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Montenegro apresenta PSD como a “grande casa da alternativa não socialista” (e quer Marcelo em Belém até 2026)

António José / Lusa

Luís Montenegro apresenta o PSD como a “grande casa da alternativa não socialista”, na moção de estratégia com que se candidata à liderança, e dá o seu “incondicional apoio” à recandidatura de Marcelo Rebelo de Sousa à Presidência.

Estas são algumas das propostas do ex-líder parlamentar do PSD e candidato a presidente do partido na moção estratégica que entrega esta segunda-feira ao fim da manhã na sede nacional, em Lisboa, e apresenta, à noite, em Santa Maria da Feira, no distrito de Aveiro.

Apesar de já ter feito afirmações, no início do mês, a incentivar uma recandidatura de Marcelo à Presidência da República, agora, no texto da moção, a cuja síntese a Lusa teve acesso, Montenegro é mais claro, apesar de afirmar o respeito pelo “cariz individual e suprapartidário” da “decisão pessoal” e “autónoma” do atual Chefe do Estado.

“O PSD incentiva e não se eximirá de manifestar o seu convicto e incondicional apoio a uma eventual recandidatura do atual Presidente da República”, lê-se no texto. E elogia o “sentido de Estado, o espírito de missão, a atitude congregadora e solidária, a visão estratégica, a opção equilibradora, a ação exemplarmente independente e a proximidade ativa e afetiva” de Marcelo Rebelo de Sousa, “motivo de orgulho e esperança de futuro para o PSD”.

Se for eleito nas diretas de janeiro de 2020, Montenegro promete fazer, no partido, um “laboratório de ideias na construção de um projeto político” alternativo ao do PS.

O PSD, escreveu no texto da moção, “atravessa um tempo difícil” depois dos “resultados eleitorais historicamente baixos” nas legislativas, sob a atual liderança de Rui Rio, “da redução da presença autárquica, de dificuldade na abertura à sociedade e de recrutamento de novos quadros qualificados”.

Porque “o PSD não está condenado ao definhamento”, a estratégia passa por colocar o partido como a “grande casa da alternativa não socialista, que sempre soube envolver e potenciar sinergias e contributos de pessoas e visões não socialistas, moderadas e europeístas, que acreditam na iniciativa individual e na economia de mercado, mas que impõem uma forte consciência social em toda a ação política”. O PSD, acrescentou ainda, “é o partido personalista e reformista, de política popular e democrática”, assumindo as “raízes” sociais-democratas.

Nesta parte do texto, ao abordar os riscos do populismo na Europa, no Mundo e até em Portugal, Montenegro faz ainda uma advertência sem destinatário identificado ao afirmar: “Devemos começar por evitar qualquer laivo de tentativa de imposição de populismos antissistema ou de uma liderança unipessoal e autoritária no nosso PSD”.

Na moção, o líder parlamentar social-democrata durante o Governo liderado por Pedro Passos Coelho admite, ainda que implicitamente, que o atual governo minoritário poderá não cumprir quatro anos de mandato, ao escrever que as legislativas se podem realizar “até 2023”. É na parte do texto em que afirma que, caso vença, “o PSD iniciará de imediato a preparação das próximas eleições legislativas que decorrerão até 2023”.

De resto, promete também uma “oposição firme e exigente” nos dois anos de mandato como líder do PSD, tentando afirmar-se como “a única verdadeira alternativa política ao PS”.

Embora insista na crítica a Rui Rio, por ter feito acordos e por se ter subalternizado ao executivo e ao PS, Luís Montenegro não excluiu eventuais entendimentos com o executivo, ou, como escreveu na moção – “abordagem suprapartidária e que visem perdurar para lá de governações conjunturais”, “colocando o interesse nacional acima de qualquer interesse partidário, com sentido de Estado e com visão de futuro”.

Na síntese a que a Lusa teve acesso, Montenegro defende que, para voltar a ganhar eleições, “o partido precisa de começar por se reformar a si próprio”, mas não concretiza, afirmando que quer “unir o partido, acarinhar a militância, reforçar a autoestima partidária, galvanizar as melhores ideias, mobilizar os melhores quadros e defender uma causa comum”.

As eleições diretas do PSD realizam-se em 11 de janeiro. São candidatos à liderança o atual presidente do PSD, Rui Rio, o antigo líder parlamentar do PSD Luís Montenegro e o atual vice-presidente da Câmara de Cascais, Miguel Pinto Luz.

Montenegro quer que Rio se deixe de “conversa fiada”

Luís Montenegro desafiou este sábado o presidente do partido, Rui Rio, a assumir claramente o voto contra o Orçamento do Estado para 2020 e a pôr de lado “conversa fiada e de politiquês”. Em declarações aos jornalistas em Barcelos, distrito de Braga, à margem de um encontro com autarcas, Montenegro classificou ainda de “inexplicável” a “hesitação” de Rui Rio sobre o voto do partido no Orçamento.

“Eu sou daqueles que não precisavam de ver o documento e hoje acho que toda a gente reconhece que eu tinha razão. Não é uma questão de desrespeitar, não é uma questão de radicalismo, não é uma questão de irresponsabilidade. Isso é tudo uma conversa fiada, isso é tudo conversa de politiquês”, afirmou.

Para Luís Montenegro, os sociais-democratas têm de ser “claros, sérios e objetivos”. “Não é proclamarmos, é sermos. O PSD não concorda com este Governo, o PSD não concorda com estas políticas, o PSD não concorda com um país que tem Estado a mais e sociedade a menos.”

Por isso, defendeu que o PSD “não pode ter contemplações” e deve assumir claramente o voto contra o Orçamento. “É inexplicável esta hesitação do PSD”, afirmou, sublinhando que o maior partido da oposição “não pode ter hesitações, não pode confundir as pessoas, não pode criar perceções erradas”.

Para Luís Montenegro, aquela hesitação “dá a entender que o PSD ainda admite viabilizar o Orçamento, que porventura ainda admitirá negociá-lo com o PS quando todos os dirigentes do PS dizem que estão a negociá-lo à esquerda, com o PCP e o Bloco”. Segundo Luís Montenegro, o Orçamento para 2020 contempla “a maior carga fiscal de sempre e onera as pessoas”, dando apenas “um pequenino rebuçado” em sede de IRS, “que é um terço daquilo que é a taxa de inflação prevista para o próximo ano”.

O candidato à liderança do PSD disse ainda que o Orçamento tem como previsão um crescimento económico “que é um dos piores da Europa e que vai continuar a colocar Portugal na cauda da Europa”.

“Qual é a dúvida do PSD? Não há dúvidas nenhumas”, vincou, considerando que Rui Rio “vai assumir, mais dia menos dia, aquilo que é uma evidência”.

Sobre o encontro deste sábado com autarcas, Montenegro enfatizou a sua aposta nas autárquicas de 2021, garantindo que, se ganhar a liderança do PSD, será ele mesmo a coordenar esse processo eleitoral.

O candidato social-democrata disse que Lisboa é uma das câmaras que quer conquistar para o PSD, a par de outras que são “igualmente muito relevantes”, entre as quais a de Barcelos. Montenegro sublinhou ainda que vai tentar atrair para as listas do PSD militantes do partido e gente de fora.

ZAP // Lusa

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