O gelo está a derreter nos Alpes italianos, em especial na região da Lombardia e de Trentino Alto-Aldige, deixando a descoberto relíquias da “Guerra Branca”, ocorrida durante a I Guerra Mundial.
Quartéis de madeira numa caverna no topo do Monte Scorluzzo, a 3095 metros de altitude, foram a “casa”, durante três anos e meio, de cerca de 20 soldados do exército austro-húngaro, que lutaram com as tropas italianas na chamada “Guerra Branca”, durante a I Guerra Mundial.
Segundo o jornal The Guardian, este conflito foi travado sobretudo na região da Lombardia de Trentino Alto-Aldige, nos Alpes italianos, tendo sido um período da História europeia que ficou congelado até aos anos 90, altura em que o aquecimento global começou a revelar uma série de relíquias, entre armas, trenós, cartas e diários.
Apesar de a existência destes quartéis já ser conhecida há bastante tempo, só no ano de 2015 é que o gelo derreteu completamente, o que permitiu o acesso dos investigadores ao local.
Quando a guerra terminou, em novembro de 1918, este abrigo foi trancado à pressa, o que obrigou os soldados a deixar para trás a maioria dos seus pertences. No seu interior, os investigadores encontraram camas de palha, peças de roupa, lanternas, jornais, postais, moedas, comida enlatada e ossos de animais.
A caverna foi escavada e todos os artefactos foram recolhidos para serem exibidos num museu que será inaugurado na cidade de Bormio, na Lombardia, em 2022.
Além das mortes em combate, muitos homens terão morrido devido a avalanches, abatimento de montanhas ou mesmo por hipotermia. Durante a última década, dezenas de cadáveres, ainda com os uniformes, começaram a emergir do gelo e a ser descobertos.
“É encontrado um cadáver a cada dois ou três anos, geralmente em lugares onde havia combates”, explica Marco Ghizzoni, membro da equipa do museu da Guerra Branca e que ajudou o quartel no Monte Scorluzzo.
“Este quartel é uma cápsula do tempo da Guerra Branca que nos ajuda a entender as condições extremas de fome que os soldados experienciaram”, explica ao diário britânico Stefano Morosini, historiador e coordenador de projetos de património do Parque Nacional Stelvio.
O investigador reconhece, porém, que “o conhecimento que podemos adquirir destas relíquias é uma consequência positiva do efeito negativo das alterações climáticas“.