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Em plena crise política, o país mais pobre das Américas ainda não recebeu nenhuma vacina

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Alejandro Ernesto / EPA

Numa altura em que a maior parte dos países já têm o processo de vacinação a decorrer, o governo do Haiti ainda não garantiu uma única dose da vacina contra o coronavírus.

O país mais pobre das Américas, o Haiti, é elegível para receber vacinas gratuitas da iniciativa COVAX, um programa apoiado pela Organização Mundial da Saúde para fornecer vacinas para os países mais pobres.

Contudo, o governo demorou demasiado tempo a cumprir algumas das etapas legais e burocráticas que a COVAX exige, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), colocando assim em dúvida em que altura o país irá receber a primeira remessa das 756 mil doses da vacina AstraZeneca, que eram esperadas até ao final de maio.

Ainda assim, a COVAX planeia entregar doses suficientes para vacinar 20% dos 11,3 milhões de haitianos até o final deste ano, referiu Tristan Rousset, porta-voz da OPAS em Porto Príncipe.

O Haiti é um dos 10 países da América Latina que vai receber as vacinas COVAX gratuitamente, mas neste momento está um passo atrás, uma vez que os outros nove já receberam as doses iniciais, de acordo com a OPAS.

Segundo a VICE, para receber as vacinas, os países devem apresentar planos detalhados de vacinação para mostrar que são capazes de as começar a distribuir de forma eficaz, porém a conjuntura política e social do Haiti não tem facilitado este processo.

A pandemia de covid-19 está a atingir o país, ao mesmo tempo em que vão acontecendo vários protestos contra o presidente Jovenel Moïse.

Depois de novas manifestações ao longo da semana, o primeiro-ministro Joseph Jouthe renunciou, sem dar justificações, após apenas um ano em funções. Jouthe é o quinto primeiro-ministro a renunciar durante a administração de Moïse.

Perante a agitação política, as eleições prometidas podem atrasar a implementação de um plano de vacinação ainda em 2021. Além disso, há ainda o problema do Haiti ser particularmente vulnerável à temporada de furacões, que começa no dia 1 de junho, e que também pode prejudicar a distribuição da vacina.

Quase 80% da população do país vive com menos de 5,50 dólares por dia, de acordo com o Banco Mundial. A representante das Nações Unidas no Haiti, Helen Meagher La Lime, alertou em fevereiro que cerca de 4,4 milhões de pessoas irão precisar de ajuda humanitária ainda este ano, à medida que a insegurança alimentar aumenta.

Relativamente à pandemia, o Haiti registou cerca de 12.855 casos de covid-19 e apenas 251 mortes, de acordo com dados do Centro de Pesquisa Coronavírus da Universidade Johns Hopkins. No entanto, é de frisar que, com o fraco sistema de saúde do país, é difícil avaliar até que ponto estes números correspondem à realidade.

Grande parte da população também se carateriza por ser cética em relação à doença, e rejeitam que o novo coronavírus seja tão perigoso quanto as autoridades afirmam ser, informou a AP.

Após um ano de pandemia, o governo está a fazer muito pouco para interromper as atividades que poderiam acalmar a transmissão do vírus.

Um exemplo disso é o facto de, em fevereiro, o Haiti ter dado início a uma celebração de carnaval com a duração de três dias na cidade costeira de Port-de-Paix.

Ana Isabel Moura, ZAP //

1 Comment

  1. Burocracia e pobreza juntos, a composição apropriada para que nada corra bem, quanto mais dificuldades alguém ou país tem, mais lhe caem encima para lhe dificultar a vida!

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