O deputado André Ventura, eleito pelo Chega, tem agendada para este sábado uma verdadeira operação de charme no Porto, com encontros com o presidente da Associação Comercial do Porto e com apoiantes do partido. Iniciativas que visam afirmar que o Chega não está apenas focado em Lisboa, onde Ventura voltou a fazer “mossa” no Parlamento, depois de ter chegado atrasado a uma reunião, onde atirou acusações aos deputados Joacine Katar Moreira e João Cotrim de Figueiredo, saindo mais cedo em protesto.
André Ventura abandonou em protesto a reunião do grupo de trabalho que procura racionalizar o número e o tipo de votos que são apresentados para deliberação em plenário da Assembleia da República. O deputado do Chega esteve presente pouco mais de 30 minutos numa reunião que durou mais de duas horas.
Mal pediu a palavra ao coordenador deste grupo de trabalho, o socialista Pedro Delgado Alves, Ventura acusou os maiores partidos de estarem “a tentar matar a política”, burocratizando um direito de apresentação de votos.
No início da reunião, o deputado do Bloco de Esquerda (BE) José Manuel Pureza apresentou dados que indicam que, na anterior legislatura (em 4 anos), subiram a plenário 886 votos. E só nesta primeira sessão legislativa (que começou em final de Outubro) já entraram 164.
BE, PS, PCP, PSD, Iniciativa Liberal e Livre defendem, assim, que é preciso acabar com “a banalização” dos votos – uma posição contestada pelo PAN e fortemente criticada pelo Chega.
Sem se referir a esses dados avançados por José Manuel Pureza, Ventura preferiu antes apontar que as maiores forças políticas já antes tinham estado “numa tentativa de silenciamento” e de “corte do direito à palavra” no início da presente legislatura. E afirmou mesmo estranhar “o posicionamento” dos outros deputados únicos neste processo de revisão do regimento, referindo-se a João Cotrim de Figueiredo (Iniciativa Libera) e a Joacine Katar Moreira (Livre).
“Ética, ética, senhor deputado”, reagiu Joacine Katar Moreira. “A senhora deputada pode não gostar dos nossos votos, pode considerá-los racistas ou extremistas, mas são os votos do Chega, e devem ser avaliados”, ripostou Ventura.
Na sua intervenção, o deputado do Chega visou sobretudo o coordenador do grupo de trabalho, o vice-presidente da bancada socialista Pedro Delgado Alves.
“O PS quer dar-nos um voto potestativo por sessão legislativa, mas o PS que tenha a coragem de assumir que nos quer dar zero. Os senhores usam o argumento que o plenário do Parlamento não tem tempo para os votos, mas que argumento delicioso. Não tem tempo?” perguntou, levantando o seu tom de voz. O que está em causa é “o local em que esses votos são apreciados, o plenário ou em comissão”, contrapôs Pedro Delgado Alves.
O deputado do PSD Pedro Rodrigues referiu-se por duas vezes em tom muito crítico ao comportamento de André Ventura. Na primeira vez, lamentou que, ao fim de meia hora de reunião, o deputado do Chega ainda não estivesse presente na sala, já que se tratava de um assunto em que directamente ele é parte interessada; e na segunda vez, pela posição que tomou Ventura em relação ao Regimento da Assembleia da República e à própria Constituição da República.
“Teria sido interessante se o professor de Direito Constitucional André Ventura tivesse ouvido a intervenção aqui proferida pelo deputado André Ventura“, comentou com ironia o deputado social-democrata.
Já longe das “batalhas” do Parlamento, André Ventura vai ser recebido, neste sábado à tarde, no Palácio da Bolsa, no Porto, pelo presidente da Associação Comercial do Porto, Nuno Botelho. Uma audiência pedida pelo próprio Ventura, como frisa Nuno Botelho em declarações ao Expresso.
“Não é apenas o tecido empresarial de Lisboa que conta e que é importante e merecedor da atenção”, aponta Ventura ao semanário, notando que pretende aferir in loco “das dificuldades e dos obstáculos com que os empresários” da região “se vêem confrontados”, mas também estabelecer “uma forma de parceria” para, eventualmente, poder “fazer verter nas propostas de alteração ao Orçamento do Estado para 2020 algumas destas preocupações”.
Após o encontro no Palácio da Bolsa, André Ventura vai jantar com cerca de 400 apoiantes do Chega no Mercado Ferreira Borges.
O partido vai ter uma sede no Porto, na zona da Boavista, a partir de 1 de Fevereiro. A distrital portuense vai ser liderada pelo presidente da Associação Pediátrica Oncológica do Hospital do Hospital São João (APOHSJ), Jorge Pires, que se tem debatido pela construção da ala pediátrica daquele centro hospitalar.
“Tal como o André, sou uma pessoa de direita, defendo o valor da família como base da sociedade e sou contra o aborto e a eutanásia”, sublinha Jorge Pires ao Expresso, realçando que “o país mais conservador está fora de Lisboa, em especial no norte, e é preciso dar-lhe voz”.
ZAP // Lusa