No dia 20 de dezembro, a prenda de Natal que João Paulo recebeu foi… jogar. Pela primeira vez em 10 anos, conseguiu jogar andebol. Problemas cardíacos afastaram este jovem das competições oficiais. Até que uma consulta há três meses e os resultados surpreendentes dos exames mudaram o seu rumo. Estreou-se pela sua equipa de sempre, AC Vermoim, num jogo com o Xico Andebol B, na terceira divisão nacional de andebol.
ZAP – O AC Vermoim escreveu que, ao jogares andebol pela primeira vez aos 19 anos, cumpriste “o sonho de uma vida”. Um sonho adiado durante uma década. Porquê?
João Paulo – Nasci com problemas de coração, tetralogia de Fallot. Fui operado aos dois e aos cinco anos. Sempre quis praticar desporto, mas não tinha autorização dos médicos. Podia haver implicações fortes no coração. Até que, na escola primária, surgiu o AC Vermoim, que me fez acreditar que podia praticar desporto. Entrei para o escalão minis e, até aos infantis, consegui jogar. Mas, após os exames médicos obrigatórios no escalão infantis, não tive autorização para jogar. Apesar dos resultados, que mostravam que podia continuar a praticar desporto, a verdade é que em desporto de alta competição eu não podia jogar, era um risco para o coração. O clube nunca desistiu e permitiu que eu continuasse a treinar. Ao longo destes 10 anos, tentámos mais duas vezes que eu voltasse a jogar, mas ouvi sempre a resposta “não”. Apesar dos bons resultados que eu tinha nos exames, continuava a ser um risco. E, se me acontecesse alguma coisa, a culpa iria recair sobre o médico que me daria a autorização. Praticamente no final do ano passado, fui a uma consulta no Hospital São João; quero entrar no curso de Desporto, na faculdade, e por isso realizei novo teste. Os resultados foram surpreendentes, incríveis. O médico disse que nunca tinha visto alguém com esta doença a apresentar estes resultados. A partir daí, foi uma catadupa: informei o clube que tive autorização para praticar desporto, falámos com a federação e pude jogar.
ZAP – Tetralogia de Fallot?
João – Pelo que percebo, é uma diminuição das veias. O oxigénio que eu tinha era muito diferente do oxigénio que uma pessoa normal consegue ter.
ZAP – O médico disse que foi quase um milagre. Tiveste algum cuidado especial ao longo destes anos?
João – Não. É uma doença crónica. Não sei, os resultados apareceram. Sempre pratiquei desporto…
ZAP – Portanto, só nos últimos meses é que percebeste que podias jogar no final do ano passado.
João – Foi mesmo uma coincidência. Em outubro fui à tal consulta no São João, uma consulta de rotina; o médico percebeu o meu interesse no desporto; por causa da Covid-19 houve muitas desistências e consegui fazer novos exames logo em novembro; depois sai o resultado e foi uma sorte.
ZAP – Como te sentiste, o que pensaste, ao entrar no jogo com o Xico Andebol B?
João – Nem estava à espera de entrar. Pensei que só ia fazer parte do grupo, para me ambientar. Quando o treinador me disse que eu ia entrar, até fiquei a olhar para ele. Eu nem estava a aquecer. Entrei e foi desfrutar daqueles minutos, que foram o sonho da minha vida.
ZAP – Fisicamente e mentalmente, estás pronto para o resto da época?
João – Acredito que, agora, sim. Tenho os exames. Tenho andado a trabalhar com o grupo, que foi excecional. Não tenho sentido diferenças, não tenho tido qualquer problema e isso é muito bom.
ZAP – A época ainda agora começou mas achas que o Vermoim vai lutar pela subida?
João – Acho que temos um plantel muito bom, com muita qualidade. Podemos lutar pela subida e o clube já merece essa subida. Estamos a entrar num bom ritmo.
ZAP – E vais entrar na faculdade de desporto?
João – Estou a tirar um curso tecnológico na área da informática. Mas a minha paixão sempre foi o desporto e penso em estudar Desporto, no próximo ano letivo. É o que eu mais gostava de seguir.
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