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Centeno rejeita conflito de interesses. “Não conseguia emprego em Portugal nas próximas décadas”

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Stephanie Lecocq / EPA

O antigo ministro das Finanças está esta quarta-feira a ser ouvido no Parlamento, naquela que é a sua primeira grande prova de fogo no caminho que terá que percorrer até chegar ao cargo de governador de Banco de Portugal (BdP).

Depois de o nome de Mário Centeno ter sido pelo Governo para o cargo no regulador bancário, o candidato tem agora de ser ouvido no Parlamento.

A audição perante os deputados, importa frisar, não é vinculativa.

Na sua intervenção inicial, Mário Centeno começou por refutar aquela que a principal crítica que lhe tem sido apontada sobre uma eventual passagem “direta” do Ministério das Finanças para o regulador – a questão da independência perante o poder político.

“A independência não é outorgada, é conquistada na ação”, defendeu, citado pelo semanário Expresso. “A independência do BdP não se questiona nem se impõe”, sustentou, dizendo a capacidade de trabalho é uma das melhores garantias dessa independência que muitos acreditam que não terá, caso consiga chegar ao cargo.

O antigo homem forte do Governo de Costa nas Finanças quer, caso seja realmente designado para o cargo, tornar novamente o BdP uma instituição de referência, uma entidade mais interventiva que não se pode fechar numa torre de marfim.

Na prática, Centeno quer um BdP diferente daquele que foi liderado por Carlos Costa nos últimos dez anos. “Conheço bem o BdP. O BdP deve voltar a ser uma instituição de referência em Portugal e na Europa, já que congrega muitos dos melhores técnicos formados nas universidades portuguesas”.

E insistiu: “O BdP tem de se tornar sinónimo de ação para enfrentar os inúmeros desafios, mas não o deve enfrentar numa torre de marfim, mas com a sociedade”.

Já o Partido Socialista, que falou também esta quarta-feira no Parlamento pela voz do deputado Fernando Anastácio, sublinhou o “mérito” de Mário Centeno, considerando que o antigo governante tem um currículo “à prova de bala”.

“Não conseguia encontrar emprego”

Depois da sua intervenção inicial, Mário Centeno respondeu às várias perguntas que os deputados do Parlamento lhe foram colocado. A questão da independência e do eventual conflito de interesses voltaram a ser abordados, com Centeno a rejeitar as alegações.

Mário Centeno sustentou que as decisões tomadas enquanto ministro das Finanças não são um conflito de interesses para ser governador do Banco de Portugal e que pelo raciocínio do PSD não mais arranjaria emprego em Portugal.

Duarte Pacheco (PSD) voltou a reiterar que o seu partido é contra a eventual passagem de Centeno para o BdP. Duarte Pacheco disse que Centeno “desertou” de ministro das Finanças na atual crise e questionou o ex-governante sobre como vai gerir os conflitos de interesses de decidir no futuro sobre dossiês em que interveio como governante e se irá pedir escusas em matérias relativas ao Novo Banco ou à Caixa Geral de Depósitos (CGD).

Na resposta, Centeno disse que foram “cabalmente explicadas as razões” da sua saída das Finanças, afirmando que as “questões pessoais que possam ter a ver com toda a pressão de exercer 1.664 dias são fáceis de entender” e que, por isso, não houve outro ministro das Finanças tanto tempo no cargo em democracia.

Sobre os conflitos de interesse que o PSD encontra em Centeno por ter sido ministro das Finanças entre novembro de 2015 e junho deste ano, o ex-governante considerou mesmo que, seguindo esse raciocínio, não mais teria emprego em Portugal.

“Se eu usasse o seu raciocínio não conseguia encontrar emprego em Portugal nas próximas décadas”, afirmou. Em específico, sobre eventuais conflitos de interesse de vir a decidir no Banco de Portugal sobre assuntos que passaram pelas Finanças, Centeno disse que a venda do Novo Banco foi gerida pelo banco central enquanto autoridade de resolução, assim como a resolução do Banif coube ao Banco de Portugal e que na capitalização da CGD o ministério das Finanças atuou como acionista.

“Não são conflitos de interesse. Todas essas decisões foram tomadas pelos órgãos que devem tomar essas decisões”, considerou. Contudo, admitiu Centeno, eventuais escusas terão de ser tomada face a dossiês concretos.

