A solidão tornou-se um tema recorrente devido à pandemia de covid-19. Na Coreia do Sul, existe um movimento chamado “honjok”, que promove um estilo de vida solitário.
O isolamento imposto pela pandemia de covid-19 está a provocar uma autêntica “epidemia da solidão”, mas estar só não é necessariamente mau. Francie Healey, uma psicoterapeuta norte-americana, começou a estudar o fenómeno “honjok” um ano antes de o vírus invisível ter virado o mundo ao contrário.
“Honjok” (“tribos de um só”) é um movimento sul-coreano que nasceu da contracultura. A BBC explica que muitos jovens, especialmente mulheres, decidiram criar a sua própria “tribo”, rejeitando os valores coletivistas da sociedade e abraçando o individualismo emergente para formar “famílias” de uma pessoa só.
Foi assim que surgiu o “honjok”, “um convite ao desfrutar da solidão e à reflexão sobre quem realmente somos, para além das normas sociais e culturais estabelecidas”, explicou a psicoterapeuta, autora do livro Honjok: The Art of Living Alone.
Em entrevista à emissora britânica, a especialista explicou que viver sozinho é uma arte, como indica o título do seu livro. Quando se escolhe a solidão, não se está a escolher necessariamente algo negativo – pode até tornar-se um prazer, defendeu.
Esta filosofia de vida começou nas pessoas que tomaram “a decisão consciente de viver sozinhas e de passar o tempo a desfrutar de atividades solitárias”. “Eles são, digamos, solitários de sucesso.”
Em 2017, o movimento, liderado por jovens sul-coreanos, deu o primeiro passo com a disseminação da hasghtag #honjok, usada para definir um estilo de vida que desafia as pressões sociais historicamente estabelecidas e as normas que os levam a casar e a constituir família.
“Estas normas sociais determinam que os homens tenham empregos bem-sucedidos em empresas de prestígio que lhes permitam sustentar uma família; e que as mulheres priorizem a família, mesmo que tenham um alto nível de formação académica ou uma carreira”, explicou Healey.
Em resposta à frustração que estas pressões sociais e culturais causavam nos jovens sul-coreanos, nasceu o “honjok”. O princípio deste estilo de vida, em que os jovens escolhem viver sozinhos e encontram assim a liberdade, é priorizar o mundo interior, transformando a solidão num espaço seguro para quem decide viver desta forma.
O isolamento social, imposto pela pandemia, traduziu-se num aumento dos transtornos depressivos, ansiedade e outras doenças relacionadas com a saúde mental. Mas, de acordo com a autora, sentir-se sozinho não é o mesmo que estar sozinho.
Para uns, “estar sozinho é uma oportunidade para refletir”, enquanto que para os outros “estar sozinho equivale a não ser digno de companhia”.
Segundo Francie Healey, “estar sozinho é uma escolha; a solidão, não“.