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“Queriam calar-nos, não conseguiram.” Jerónimo encerra Avante! com ataques a Marcelo e recados ao Governo

António Cotrim / Lusa

O secretário-geral do Partido Comunista Português (PCP), Jerónimo de Sousa

Foram 45 minutos de discurso com fortes críticas e avisos. Jerónimo de Sousa encerrou, este domingo, a Festa do Avante! e não deixou nada por dizer.

Este domingo, Jerónimo de Sousa subiu ao palco na Quinta da Atalaia e, para 2.000 cadeiras lotadas, ergueu a voz rouca para dizer: “Queriam calar-nos, não conseguiram”.

Foi assim que o secretário-geral do Partido Comunista Português (PCP) encerrou a 44ª edição da Festa do Avante!, marcada pelas medidas de restrição motivadas pela covid-19, muita polémica e uma grande revolta por parte dos comunistas.

“Construímos e realizámos a nossa Festa, esta grande festa e este comício da solidariedade, da paz, da amizade, da democracia e do socialismo, num quadro de inusitada hostilidade dos grandes interesses económicos e das forças mais reacionárias e conservadoras, contra a qual moveram uma insidiosa campanha, utilizando os seus poderosos recursos mediáticos e de intoxicação da opinião pública para a inviabilizar”, disse, citado pelo Observador.

“Nestes três dias conseguimos resgatar o valor da vida, da vida com felicidade. Há que continuar este combate para uma vida melhor e um Portugal com futuro”, acrescentou.

Jerónimo atirou fortes críticas ao PS, PSD e CDS-PP pela resposta dada à pandemia e à defesa dos direitos dos trabalhadores. Sem mencionar nomes nem bandeiras, o comunista criticou também quem se “está a esforçar” para fazer crer que “tudo vai ficar bem” e que “os problemas que o país hoje enfrenta são essencialmente resultado da epidemia”.

“Querem mesmo fazer crer que passada esta, tudo vai ficar bem, como se estivesse antes tudo bem e o futuro do país e do seu desenvolvimento garantido”, frisou, não deixando passar em branco alguns temas que marcaram a atualidade nas últimas semanas, entre eles o Novo Banco, os impostos e a saída de empresas nacionais para “paraísos fiscais”.

António Costa foi um dos visados no discurso de encerramento, merecendo recados diretos. “Não vale a pena uns virem agitar com ameaças de crise política. O que se impõe é aproveitar todos os instrumentos para não permitir que os trabalhadores e o povo vejam a sua vida mergulhada numa crise diária”, declarou Jerónimo de Sousa.

Apesar das críticas, não fechou a porta às negociações para o Orçamento do Estado para 2021. “Não vale a pena apressarem-se a sentenciar que o PCP não conta, que está de fora das soluções de que o país precisa.”

“O PCP não faltará, como nunca faltou, a nenhuma solução que dê resposta aos problemas, não desperdiçará nenhuma oportunidade para garantir direitos e melhores condições de vida”, garantiu.

As reprimendas de Jerónimo estenderam-se ao Presidente da República. O líder comunista disse que há “um processo de rearrumação de forças posto em marcha” e inseriu nesse “esforço” Marcelo Rebelo de Sousa.

“De pouco valem declarações do PS de que não quer nada com o PSD se as opções que vier a adotar forem, mais coisa menos coisa, aquelas que o PSD adotaria, sem romper com orientações e compromissos que têm sustentado a política de direita”, afirmou.

“Tanto mais quando se continuam a registar em matérias relevantes convergências entre os dois partidos, parte de um processo de rearrumação de forças posto em marcha, e em que o atual Presidente da República se insere, para branquear o PSD visando a sua reabilitação política e a cooperação mais intensa com o PS, indispensáveis à política de direita”, acrescentou.

Por último, Jerónimo confirmou que o PCP terá um candidato próprio às eleições presidenciais, que se realizam em janeiro do próximo ano. A candidatura foi anunciada sem um nome, mas com uma promessa: assumirá “os direitos dos trabalhadores, os valores de Abril e o compromisso do projeto que a Constituição da República Portuguesa consagra”.

A 44ª edição da Festa do Avante! foi marcada por intensa polémica em torno da sua realização. Este ano, o recinto da Quinta da Atalaia tinha uma lotação de cerca de 100 mil pessoas em simultâneo, que foi reduzida para 16.563 visitantes por dia segundo as normas definidas pela Direção-Geral da Saúde (DGS).

O PCP assegurou que o número nunca foi ultrapassado. Ao Público, dirigentes comunistas adiantaram que a contabilidade das presenças, assim como as entradas vendidas, será revelada em breve.

LM, ZAP //

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