“Quando alguém na posição de governador do Banco de Portugal enfrenta determinado dossiê, tem de ter um julgamento legal, ético, moral sobre esse dossiê e eu não fui posto perante nenhum dossiê, nem o senhor deputado explicou, só nomeou instituições. O que têm feito todos os antecessores e membros do Conselho de Administração do Banco de Portugal é, sobre situações concretas, ajuizar nessas circunstâncias”, disse.

Mário Centeno afirmou ainda que “não há nenhuma lei em nenhum país do mundo em que constitua um impedimento” passar de governante a governador do Banco de Portugal.

O percurso (e as polémicas) de Centeno

Em 25 de junho, o Governo comunicou ao presidente da Assembleia da República a proposta de nomear Mário Centeno para o cargo de governador do Banco de Portugal.

A escolha de Centeno foi polémica, pelo facto de este responsável passar quase diretamente do Ministério das Finanças (onde foi ministro até junho) para o Banco de Portugal e, em 09 de junho, foi sido mesmo aprovado no parlamento, na generalidade, um projeto do PAN que estabelecia um período de nojo de cinco anos entre o exercício de funções governativas na área das Finanças e o desempenho do cargo de governador.

Contudo, em 17 de junho a esquerda parlamentar (PCP e BE, sendo já sabido que PS era contra) demarcou-se da intenção do PAN de estabelecer esse período de nojo e, em 25 de junho, o parlamento suspendeu por quatro semanas a apreciação na especialidade do projeto do PAN até chegar o parecer pedido ao Banco Central Europeu (BCE), no mesmo dia em que o executivo comunicou oficialmente a sua escolha.

Mário Centeno nasceu no Algarve em 1966 e licenciou-se em economia no ISEG, em Lisboa (onde chegou a professor catedrático). Depois de regressar de Harvard com um doutoramento, em 2000, ingressou no Banco de Portugal, no qual foi economista, diretor-adjunto do Departamento de Estudos Económicos e consultor da administração.

Entre novembro de 2015 e junho de 2020 foi ministro das Finanças dos dois Governos PS liderados por António Costa. Foi eleito presidente do Eurogrupo, o grupo de ministros das Finanças da zona euro, e levou as contas públicas portuguesas ao primeiro saldo positivo em democracia, mais concretamente desde o ano de 1973.

Contudo, o seu percurso também foi feito de polémicas (em 2017, o caso das trocas de SMS com o gestor António Domingues, da Caixa Geral de Depósitos, o que originou uma comissão parlamentar de inquérito, e mais recentemente com o primeiro-ministro sobre a injeção de capital no Novo Banco) e a sua saída foi criticada por quadrantes políticos que o acusaram de abandonar o barco no meio da tempestade provocada pela covid-19.

Quanto ao atual governador, Carlos Costa termina esta quarta-feira (08 de julho) formalmente o segundo mandato no Banco de Portugal (onde está há 10 anos), mas irá manter-se em funções até à tomada de posse do sucessor.

ZAP // Lusa

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24 Comments

  1. Que moral tem esta classe política para falar em conflito de interesses se quando o senhor Carlos Costa num concurso para o Banco de Portugal o 1º classificado foi ultrapassado por um do PPD ou quando o Carlos Costa admitiu o filho do Barroso sem abrir concurso público, para ser sério não basta parecer tem de o ser também, tanto a Esquerda como a Direita não têm moral para criticar seja quem for, quando estão no poleiro a diferença é só na bandeira o resto e farinha que nem aos porcos eu dava.

  2. Porque os meus comentários não aparecem? Ou temos a censura no ZAP? Se não temos bem parece já vários comentários meus não aparecem.

  3. Espero não violar nenhuma das clausulas do distinto Estatuto Editorial da ZAP, com o comentário que vou fazer.
    O Centeno não tem razão na afirmação que fez. Ele não necessita de emprego, porque já o tem. É quadro do BDP e tem direito ao lugar que abandonou para ser ministro. O problema não é esse. O problema dele é um problema de carreira, quer mais tacho e mais dinheiro.
    Eu mesmo, numa situaçãoo de emergência, não importo nada de lhe dar trabalho, tenho muito cabo e linha dw média tensão para estender para estender, caixas de fim de cabo para executar, ligações domiciliárias e pts de distribuição para montar, no entanto, não me parece que o Centeno queira trabalhar, parece-me que ele quer é tacho!

