O fundo da Apax Partners que assumiu o controlo da GNB Vida depois da compra ao Novo Banco “mudou-se” para a mesma morada de empresas do multimilionário Greg Lindberg em Londres, apesar da seguradora garantir não ter relação com o magnata.
O jornal Público avança este sábado que, depois do negócio com o banco português ter sido aprovado pela Autoridade dos Seguros e Fundos de Pensões (ASF), o fundo da Apax Partners que assumiu o controlo da GNB Vida “mudou-se” para a mesma morada de empresas do multimilionário Greg Lindberg em Londres, no Reino Unido.
O mesmo jornal garante que há ligações públicas e oficiais entre os compradores da GNB Vida ao Novo Banco e Greg Lindberg, um gestor condenado por corrupção e fraude fiscal nos Estados Unidos.
Esta notícia surge dias depois de a Gama Life (antiga GNB Vida) ter assegurado não ter qualquer ligação ao magnata dos seguros.
A ASF também garantiu, na semana passada que, aquando da operação, avaliou a idoneidade dos intervenientes no negócio e “não apurou qualquer ligação” entre Lindberg e o fundo que viria a comprar a GNB Vida.
O Fundo de Resolução também garantiu que a venda da GNB Vida não foi concretizada com o referido magnata.
A seguradora foi vendida em outubro de 2016 por 123 milhões de euros, um desconto de 68,5% face ao valor contabilístico, operação que gerou uma perda de 268,2 milhões e foi compensada com verba do Fundo de Resolução.
Vendas de ativos do Novo Banco sem objeções internas
O departamento do Novo Banco que tem de acompanhar os atos de gestão não viu razões para impedir nenhuma das grandes operações de vendas de carteiras de créditos e imóveis que a instituição realizou nos últimos dois anos.
Em declarações ao semanário Expresso, o Novo Banco assegura que o departamento de compliance “nunca deu parecer negativo a nenhuma operação com estas características [vendas de carteiras de ativos]”.
Assim, foi dada luz verde internamente às transações que estão a ser analisadas pela auditoria realizada pela Deloitte e pela Procuradoria-Geral da República.
Segundo o Expresso, que cita o o relatório e contas do banco, o departamento de compliance emitiu sete pareceres sobre a conduta e conflitos de interesse sobre vendas de ativos, quer sobre crédito malparado ou sobre imóveis em 2019.
Maioria dos partidos admite inquérito parlamentar
A maioria das bancadas parlamentares admite a criação de uma comissão de inquérito aos negócios do Novo Banco mas aguarda conhecer os resultados da auditoria, enquanto o Chega já deu entrada de uma proposta que visa investigar também os financiamentos eleitorais.
A iniciativa de André Ventura, que deu quarta-feira entrada no parlamento, visa “averiguar sobre o financiamento ilícito de todas as campanhas eleitorais onde eventualmente surjam ligações ao BES/GES, bem como escrutinar e avaliar as operações de alienação de ativos desenvolvidas pelo Novo Banco e as linhas de crédito concedidas, assim como a idoneidade dos seus destinatários e contrapartes negociais”.
Contactado pela Lusa, o vice-presidente da bancada socialista João Paulo Correia afirmou que “o PS não exclui uma possível comissão de inquérito, mas só tomará alguma decisão depois de analisar o relatório da auditoria especial que chegará ao parlamento e ao Governo dentro de dias”.
O líder do maior partido da oposição, PSD, já declarou que a Assembleia da República devia escrutinar a gestão do Novo Banco.
Pelo PCP, fonte oficial disse que “não excluindo nenhuma possibilidade, o PCP não tem posição definitiva tomada sobre a matéria” e defendeu que “o que é absolutamente essencial é que a auditoria seja concluída e entregue, e os resultados conhecidos”.
O Bloco de Esquerda admite a constituição de uma comissão de inquérito mas primeiro quer conhecer a auditoria.
Contactado pela Lusa, o líder parlamentar do CDS-PP, Telmo Correia, considerou que “devem ser ouvidos o Governador do Banco de Portugal (BdP), o Ministro das Finanças e a própria administração do NB, no parlamento” e que, “em relação a comissões de inquérito, não estão excluídas”, mas a bancada democrata-cristã “não avançou com a proposta até agora”.
Para o PAN, “a gravidade dos factos sobre o NB que vão sendo conhecidos a conta-gotas poderá justificar uma comissão de inquérito, após o conhecimento da auditoria”.
O líder parlamentar de “Os Verdes” (PEV), José Luís Ferreira, assumiu que os ecologistas não vão fazer “qualquer proposta nesse sentido” (criação de CPI) e que, “relativamente a propostas de outros partidos, elas terão de ser avaliadas caso a caso e a posição do PEV dependerá dos textos e formulações concretas”.
Finalmente, a Iniciativa Liberal (IL) defende que “uma CPI não se deve substituir aos tribunais, mas sim apurar as responsabilidades políticas na negociação, aplicação e acompanhamento dos acordos celebrados pelo Estado”.
ZAP // Lusa