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“Fui um bode expiatório”. Professora acusada de divulgar exame de português diz que foi vítima de perseguição

O julgamento da antiga presidente da Associação de Professores de Português começou esta segunda-feira. Edviges Ferreira, que foi auditora do exame nacional de Português do 12° ano em 2017, nega ter sido a autora da fuga de informação.

No início do verão de 2017, durante a época de exames do 12.º ano, o jornal Expresso teve acesso ao áudio de uma mensagem que circulou nas redes sociais alguns dias antes do exame nacional de Português. Esse áudio revelava o que ia sair na prova, como se viria a confirmar depois da prova feita.

Na gravação, feita por uma aluna, podia ouvir-se a estudante a dizer: “Ó malta, falei com uma amiga minha cuja explicadora é presidente do sindicato de professores, uma comuna, e diz que ela precisa mesmo, mesmo, mesmo só de estudar Alberto Caeiro e contos e poesia do século XX. Ela sabe todos os anos o que sai e este ano inclusive. Pediu para ela treinar também uma composição sobre a importância da memória e outra sobre a importância dos vizinhos no combate à solidão.”

A docente identificada dava explicações de português a alunos do ensino secundário, e numa destas explicações particulares a um grupo de alunos terá divulgado informações relativas ao exame nacional da disciplina. Foi demitida pelo Ministério da Educação e enfrenta agora julgamento, acusada pelo Ministério Público dos crimes de violação de segredo por funcionário e de abuso de poder, ambos puníveis com pena de prisão até três anos.

A ex-presidente da Associação de Professores de Português (APP) negou ter praticado qualquer violação do dever de confidencialidade a que estava sujeita enquanto participante na auditoria às provas de exame realizadas pelo Instituto de Avaliação Educativa (IAVE). “Nunca divulguei nada”, insistiu, de acordo com o semanário Expresso.

O advogado da professora, Alexandre Mota Pinto, defendeu em tribunal que Edviges Ferreira “não praticou os crimes” de que é acusada, “não tendo nunca violado os deveres de confidencialidade”. Durante a sessão no tribunal de Lisboa, o advogado garantiu ainda que a professora nunca “comunicou o conteúdo do exame à sua educanda”, “não sendo a fonte da mensagem” que circulou nas redes sociais.

Alexandre Mota Pinto lembrou ainda que “houve 54 pessoas que tiveram acesso ao exame”, ou seja, “o alegado segredo violado estava acessível a 54 pessoas”. Alexandre Mota Pinto lembrou ainda os 40 anos de serviço “com a folha limpa” da professora que “é acarinhada pelos encarregados de educação”.

A defesa da professora argumentou ainda com o facto de aluna em causa – que supostamente sabia o que ia sair na prova – ter acabado por ter apenas 9,5 valores e uma pontuação baixa na avaliação relativamente a questões de conteúdo.

A professora disse ainda ter sido vítima de perseguição. “Fui um bode expiatório para o então diretor do IAVE. Apontaram-me como alvo e fui vítima de perseguição”, afirmou.

O advogado de defesa foi mais longe e acusou a IGE de ter feito perguntas “capciosas” à explicanda da professora e de esta ter sido “altamente pressionada”, tendo sido chamada cinco vezes à inspeção.

No julgamento, euestionada pelo MP sobre se perguntava a Edviges Ferreira a razão daquelas sugestões específicas de estudo, a jovem garantiu várias vezes nunca ter sido mencionado ou garantido que uma determinada matéria ia sair no exame. “Recomendo-te mais isto”, “foca-te neste tema ou naquele”, “confia em mim” eram algumas das expressões ouvidas nas explicações semanais.

Não é a primeira vez em que esta professora está envolvida em polémica relacionada com divulgação de informações sobre os exames nacionais. Em provas anteriores, terá havido já suspeitas não comprovadas de que a docente tinha informado os seus alunos da matéria a ser incluída no exame.

ZAP // Lusa

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