O então primeiro ministro sueco Olof Palme foi assassinado em 1986, em Estocolmo, à saída de um cinema. Esta quarta-feira, a identidade do autor do crime foi finalmente desvendada, e o caso encerrado.
O primeiro-ministro sueco Olof Palme foi assassinado por Stig Engstrom, designer gráfico e ex-funcionário da seguradora Skandia, anunciou o procurador Krister Petersson, responsável pela investigação desde que foi reaberta em 2016.
“A pessoa é Stig Engstrom. Porque já morreu, não posso acusá-lo e decidi fechar a investigação”, declarou o procurador em conferência de imprensa. Engstrom, que tinha formação militar e era membro de um clube de tiro, morreu há 20 anos, o que leva a que a investigação seja encerrada sem que alguém seja levado a julgamento.
Engstrom, também conhecido como “o Home da Skandia” por trabalhar na seguradora com o mesmo nome, tinha uma forte aversão a Palme e às suas políticas“, adiantou o procurador. Foi uma das primeiras pessoas a chegar ao local do crime e inicialmente foi considerado suspeito. “Uma vez que morreu, não o podemos indiciar”, disse Petersson.
A investigação da morte do primeiro-ministro sueco, então com 59 anos, reuniu milhares de documentos, que ocupam 250 metros de estantes. Durante os anos 1980, mais de dez mil pessoas foram interrogadas e 134 declararam-se culpadas.
Na fase inicial da investigação, Engstrom foi identificado como uma das cerca de duas dezenas de testemunhas do crime e chegou a ser interrogado pelas autoridades suecas, mas foi considerado pouco relevante para a investigação e acabaria por ser descartado como suspeito.
Algumas testemunhas deram descrições do assassino em fuga que combinavam com as características de Engstrom, enquanto outros disseram que nem estava no local. O próprio Engstrom afirmou estar presente desde o início, dizendo ter falado com a polícia e ter tentado ressuscitar a vítima.
Pouco depois do assassinato, Engstrom apareceu nos media suecos e elaborou uma história cada vez mais detalhada do seu envolvimento nos acontecimentos, criticando a polícia. Alegou que as testemunhas que descreveram o assassino estavam no fundo a decrevê-lo a ele, que tinha estado efetivamente no local.
A polícia considerou então Engstrom como testemunha não fiável e inconsistente e classificou-o como uma pessoa sem interesse para a investigação.
Um dos mais importantes políticos do século XX, Olof Palme procurava viver de forma simples e costumava sair sem guarda-costas. A 28 de Fevereiro de 1986, quando saía de um cinema com a mulher, Lisbeth Palme, foi assassinado a tiro, à queima-roupa, pelas costas.
Lisbeth, que ficou ferida no ataque, identificou o atirador como Christer Pettersson, alcoólico e viciado em drogas, que foi condenado pelo assassinato de Palme. A sentença foi revogada depois de a polícia não ter apresentado qualquer evidência técnica. do envolvimento de Pettersson, que morreu em 2004.
Durante 34 anos, a identidade do assassino ficou por desvendar, o que alimentou as mais variadas teorias acerca das motivações por trás do crime.
Alguns suecos acreditavam que Palme seria um espião da KGB, o que motivou especulações sobre a intervenção da polícia secreta soviética no crime. Também os separatistas curdos, os serviços de segurança da África do Sul, a polícia secreta da antiga Jugoslávia e um grupo de extrema-direita sueco foram considerados suspeitos do crime.
Figura extravagante e político carismático, Olof Palme foi primeiro-ministro da Suécia entre 1969 e 1976 e entre 1982 e 1986. Nascido no seio de uma família luterana conservadora, era descendente do rei Frederico I da Dinamarca e Noruega.
Apesar do seu histórico familiar conservador, palme é considerado um dos maiores exemplos da Social-Democracia Escandinava, era frequentemente apresentado como um “reformista revolucionário”, tendo levado mais longe que qualquer outro a ideia de conciliar economia de mercado com um estado social.
Nos seus mandatos como primeiro-ministro, Palme deu especial a assuntos relacionados com o sistema de saúde público, cuidados infantis, segurança social, protecção da segurança dos idosos e habitação.
As suas visões social-democratas, em particular a defesa da influência dos sindicatos sobre a propriedade das empresas, geraram uma grande hostilidade por parte da comunidade empresarial.
Defensor dos direitos humanos, era anti-colonialista e crítico das intervenção dos Estados Unidos na América do Sul, Palme denunciou o apartheid na África do Sul, a invasão soviética da Hungria em 1956, a da Checoslováquia em 1968 e a do Afeganistão em 1978.
Ficou também conhecido pelas duras críticas aos regimes comunistas europeus, tendo em 1975 dado o rotulo de “O gado da ditadura” ao regime de Gustáv Husák, na Checoslováquia
ZAP // Lusa