A ajuda dos avós na criação dos netos pode comprometer as suas poupanças para a velhice, sobretudo numa altura em que as prestações sociais estão a ser reduzidas, alerta um estudo europeu divulgado esta terça-feira em Lisboa.
O estudo “A prestação de cuidados pelos avós na Europa“, financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian, faz uma análise comparativa sobre as políticas familiares e a sua influência no papel dos avós, enquanto prestadores de cuidados infantis em vários países – Áustria, Bélgica, Dinamarca, França, Alemanha, Grécia, Itália, Holanda, Espanha, Suécia, Suíça, Portugal, Espanha Itália e Roménia.
Segundo o estudo, mais de 40% dos avós dos países europeus analisados prestam cuidados aos netos sem a presença dos pais, sendo os países do sul da Europa – Portugal, Espanha, Itália e Roménia – os que apresentam uma maior percentagem de avós a cuidarem dos netos diariamente.
“Em Portugal, Espanha, Itália e Roménia, onde as prestações sociais pagas aos pais e às mães que ficam em casa são limitadas e onde há pouca oferta de estruturas formais de acolhimento de crianças e poucas oportunidades das mães trabalharem a tempo parcial, os avós asseguram uma grande parte dos cuidados intensivos prestados aos seus netos”, sublinha.
A percentagem de avós que presta cuidados diariamente ou quase diariamente aos netos varia entre os 30%, na Roménia, os 22%, em Itália, os 14% em Portugal e os dois por cento, ou menos, nos países escandinavos e Holanda.
Os autores do estudo advertem que o papel vital dos avós, “mas invisível, na prestação de cuidados infantis, seja de forma intensiva, regular ou ocasional, pode colidir com as suas próprias capacidades de auto financiamento da velhice“, sobretudo quando “as prestações de viuvez, tanto ao nível dos regimes de pensões estatais como das entidades patronais, estão degradadas”.
“As avós mais jovens, em boa forma física, saudáveis e com netos mais pequenos as que apresentam maiores probabilidades de prestar cuidados aos seus netos são as mesmas mulheres que os Governos de toda a Europa pretendem incentivar a manter empregos remunerados durante mais tempo, de forma a aumentar a produtividade e a financiar as suas respectivas pensões, cuidados de saúde e assistência social numa fase posterior da vida”, salientam.
Em Portugal, devido às medidas de austeridade impostas pelo programa de assistência financeira, os pensionistas têm sofrido cortes nas suas pensões e muitos outros perderam o direito à prestação solidária atribuído pelo Estado (Complemento Solidário para Idosos).
Isto acontece numa altura em que o desemprego dos filhos os leva a assumir encargos financeiros da família.
O estudo adianta que, em toda a Europa, “as avós são mais pobres do que os avôs o que reflecte, em parte, o facto de as avós terem tendencialmente mais idade e de apresentarem maiores probabilidades de serem viúvas do que os avôs”.
/Lusa