    • Ó Tuga… ainda bem que vai tendo muito trabalho. Tenho pena que grande parte da economia não esteja assim. Quando ao Centeno pode sempre contratá-lo para ele efetuar por aí umas cativações e não pagar aos seus fornecedores nos próximos 12 meses. Ele nisso é bom.

      • Foi o pior “melro” que tivemos no ministério das finanças. As suas contas foram sempre marteladas e chamam a isto competência ! Realmente é competência mas na atrofia de todas as áreas governativas do país. Só quem não conhece o Portugal profundo pode desmentir esta triste realidade. Para este “artista” as contas atingiam sempre o seu objectivo. Pudera ! Quando estavam longe ou a derrapar era só preciso cativar mais uns milhões aqui e mais uns milhões acolá. Hoje o país mantém um estado deplorável por um esmagamento do investimentos sem precedentes.

    • E já pagaste as mercadorias que enunciaste ou os fornecedores estão a bater-te à porta? O Centeno sempre é capaz de ter mais capacidades académicas e de trabalho do que tu, que afinal também parece que trabalhar não é contigo! É para os outros porque “dobrar a espinha” faz mossa! Tem vergonha! Possivelmente se não fosse o Centeno eras um sem-abrigo de mão estendida à caridadezinha governamental, isto é, andavas a fazer-te aos subsidios a fundo perdido se possível! E ainda falta saber se também não aderiste ao “lay-off” ou às linhas de crédito com juros bonificados ( o otário do contribuinte a financiar o pavão do patrão!!). O Centeno quer tacho. E tu queres o quê? Que o Ministro das Finanças de Portugal seja empregado do electricista?? Mira-te no espelho, pá!!

      • Olha um palerma… só pode. Em que é que o comentário do Tuga te leva a retirar essas tristes conclusões? Deves ser mesmo um triste infeliz que muito provavelmente apenas tem dinheiro de 4 em 4 anos. Tenho pena de artistas como tu. Olha, procura tratamento que pode ser que ainda vás a tempo.

  4. O que parece ser pouco transparente é que ele andou anteriormente a nomear outros para diversos cargos e pelos vistos agora deveriam ser juízes dele, mas assim com esta forma de compadrio tudo irá ficar em família e favores com favores se pagam e cada vez mais o povo se interroga para que serve afinal o Banco de Portugal.

  5. Eu penso que este sujeito anda há muito tempo a pensar em ser governador do Banco de Portugal. Faz-me lembrar o outro, da mesma seita, que andou mais de 40 anos a pensar em ser juiz do Tribunal Constitucional. Ainda antes deste existir. É preciso ter lata. Por outro lado, este tipo foi pior que o Gaspar. Seguiu sempre a austeridade da troika e a caga de impostos para o Zé Pagante nunca foi tão grande como agora. Tanto se me dá que ele vá ou que fique, mas o argumento de que nunca mais arranjava emprego é de doidos. Quem não arranja facilmente emprego são os pobres e desfavorecidos. Os outros ainda não têm deixado um tacho já têm outro à espera. E bem grande. Outra coisa que me chateia no meio desta piolheira é que se os compadrios já se usavam nos tempos do Salazar, agora usam-se e abusa-se deles.

  6. Não há problema, Centeno é Maçon e membro da Assembleia Familiar de António Costa o Rei e traidor.
    Pois em ultimo caso não há problemas para quem quer trabalhar e não ter um emprego.
    No Jornal do Correio da Manhã há empresas a oferecer para trabalhar, porque os jovens não querem trabalhar, querem sim um emprego ou entrar como boy na Assembleia da República.
    Pois se o Centeno quer trabalhar tem trabalho directamente de contabilidade numa Caixa dos Supermercados, mas vai ganhar pouco mais que o Ordenado Mínimo. Mas é ganho de honra e sério, não há corrupção ou ganhos por fora….

