No céu do Norte, há um aglomerado de estrelas, Plêiades, que são as personagens de mitos em várias culturas e são conhecidas como “sete irmãs”. Agora, os investigadores revelam que essas lendas podem ser as histórias mais antigas do mundo.
O professor na School of Science, na Western Sydney University, Ray Norris, publicou um artigo no portal britânico The Conversation, onde explicou que, depois de estudar o movimento das estrelas, acredita que estas histórias podem remontar a 100 mil anos, numa época em que a constelação era bem diferente.
Na mitologia grega, as Plêiades eram as sete filhas do Titã Atlas, que foi forçado a segurar o céu por toda a eternidade e, portanto, não conseguia proteger as suas filhas. Para salvar as irmãs de serem violadas pelo caçador Orion, Zeus transformou-as em estrelas. A história conta que uma irmã se apaixonou por um mortal e escondeu-se – e é por isso que vemos apenas seis estrelas.
Uma história semelhante é encontrada entre grupos aborígenes em toda a Austrália. Nestas culturas, as Plêiades representam um grupo de meninas e costumam ser associadas a cerimónias e histórias sagradas de mulheres.
As Plêiades são ainda consideradas importantes como um elemento dos calendários aborígenes e da astronomia. Para vários grupos, o seu primeiro nascer ao amanhecer marca o início do inverno.
No céu, perto das Sete Irmãs está a constelação de Orion, que é frequentemente chamada de “a panela” na Austrália. Na mitologia grega, Orion é um caçador. Essa constelação também costuma ser um caçador nas culturas aborígenes – ou um grupo de jovens vigorosos.
A escritora e antropóloga Daisy Bates relatou que as pessoas na Austrália central consideravam Orion um “caçador de mulheres” – especificamente das mulheres nas Plêiades. Muitas histórias aborígenes dizem que os rapazes em Orion estão a perseguir as sete irmãs e que uma delas morreu, está escondida, é demasiado jovem ou foi raptada. Daí estarem apenas seis visíveis.
A irmã perdida
Histórias semelhantes sobre a “Plêiade perdida” são encontradas nas culturas europeia, africana, asiática, indonésia, americana nativa e australiana aborígene. Muitas culturas consideram o aglomerado como tendo sete estrelas, mas reconhecem que apenas seis são normalmente visíveis e têm uma história para explicar a “sétima estrela invisível”.
Mas porque é que as histórias dos aborígenes australianos são tão semelhantes às gregas? Os antropólogos costumavam pensar que os europeus poderiam ter trazido a história grega para a Austrália, onde foi adaptada pelo povo aborígene.
No entanto, as histórias aborígenes parecem ser muito mais antigas do que as europeias. E houve pouco contacto entre a maioria das culturas aborígenes australianas e o resto do mundo durante pelo menos 50 mil anos.
Todos os humanos modernos descendem de pessoas que viveram na África antes de iniciarem as suas longas migrações para os cantos distantes do globo há cerca de 100 mil anos. Será que essas histórias das sete irmãs são tão antigas?
Estrelas em movimento
Medições cuidadosas com o telescópio espacial Gaia e outros mostram que as estrelas das Plêiades estão a mover-se lentamente no céu. Uma estrela, Pleione, está agora tão perto da estrela Atlas que parece uma única estrela a olho nu. Porém, se retrocedermos 100 mil anos, Pleione estava mais longe de Atlas e teria sido facilmente visível a olho nu.
Assim, há 100 mil anos, a maioria das pessoas realmente veriam sete estrelas no aglomerado.
Para Ray Norris, esse movimento das estrelas pode ajudar a explicar dois quebra-cabeças: a semelhança das histórias gregas e aborígenes e o facto de tantas culturas chamarem ao aglomerado de “sete irmãs”, embora vejamos apenas seis estrelas.
Este estudo vai ser publicado num livro chamado Advancing Cultural Astronomy, editado pela Springer, no início do próximo ano. A pré-impressão está disponível aqui.
ZAP // The Conversation