Há mais um obstetra do Hospital de Setúbal que foi alvo de queixas na sequência do nascimento de três crianças com malformações que deveriam ter sido detetadas nas ecografias, avança o jornal Público.
De acordo com o diário, o médico em causa foi responsabilizado pelo menos por três casais por não ter detetado malformações nos exames realizados durante a gravidez.
O Ministério Público considerou que houve conduta negligente, mas decidiu arquivar as queixas-crime, justificando a decisão com o quadro legal existente.
Em declarações ao matutino, o clínico lamenta os casos e recorda que faz este tipo de teste há 30 anos, havendo apenas registo de três casos de malformações. “Lamento, é uma infelicidade para os pais. Não fui eu que introduzi as malformações aos bebés”, conclui.
Sobre os casos em concreto, diz que em duas situações a dificuldade foi “a posição do feto”, apontando a “obesidade” da mãe como dificuldade no terceiro caso. “A ecografia é um exame de rastreio e não de diagnóstico, e como todos os exames de rastreio, pode ter falsos positivos ou negativos”, recordou.
O médico, que reclama inocência nos casos, viu a Ordem dos Médicos arquivar-lhe três processos disciplinares, dois dos quais relacionados com este tipo de exame. O Centro Hospitalar de Setúbal diz não ter conhecimento de qualquer queixa contra este seu clínico.
Atualmente, disse ainda ao jornal, não faz ecografias do segundo trimestre depois de o caso do bebé Rodrigo, que nasceu sem parte do rosto, ter sido revelado.
“O bastonário [da Ordem dos Médicos] disse que ia revelar os 180 médicos certificados para fazer ecografias e eu estou à espera que saia essa lista”, explicou, dizendo ainda que tem “certificação internacional” para este tipo de teste.
As três crianças sobrevivem até hoje com grandes limitações graças a múltiplas cirurgias.
Por ano, nascem cerca de 1000 bebés com malformações
Em Portugal, ocorre com muita frequência a deteção de anormalidade congénitas durante a gravidez: por cada mil nascimentos, são detetados em média 166 casos. Os números são avançados esta segunda-feira pelo Correio da Manhã, que cita dados dados do Registo Nacional de Anomalias Congénitas
Em 2009, foram detetadas 772 anomalias em grávidas. Já em 2015, o último ano de que são conhecidos os registos, verificaram-se 1427 casos.
Em 1011 situações (70,9%) ocorreu o nascimento do bebé. Em 26,6% dos casos, os pais decidiram pela interrupção da gravidez em resultado da malformação. A morte fetal ocorreu em 1,3% dos casos e em 1,2% houve abortos espontâneos.
“[As malformações] podem ser genéticas, virais – gripe ou gastroenterite – ou por medicamentos ou drogas”, disse a pediatra Maria do Céu Machado, em declarações ao matutino, dando conta que os casos advêm de várias causas.
O momento de identificação da primeira anomalia congénita ocorre em diagnóstico antes do nascimento em 58,9% dos casos.