Os cidadãos da Estónia podem votar online, em qualquer lugar do mundo, desde 2005. Esta solução tecnológica protegeu os eleitores contra fraudes e outras manipulações de votação remota que causam receio a muitos eleitores norte-americanos nas eleições de 2020.
Votar online é apenas a ponta do icebergue, uma vez que a Estónia oferece vários serviços governamentais online aos seus cidadãos e é detentora do título de “república digital”. Não é por acaso: segundo o The Conversation, o país digitalizou 99% dos seus serviços públicos e atingiu uma das mais altas classificações de confiança no governo da União Europeia.
De acordo com o Governo, a digitalização dos serviços públicos economiza mais de 1.400 anos de tempo de trabalho e 2% do PIB anualmente.
A Estónia sempre teve em mente desenvolver um Estado com cidadãos tecnologicamente alfabetizados onde a governação seria sem papel, descentralizada, transparente, eficiente e equitativa. Para isso, o jovem governo pós-soviético decidiu abandonar todas as tecnologias legadas da era comunista e a estrutura ineficiente de serviço público.
O Governo decidiu então abraçar as tecnologias ocidentais. Em 1997, lançou um projeto chamado Tiigrihüpe (Tiger Leap), no qual investiu no desenvolvimento e expansão de redes de internet e conhecimento de informática. Um ano após o início da iniciativa, quase todas (97%) das escolas tinham acesso à Internet e, em 2000, a Estónia foi o primeiro país a aprovar uma legislação que declarava o acesso à Internet um direito humano básico.
Começaram a ser construídos hotspots de wi-fi gratuitos em 2001 e, atualmente, cobrem quase todas as áreas populosas do país.
O governo também entendeu que, para criar uma sociedade baseada no conhecimento, as informações precisam ser partilhadas de forma eficiente. Em 2001, a Estónia criou um sistema de armazenamento e partilha de dados, chamado X-Road, através do qual as organizações públicas e privadas podem compartilhar dados com segurança, mantendo a privacidade através de criptografia.
Em 2012, tornou-se o primeiro país a usar a tecnologia blockchain na governação. A implantação desta tecnologia não só garante a proteção contra quaisquer ataques, mas traz também muitos outros benefícios para os cidadãos.
Enquanto que na maioria dos países os cidadãos têm de preencher vários formulários diferentes com as mesmas informações pessoais (nome, morada, contacto) quando precisam de aceder a serviços públicos, os estónios só precisam de inserir as informações pessoais uma vez: o sistema blockchain permite que os dados sejam imediatamente acessíveis ao departamento em questão.
Esta mentalidade futurista pode assustar as pessoas preocupadas com a privacidade dos dados, mas, na Estónia, os cidadãos são os proprietários dos seus dados pessoais, dado que possuem uma carteira de identidade digital e aprovam que informações podem ser reutilizadas.
Além disso, os estónios sabem que os funcionários do Governo não podem aceder aos seus dados pessoais além do que é aprovado por eles mesmo. Qualquer tentativa não autorizada de acesso aos dados pessoais será identificada como inválida: na verdade, é crime que os funcionários obtenham acesso não autorizado aos dados pessoais.