que não seria verdade, disse Chaw Su.

Chaw Su disse que o exército planeou enterrá-lo, mas que ela implorou-lhes pelo corpo.

“Ele morreu no hospital depois de ser torturado no centro de interrogatório”, disse o grupo ativista da Associação de Assistência a Prisioneiros Políticos num boletim que estima o número de civis mortos desde o golpe em 780.

Khet Thi foi pelo menos o terceiro poeta a morrer durante os protestos desde o golpe de 1 de fevereiro. O poeta K Za Win, de 39 anos, foi morto a tiro durante um protesto em Monywa no início de março.

Figuras culturais e celebridades têm apoiado proeminentemente a oposição ao golpe, com protestos diários em diferentes partes do país do sudeste asiático, apesar dos assassinatos e milhares de prisões.

Aung San Suu Kyi comparece em tribunal no dia 24

A antiga líder birmanesa Aung San Suu Kyi, acusada de vários crimes, comparecerá pela primeira vez pessoalmente diante de um juiz em 24 de maio, anunciou esta segunda-feira a justiça birmanesa.

Durante a audiência, o juiz destacou que o Supremo Tribunal de Myanmar decidiu que as intervenções não podem ser realizadas por videoconferência, como tem sido feito até agora, declarou Khin Maung Zaw, um dos advogados da líder birmanesa, à agência de notícia EFE.

A audiência será realizada num tribunal especial que será instalado próximo da residência oficial de Suu Kyi, na capital de Myanmar, Naypyidaw, onde a líder está em prisão domiciliária desde que os militares assumiram o poder.

O Presidente deposto, Win Myint, e o ex-presidente do Conselho de Naypyidaw, Myo Aung, também detidos pela junta militar, comparecerão presencialmente no mesmo dia no tribunal.

Segundo o advogado, os três compareceram esta segunda-feira, aparentemente de boa saúde, em videoconferência durante a audiência no tribunal. Suu Kyi voltou a pedir para se encontrar com os seus advogados, o que não tem podido fazer desde que foi detida.

Os polícias presentes na sala indicaram que ainda não receberam instruções dos seus superiores, mas o advogado garantiu que a reunião acontecerá no dia anterior à audiência presencial.

Suu Kyi, de 75 anos, enfrenta cinco acusações no tribunal de Naypyidaw, incluindo a suposta importação ilegal de dispositivos eletrónicos e a violação das normas impostas devido à covid-19. É ainda acusada de causar o alarme e incitar crimes contra o Estado e a ordem pública.

Além disso, a ex-líder foi formalmente acusada num tribunal de Rangum de violar a Lei de Segredos Oficiais, a acusação mais grave, que acarreta uma pena máxima de 14 anos de prisão.

As acusações foram fortemente rejeitadas pelos advogados de Suu Kyi, que passou um total de 15 anos em prisão domiciliária durante a junta militar anterior.

A líder deposta também foi acusada de corrupção, mas as acusações ainda não foram levadas a tribunal.

O processo contra Suu Kyi e outros membros do Governo eleito está a decorrer enquanto nas ruas se multiplicam os protestos e um movimento de desobediência civil que foram violentamente reprimidos pelas forças de segurança, que causaram pelo menos 780 mortes e detiveram mais de 3.800 pessoas.

O exército birmanês justifica o golpe com uma alegada fraude eleitoral nas eleições de novembro passado, nas quais o partido de Suu Kyi foi o vencedor, como aconteceu em 2015, e que foram consideradas legítimas por observadores internacionais.

Maria Campos, ZAP // Lusa

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