A Internet desempenha um papel decisivo na transformação da vida de milhares de etíopes e é por isso que as paralisações têm um enorme impacto económico.
Entre janeiro e o final de março, os habitantes da província de Wollega, na parte ocidental da Etiópia, ficaram sem acesso à Internet. O apagão foi associado à diminuição da segurança naquela região, que assistiu a vários conflitos entre as forças do Governo e rebeldes.
A Ethio-Telecom justificou com a insegurança da província e pediu desculpa pelas interrupções. Mas a paralisação de três meses deixou marcas na região.
Além de ter impedido as famílias de comunicarem, afetou gravemente os serviços humanitários e contribuiu para um apagão de informações – o que, consequentemente, afetou os direitos humanos dos cidadãos da província de Wollega: o apagão dificultou, por exemplo, a localização de estudantes que foram sequestrados de uma universidade local em janeiro, pondo fim a uma campanha online para o seu resgate.
Um artigo publicado em maio do ano passado na Information & Communications Technology Law, revela que o apagão da Internet não é um evento incomum no país. A Internet foi desligada pelo menos seis vezes desde 2016 e, só em 2019, a Etiópia sofreu três grandes interrupções em todo o país.
Proteger o país contra ataques cibernéticos, restringir a liberdade de expressão, impedir a divulgação de exames escolares responder a assassinatos de alto nível na região de Amhara são algumas das razões que explicam estes apagões, de acordo com um artigo publicado no The Conversation.
No entanto, é preciso ter em conta que, quando o acesso à Internet é bloqueado ou interrompido, há um impacto imediato na liberdade de expressão uma vez que estes apagões interferem no fluxo de informação. No cenário atual, no qual o mundo vive a braços com a pandemia de covid-19, o acesso à Internet é premente.
Apesar de o país possuir um dos níveis mais baixos de uso da Internet, nos últimos anos, a Etiópia tem registado um crescimento constante. Aliás, um dos objetivos do segundo plano de crescimento e transformação da Etiópia é construir uma infraestrutura digital robusta.
As empresas privadas e de telecomunicações móveis dependem da Internet para oferecer suporte a serviços orientados por tecnologia, como inúmeros serviços bancários essenciais. Já no setor agrícola, a Ethiopian Commodity Exchange lançou recentemente uma porta de entrada para o comércio direto online de produtos agrícolas entre os agricultores.
No setor de transportes, a aplicação Ride (a versão etíope do Uber) simplificou a vida de muitas pessoas ao oferecer serviços de transporte acessíveis. Todos estes serviços dependem da Internet que tem, atualmente, um enorme impacto económico no país.