    • Ainda há dias o homem das selfies recebeu os maçons. Mas eles não entraram pela porta principal. Foi pela porta do cavalo para não dar muito nas vistas. As tais sociedades secretas, mas que eles dizem que são discretas. Para serve a maçonaria? Alguém me sabe dizer??

    • És um triste ignorante, igual a tantos outros que andam por aí! Competente mesmo foi o Gaspar, o Coelho, a Marilú, o Portas, a Galinha e outros da mesma laia que roubaram tudo o que havia para roubar! Esses é que foram os traidores do Povo e hoje estariam a “mamar” e a “roubaro Povo” se não tivessem sido corridos a pontapé! E isso é que te dói! Levaste com a biqueira da bota e foste “chutado” para bem longe!

      • Ó artista, caso não te lembres esse tal de Gaspar, em conjuntura económica internacional extremamente negativa reduziu o défice que os teus colegas de quadrilha deixaram de 11% para 3%. Sim, de 11% para 3%. Este cativador apenas reduziu de 3% para um valor relativamente excedentário. E fê-lo com cativações e numa conjuntura económica internacional como não havia há 15 anos.
        Enfim, és um falhado que de economia e finanças nada percebes e pior ainda, és cego pelo cartão partidário que te inibe de ver que os teus colegas roubaram o país e os atuais vão pelo mesmo caminho em negócios como o lítio, o aeroporto, os negócios e governo em família e já em breve nos muitos milhões da Europa. Como disse, não passas de um falhado.

      • Este Verdades deve ser um larápio de primeira. Então o Sócrates do partido dele deixou o país na desgraça e ele nem fala nele e diz que foram os outros ?!
        Tivemos que pagar e bem pela bancarrota socialista e este gajo já não se lembra?

  7. Este tipo deve pensar que o povo é todo burro.Sabemos perfeitamente que ”ELE” quer é um bom tacho no BdP. Deixou o barco (finanças) em crise,não foi para Bruxelas por falta de competência e agora fala em conflito de interesses? tenha vergonha pois somos nós os contribuintes a pagar o seu belo ”TACHO”

    • Este quer um “bom Tacho” mas deixou as contas do país como nunca estiveram! E O Carlos Costa o que fez em prol do país? Cumpriu dois mandatos e só fez “asneiras” (BES, BANIF, NOVO BANCO) que estão a custar milhões ao Estado e desta “ave rara”, reconduzida pelo Coelho já “fora de tempo” não há nada para dizer? Porque é do PPD? É competente? Foi sério quando incentivou os portugueses a comprarem ações do BES, tal como fez o Cavaco? Foi sério quando pagou 300.000 euros ao Sérgio Monteiro do PPD para negociar o BES com a Lone Star? Que raio de gente é esta que só vê os “remendos” nos telhados dos vizinhos????

      • Olhe se não fosse o Passos, o BES nunca tinha caído. Se lá estivesse o 44 ou o Costa tinham-lhe dado a mão através da CGD. E assim se conseguia mais um belo negócio público-privado. E as rendas da EDP que o que foi dar aulas para os EUA (do modo como todos nós sabemos) aprovou? E o que lhe parece termos tido na história simultaneamente um ladrão (ou melhor vários) e um avençado de um grupo financeiro? Olhe que o amigo para não tolo já não lhe falta tudo.

      • Diz o Verdades: “Contas como nunca estiveram”. Esta é para rir. Centeno melhou o défice em apenas 3,2% enquanto o governo de Passos Coelho melhorou o défice em 8%, em apenas 2 anos. E Centeno teve cativações de milhões e um volume de impostos como nunca houve. Então aonde que está o mérito deste oportunista Centeno?

  8. “Na prática, Centeno quer um BdP diferente daquele que foi liderado por Carlos Costa nos últimos dez anos. “Conheço bem o BdP. O BdP deve voltar a ser uma instituição de referência em Portugal e na Europa, já que congrega muitos dos melhores técnicos formados nas universidades portuguesas”.”

    Claro que conhece, como tantos outros conhecem , por isso, é que andamos sempre nisto, paga, paga, paga, paga, povo!

    Precisamos de gente nova, estes humanos, estão minados com tanta chantagem, pagamentos de favores, por muito bons que sejam, não vão a lado nenhum, são feitos por medida, para tomar medidas :/ e ai deles se não as tomarem…

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