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Obama acusa Trump de transformar Presidência em “mais um reality show”

barackobama.com / Flickr

Barack Obama com Joe Biden

O ex-Presidente dos Estados Unidos acusou o atual chefe de Estado de incompetência e de ser uma ameaça para a democracia, numa das intervenções mais críticas da Convenção Democrata.

Barack Obama avisou que a democracia norte-americana está em risco se o atual Presidente vencer novamente as eleições, marcadas para 3 de novembro, acusando o seu sucessor de ser inapto para o cargo e de ignorar os valores do país.

“Esta administração demonstrou que destruirá a nossa democracia se isso for necessário para vencer”, acusou o ex-Presidente, na terceira noite da convenção democrata, num discurso filmado em Filadélfia, a cidade onde a Constituição dos Estados Unidos foi redigida e assinada.

A alocução de Obama foi uma das maiores condenações de sempre de um Presidente em exercício feita por um dos seus predecessores, tendo acusado o republicano de utilizar a Presidência para beneficiar os amigos e a família e de transformar o cargo mais alto do país em “mais um reality show que pode utilizar para obter a atenção que deseja”.

Obama pediu aos eleitores que “acreditem” na capacidade do candidato democrata à Casa Branca, Joe Biden, que foi seu vice-presidente, para “tirar o país dos tempos sombrios” do Governo de Trump.

“Biden tornou-me um Presidente melhor. Tem o caráter e a experiência para tornar o país melhor”, afirmou, num discurso transmitido na Convenção Nacional Democrata, que se realiza, pela primeira vez, de forma virtual devido à pandemia de covid-19.

Barack Obama foi uma das estrelas desta terceira noite, que contou ainda com discursos da antiga secretária de Estado, Hillary Clinton, e da líder da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi.

O ponto alto do terceiro dia da convenção foi a confirmação de Kamala Harris como candidata a vice-presidente, um momento habitualmente recebido com banhos de multidão e ovações.

Em vez disso, no final de um discurso histórico em que evocou os pais, imigrantes no país, a primeira mulher de ascendência negra e indiana a aceitar esta nomeação virou-se para os vários ecrãs de televisão por detrás do palco para agradecer os aplausos transmitidos pelos televisores, numa sala deserta.

Aceito a nomeação para candidata a vice-presidente dos Estados Unidos da América. Faço-o comprometida com os valores que ela [a mãe] me deu”, disse.

A senadora da Califórnia evocou as lições da mãe, a bióloga Shyamala Gopalan, já falecida, uma imigrante indiana que chegou aos Estados Unidos com 19 anos e que lhe incutiu uma visão do país que prometeu defender.

“Uma visão da nossa nação como uma comunidade amada, onde todos são bem-vindos, independentemente da nossa aparência, de onde vimos ou a quem amamos. Um país onde podemos não estar de acordo em relação a tudo, mas estamos unidos pela convicção fundamental de que cada ser humano tem um valor infinito, e merece compaixão, dignidade e respeito”, afirmou.

A senadora acusou o atual Presidente de mergulhar o país no caos e de ser responsável pelo grande número de mortes durante a pandemia. “O fracasso da liderança de Donald Trump custou vidas”, denunciou, defendendo que o país está também de luto pela perda de empregos, oportunidades e da normalidade.

“Nesta eleição, temos uma oportunidade de mudar o curso da História. Estamos todos juntos nesta luta”, disse.

Harris recordou ainda que a pandemia afetou de forma desproporcionada os afro-americanos, os imigrantes da América latina e os indígenas norte-americanos.

Isto não é uma coincidência. É o efeito do racismo estrutural”, denunciou, recordando que não existe “vacina contra o racismo”. “Podemos fazer melhor e merecemos muito mais. Devemos eleger um Presidente que traga algo diferente, algo melhor”, instou.

Harris também recordou o pai, um imigrante jamaicano, lembrando ainda que nasceu no Hospital Kaiser, em Oakland, em resposta a alegações de Donald Trump sobre a sua elegibilidade como vice-presidente.

Kamala Harris falou a partir de Wilmington, Delaware, onde reside Joe Biden. A senadora foi depois felicitada pessoalmente por Biden, que entrou na sala a partir da qual o discurso foi transmitido, mantendo, contudo, o distanciamento social.

No seu discurso para a convenção, a partir da sua casa em Chappaquiddick, Nova Iorque, Hillary Clinton recordou a derrota que sofreu em 2016, apesar de ter obtido mais três milhões de votos do que Trump.

Recordando um momento em que o republicano perguntou aos eleitores negros, em 2016, o que tinham a perder ao apoiá-lo, Clinton respondeu: “Agora sabemos”.

A ex-secretária de Estado parafraseou também o monólogo de Hamlet, de Shakespeare, afirmando que conhece bem “as fundas e flechas” que a candidata a vice-presidente enfrentará, como mulher negra.

Na terça-feira, o seu marido e ex-Presidente, Bill Clinton, também foi um dos convidados da convenção democrata, tendo deixado duras críticas a Trump: “Numa altura como esta, a Sala Oval devia ser um centro de comando. Em vez disso, é um centro de tempestade. Só há caos”, acusou.

Os democratas confirmaram, oficialmente, esta terça-feira, a nomeação do ex-vice-Presidente como candidato contra Donald Trump nas Presidenciais dos Estados Unidos.

A convenção democrata decorre na cidade de Milwaukee, no estado do Wisconsin, até quinta-feira, quando será feito o discurso de aceitação de Biden como candidato.

ZAP // Lusa

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