/

“Não importa de onde vimos, mas para onde vamos”. Diogo Jota, “do nada” ao sonho tornado realidade

Diogo Jota faleceu esta quinta-feira, aos 28 anos, vítima de acidente de viação.

“Nem nos meus melhores sonhos tinha em mente o que me tem vindo a acontecer na carreira”. Diogo José era um “caso especial”.

Portugal está de luto. Diogo José Teixeira da Silva partiu sem avisar esta quinta-feira com o irmão André, de 25 anos, possivelmente, no pico da sua vida pessoal e profissional.

Diogo Jota nasceu no Porto a 4 de Dezembro de 1996 e foi criado em Gondomar, bem acompanhado pela família, que, apesar de “humilde, está bem estruturada”, garantia o antigo presidente do Paços, Carlos Barbosa, em 2016, ano em que a promessa de 20 anos seguia para o FC Porto por empréstimo do Atlético Madrid.

“Vai ser um dos melhores do mundo”, previa o dirigente à Bola Branca. E assim foi. De perfil discreto e calmo, lembram-no os colegas, preferia jogar Playstation ou ficar com a família do que ir para saídas ou jantaradas.

Assim traçou o seu caminho até um trágico acidente de carro lhe tirar a vida e a do seu irmão, dias depois de se casar com Rute Cardoso, amor de adolescência com quem namorava desde os 15 anos, quando jogava nos juniores do Gondomar.

“O Diogo já andava em Gondomar, eu vim de Jovim quando ingressei no secundário e calhámos na mesma turma. Ele era aplicado, por um lado, desinteressado, por outro. Conseguia tirar boas notas, mas sem estudar muito. Era só naqueles dois dias antes dos testes”, disse Rute, em 2016, citada pelo Correio da Manhã.

Jota e Rute já eram pais de três filhos — Dinis, de quatro anos, Duarte, de dois, e uma filha nascida em novembro.

A nível profissional, Jota tinha acabado de cumprir o sonho de ser campeão inglês. O último jogo que jogou foi ao serviço de Portugal, que lhe valeu a conquista da Liga das Nações.

Era “caso especial” no Paços, já dizia um orgulhoso Paulo Fonseca em 2016 sobre o (na altura) adolescente.

“Acho que o Jota não precisa dos meus conselhos. Que seja igual a ele próprio. É um trabalhador, um grande profissional e um miúdo muito humilde, só tem que continuar a ser dessa forma”, disse aquele que seria mais tarde treinador do FC Porto.

“Começou do nada”, lembrava Jorge Jesus entre rasgados elogios ao português, há 4 anos.

Jota faria história numa época de dragão ao peito: tornou-se o mais jovem português a marcar pelos azuis e brancos na Liga dos Campeões e também o português mais novo do clube a marcar no Clássico desde Futre.

Mas a história do pequeno Diogo começa no quintal da avó, a jogar à bola e a partir os vasos com ela, disse o pai, Joaquim, em 2020.

Aos 7 anos, o menino que só queria bola foi jogar para o Gondomar. Por lá ficou até aos 16. Foi nessa altura que a alcunha “Jota” o começou a distinguir dos outros “Diogos”, recordou o pai na entrevista ao Mais Futebol. Era médio-ofensivo, mas já tinha o faro de golo.

O pai recorda com orgulho o espírito poupado do filho, que nunca pediu chuteiras de marca nem outros luxos aos pais que passavam dificuldades económicas. Na altura, era o humilde Jota quem publicava os seus próprios “highlights”, com os seus melhores momentos, na sua própria conta do Youtube.

A vida de Jota mudou ao serviço dos juvenis e juniores do Gondomar, que lhe valeu a transferência para o Paços de Ferreira. Estreou-se pela equipa principal com apenas 17 anos — e com golo na Taça de Portugal.

Se faria mais tarde história no Porto, também o fez em Paços de Ferreira. Antes dele, só Simão Sabrosa tinha marcado mais de 10 golos enquanto adolescente, pelo Sporting, no século passado. Desde Chalana que nenhum português tão jovem marcava tanto, lembrava o Playmaker do zerozero.

“Quando estava no Gondomar, nem nos meus melhores sonhos tinha em mente o que me tem vindo a acontecer na carreira. Está a ser tudo muito rápido. Já cheguei à Seleção Nacional sub-21 e sei que será difícil ser chamado porque há muitas opções de escolha, mas quero continuar a lutar por subir ainda mais”, dizia o avançado ao Record em 2015, altura em que o Benfica começava a mostrar interesse nos seus serviços.

O Atlético de Madrid viu os seus 14 golos e foi buscá-lo por 7 milhões de euros. Mas foi no Dragão, ao serviço de Nuno Espírito Santo — que mais tarde o veria a brilhar a partir do banco do Wolves — que jogou nessa época.

Logo no seu primeiro jogo como titular, frente ao Nacional, marcou um hat-trick. Na última jornada dessa época, despediu-se com um golo ao seu antigo clube, o Paços de Ferreira.

Em 2020, Jota deu o salto para um gigante europeu: o Liverpool.  Acabado de bisar contra a Suécia pela Seleção, dizia, nesse ano: “tenho muito orgulho em Gondomar, mas não é importante de onde vimos, mas sim para onde vamos“.

Jürgen Klopp, treinador dos ingleses na altura, já o observava há três anos. Era “um treinador fantástico e que se preocupou comigo”, dizia Jota em 2020 sobre os primeiros tempos ao serviço dos reds.

Cinco anos depois, “este é um momento em que sofro”, desabafa o técnico alemão. “Tem de haver um propósito maior, mas não consigo vê-lo. Estou destroçado pelo falecimento do Diogo e do seu irmão André. O Diogo não só era um fantástico jogador, como um grande amigo e um marido e pai amoroso e atencioso.

“Vamos sentir tanto a tua falta”, terminou o treinador.

Tomás Guimarães, ZAP //

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.