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Mesmo sem pandemia, abstenção deveria chegar aos 75%. Especialistas não concordam com adiamento

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Nuno Fox / Lusa

Em ano de pandemia, já se esperava que os níveis e abstenção atingissem níveis históricos. Porém, vários especialistas sublinham que mesmo sem a presença da doença em Portugal, muitos eleitores não iriam dirigir-se às mesas de voto no dia 24 de janeiro.

“Com covid ou sem covid, estas eleições iriam ter um nível absolutamente histórico de abstenção”, garante Carlos Jalali, professor de Ciência Política da Universidade de Aveiro, ao jornal Público.

O especialista fez contas à evolução da abstenção em eleições presidenciais, contando ainda com o efeito do recenseamento automático dos residentes no estrangeiro e chegou a um número alarmante, prevendo uma abstenção de pelos menos 75% nas presidenciais de 24 de Janeiro.

Carlos Jalali justifica as conclusões apresentando como primeiro fator determinante o aumento do nível de abstenção de eleição para eleição.

O segundo fator é que se trata de uma eleição em que o Presidente se recandidata, por isso “há um efeito iô-iô entre estas eleições e aquelas onde ninguém ocupa o cargo”, diz Jalali. Há o peso da variação, que são 15,8 pontos percentuais de diferença entre um caso e o outro. Assim sendo, se lhe somarmos a taxa de abstenção nas últimas presidenciais – 51,2% -, chega-se aos 67% de abstenção previsível.

Contudo, há ainda mais um terceiro fator que se prende com o efeito do recenseamento automático dos residentes no estrangeiro que acrescentou mais 1,1 milhões de eleitores aos cadernos eleitorais.

Além destes fatores, este ano também a pandemia poderá agravar os números, mesmo com muitas medidas de última hora, como o alargamento do voto antecipado ou a ida de mesas eleitorais aos lares. Porém, “será sempre um álibi” para a abstenção, diz Jalali, colocando em causa que a covid-19 reduza a participação eleitoral.

Por todas estas razões isto, o professor de ciência política defende que não vale a pena adiar as eleições, pois “mesmo adiando, a abstenção seria historicamente alta e não se resolviam os fatores estruturais”.

Também António Costa Pinto e André Freire concordam que não faz sentido adiar as eleições, até porque “já foi dado o tiro de partida” da campanha, como diz Costa Pinto, referindo-se aos debates já realizados.

O investigador-coordenador no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa também está preocupado com o nível da abstenção, mas considera que o adiamento “não ia alterar o fundamental da questão”.

No entanto, Freire considera que o dia da eleição pode também ser vivido como “um dia de exceção”, em que as pessoas vão “votar e passear” no meio do confinamento, sem aglomerações.

“Os candidatos com o eleitorado mais velho podem ser prejudicados”, como é o caso do PCP, que apoia o candidato João Ferreira, refere o professor, acrescentando que “os grupos mais ativistas podem ser valorizados”.

Votação antecipada para eleitores no estrangeiro

A votação antecipada decorre até quinta-feira, 14 de janeiro, de acordo com informação divulgada pelo Ministério da Administração Interna (MAI).

Poderão votar antecipadamente os eleitores portugueses inscritos nos cadernos eleitorais em território nacional e que se encontrem deslocados no estrangeiro em exercício de funções, em representação oficial de seleção nacional, enquanto estudante, investigador, docente e bolseiro de investigação, doentes em tratamento ou pessoas que vivam ou acompanhem qualquer um destes eleitores.

Para votar, entre 12 e 14 de janeiro, os eleitores devem apresentar-se nas representações diplomáticas, consulados ou nas delegações externas das instituições públicas portuguesas definidas pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros.

Os eleitores devem apresentar um documento de identificação, que pode ser o cartão de cidadão, bilhete de identidade ou outro documento, como carta de condução ou o passaporte.

Os votos recolhidos no estrangeiro serão posteriormente enviados para a junta de freguesia onde o eleitor se encontra inscrito.

Ana Moura, ZAP //

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1 Comment

  1. A maioria dos que votam na comunagem já bateram a cassulêta. O covid19 veio acabar com o resto. Esse grupelho, que só num país atrasado como Portugal ainda existe na A. R., já devia ter desaparecido há muito.

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