//

De onde vem a criatividade? A resposta pode estar “escondida” nas cartas de Beethoven

1

Um investigador e professor de História Económica das Artes analisou as cartas de Beethoven e descobriu que a correspondência do compositor prova que a criatividade surge da miséria.

De acordo com Karol J. Borowiecki, que publicou a sua análise no The Conversation, a noção de que a criatividade artística e o estado emocional estão ligados remonta ao tempo de Aristóteles. Porém, segundo o investigador, é difícil quantificar o grau de felicidade (ou miséria) de um artista – especialmente se já tiver morrido.

Para tentar chegar a uma conclusão, Borowiecki encontrou uma forma de extrair o conteúdo emocional de correspondência escrita.

A análise revelou padrões de bem-estar emocional ao longo da vida de indivíduos criativos. Durante vários estudos acerca da forma como o agrupamento geográfico de compositores influenciou a sua criatividade, Borowiecki identificou grandes ganhos de produtividade em compositores que trabalhavam em locais como Viena, Paris e Londres no final do século XVIII até ao início do século XX.

Ao mesmo tempo, tornou-se aparente que, nessas cidades, os compositores ficavam frequentemente infelizes ou indispostos, levantando a questão: como é que os fatores emocionais influenciam a criatividade?

Para responder a essa pergunta, Borowiecki recorreu às cartas de um dos compositores mais famosos do mundo, Ludwig van Beethoven, que escreveu mais de 500 cartas ao longo da sua vida.

Usando um software de análise linguística, o investigador revelou a forma como o conteúdo emocional das cartas de Beethoven esconde as pistas para a sua genialidade e produtividade.

Durante o seu trabalho de meses, Borowiecki criou códigos, datou cuidadosamente cada carta e distinguiu os diferentes tipos de correspondentes, pois Beethoven escrevia de forma diferente para os familiares e para colegas ou associados.

O bem-estar de Beethoven durante a sua vida

Segundo o investigador, Beethoven teve várias emoções positivas e negativas que refletem os eventos que aconteceram durante a sua vida.

Por exemplo, um aumento nos sentimentos negativos durante a adolescência de Beethoven corresponde à deterioração da situação financeira da família. Como resultado, Beethoven teve de ajudar a sustentar a família, assumindo algumas das funções de ensino do pai, às quais tinha “uma aversão extraordinária”.

No entanto, a sorte de Beethoven melhorou. Mudou-se para Viena em 1792, onde teve uma grande procura pelo seu trabalho, o que lhe rendeu comissões cada vez mais prestigiosas. As emoções positivas do compositor atingiram o pico neste período.

Por volta do fim de ano de 1800, a vida do compositor mudou para sempre quando descobriu que estava a ficar surdo. Houve nessa altura um aumento temporário das emoções negativas, bem como uma drenagem das emoções positivas, que permaneceram muito baixas, mas estáveis nos 15 anos seguintes da sua vida.

Em 1809, Beethoven experimentou uma melhoria temporária no ânimo quando a sua estabilidade financeira foi garantida graças a uma generosa doação da corte de Viena.

Porém, o bom humor não durou muito. Em 1815, o irmão de Beethoven morreu após uma longa doença. Como resultado, o compositor tornou-se o guardião do seu sobrinho de nove anos, Karl, com quem tinha um relacionamento violento.

As suas emoções positivas atingiram o ponto mais baixo da sua vida, enquanto as emoções negativas aumentaram gradualmente até à sua morte em 1827.

O génio triste?

Olhando para a vida de Beethoven, o desenvolvimento emocional do compositor é particularmente marcado por muitos momentos sombrios e tristes.

Embora a sua vida possa ter sido marcada pela miséria, Beethoven parece ter canalizado com sucesso as suas emoções negativas para a sua produção musical. Segundo Borowiecki, a criatividade – medida pelo número de obras importantes – foi significativamente aumentada pelos seus humores negativos.

Por exemplo, um aumento de 9,3% nos sentimentos negativos provocados por um acontecimento como uma morte na família resultou num aumento correspondente da criatividade e na criação de mais 6,3% de trabalhos significativos no ano seguinte.

O investigador levantou ainda outra questão: existe algum tipo específico de emoção negativa que impulsiona os resultados?

Borowiecki dividiu o índice de emoções negativas em ansiedade, raiva e tristeza e descobriu que a tristeza é particularmente propícia à criatividade.

Assim, no 250.º aniversário do nascimento de Beethoven, estes resultados mostram que todas as dificuldades enfrentadas pelo compositor determinaram a sua produção prolífica e conferiram-lhe fama imortal e inesquecível.

1 Comment

  1. A extrapolação da afirmação deste investigador é absolutamente

    A verdade é que a única coisa que ele pode afirmar é que “parece” que a criatividade do Beethoven (e apenas a dele) virá da miséria (porque ele nem tem acesso a todas as variáveis que precisava, inclusivé se tudo o que Bethoveen escreveu nas cartas é verídico ou se há lá assuntos estrategicamente hiperbolizados com intuitos, por exemplo). Então nem isso é possível afirmar com segurança.

    É do mais arrogante que existe estudar a vida de um ser humano criativo e achar que todos os outros seres humanos irão funcionar igual aquele (as pessoas têm personalidades diferentes, contextos diferentes, experiências diferentes, etc). Ainda mais quando o estudo é tão incompleto que se baseia apenas na história de vida do “homem” e em cerca de 500 cartas que ele trocou durante 50 anos.

    Será que a criatividade não virá do facto dele se ter focado mais no trabalho criativo dado “querer fugir” à sua vida? Será que a criatividade não poderá vir da felicidade (e ele ser um “sociópata” que até ficou feliz com algumas desgraças que aconteceram a outros – mesmo que também o desgraçassem a ele)?

    As hipóteses são infintas e a probabilidade desta teoria se aplicar a Beethoven apenas é inferior a 1%.
    A probabilidade com estes factos de serem verdade e aplicarem-se a todos os seres humanos é inferior a 0,000.000.000 .000.001%!

    Detesto que estudiosos em busca de protagonismo façam afirmações falsas como estas e andem para aí a espalhar “mentiras”. Pior ainda é que os media lhes dão cobertura sem verificarem junto de especialistas de outras áreas se é possível uma coisa dessas.

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.