Bolsonaro quis alterar bula da cloroquina para incluir covid-19

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Joédson Alves / EPA

O Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro

O Presidente brasileiro queria que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) alterasse a bula da cloroquina para que o medicamento fosse indicado no tratamento da covid-19.

Esta foi uma das revelações feitas pelo ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado brasileiro, que teve início esta terça-feira e que investiga alegadas omissões do Executivo na gestão da pandemia.

“Eu estive dentro do Palácio do Planalto quando fui informado, após uma reunião, que era para eu subir para o terceiro andar porque tinha lá uma reunião com vários ministros e médicos que iam propor este ‘negócio’ da cloroquina, que eu nunca tinha conhecido”, afirmou o antigo governante, citado pelo portal brasileiro G1.

“Nesse dia, havia sobre a mesa, por exemplo, um papel não timbrado de um decreto presidencial para que fosse sugerido daquela reunião que se mudasse a bula da cloroquina na Anvisa, colocando na bula a indicação da cloroquina para o coronavírus. E foi inclusive o próprio presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, que disse que não”, acrescentou.

No seu depoimento, o ex-ministro disse ainda que o chefe de Estado defendia o uso da cloroquina para o tratamento precoce da covid-19, mesmo sem evidências científicas e sabendo que não era recomendado pelo Ministério da Saúde.

“Lembro-me de o Presidente sempre questionar a questão ligada à cloroquina como a válvula de tratamento precoce, embora sem evidência científica. Lembro-me de também ter dito algumas vezes que iria adotar o chamado confinamento vertical, que era também uma coisa que nós não recomendávamos”, afirmou.

Recorde-se que vários estudos científicos têm demonstrado que a cloroquina, fármaco usado para tratar doenças como malária, é ineficaz contra o novo coronavírus.

Mandetta revelou ainda que era “constrangedor” explicar as divergências com o Presidente sobre medidas de isolamento social e considerou que, “provavelmente”, este se aconselhava sobre a gestão da pandemia com fontes de fora do Ministério da Saúde.

O antigo governante disse também que Bolsonaro duvidou da estimativa de mortes apresentada, ainda no início da pandemia, que dava conta de 180 mil mortos até dezembro de 2020 se o Governo não adotasse medidas firmes.

Acho que ficou ali dúvida, porque havia ex-secretários de saúde, parlamentares, que diziam publicamente: ‘Olha, esta doença não vai causar dois mil mortos, esta doença vai durar entre quatro a seis semanas'”, afirmou.

“Havia uma construção também de pessoas que diziam absolutamente o contrário. Acho que, naquele momento, o Presidente entendeu que aquelas outras previsões poderiam ser mais apropriadas para aquele momento”, acrescentou.

O Brasil voltou, esta terça-feira, a aproximar-se das três mil mortes diárias (2966) devido à covid-19, chegando a um total de 411.588 óbitos desde o início da pandemia.

Em relação às infeções, o país somou 77.359 casos nas últimas 24 horas, elevando o total para 14.856.888 diagnósticos, de acordo com o último boletim epidemiológico difundido pelo Ministério da Saúde.

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