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Há uma mancha de petróleo a contaminar o nordeste do Brasil há dois meses (e ninguém sabe de onde veio)

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Uma mancha de petróleo cru foi avistada a 30 de agosto ao longo das praias de Tambaba e Gramame, município de Conde, e na Praia Bela, município de Pitimbu, no Brasil. 

Dois dias depois, a mancha de petróleo tinha chegado a Ipojuca e Olinda, em Pernambuco. Ao fim de quase dois meses, a mancha alargou-se a 225 praias brasileiras, colocou nove estados em alerta ambiental e ameaça com danos irreparáveis os ecossistemas marinhos na costa nordeste do Brasil.

De acordo com a Globo, a origem da mancha está a ser investigada pela Marinha do Brasil, pela Polícia Federal e pela Petrobras. Ninguém sabe de onde veio.

É necessário ter em conta o grau API, uma espécie de escala de Richter criada pelo Instituto Americano de Petróleo que relaciona a densidade dos derivados do petróleo com a água. O betume, que nessa escala está abaixo de 10, é mais denso e afunda no mar. Os derivados leves, menos densos, são mais valiosos, mas quanto mais tempo passam na superfície marítima, mais densos se tornam e têm tendência para afundar.

Quanto ao percurso da mancha, estudando as datas de avistamentos nas praias brasileiras, as trajetórias das correntes e o percurso dos navios ao largo do nordeste do país, as autoridades estimam que o derrame deve ter começado a centenas de quilómetros da costa de Pernambuco e da Paraíba e que viaja a um ritmo de 10 centímetros por segundo.

Nessa região, os ventos sopram de sudeste para noroeste, do centro do Atlântico em direção ao Caribe e ao nordeste do Brasil. As correntes marítimas seguem a mesma tendência de trajetória.

Segundo o Centro Integrado de Segurança da Marinha, as áreas foram navegadas por 140 navios-tanque durante o mês de agosto. Uma parte viajou entre as Caraíbas, o Golfo do México, o sul de África e o sudeste da Ásia. Outra seguiu do sudeste do Brasil para a Europa.

Segundo Jair Bolsonaro, o presidente brasileiro, e o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, há três opções em cima da mesa: o petróleo pode ter vindo de um navio afundado, de um acidente na transferência de um navio para outro ou de um despejo com mão criminosa.

A tese de que o petróleo podia ter escapado de um navio afundado perdeu força desde que se contabilizou em mil toneladas a quantidade de petróleo recolhido até 20 de outubro das praias brasileiras.

Há também a possibilidade de um derrame quando se transfere petróleo de um navio-tanque para outro. Rui Carlos Botter, professor de Logística e Transportes da Universidade de São Paulo, explica que “não é raro que esse processo seja feito no Brasil, às vezes com o navio parado, às vezes em portos, às vezes em andamento”.

Porém, Iderley Colombini Neto, especialista em geopolítica do petróleo no Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconómicos do Brasil, coloca problemas à tese: “Se fosse uma comporta a vazar, não teria esta magnitude. O que está a complicar é a quantidade. E não ter sido vista por nenhuma autoridade”.

A terceira hipótese é a de que esta mancha pode ser o resultado de um derrame criminoso. É possível que um navio fantasma tenha feito uma transferência de petróleo em alto-mar, mas que a operação tenha corrido mal.

A mancha já matou pelo menos cinco aves, 18 tartarugas-marinhas, um peixe e um réptil.

Brasileiros culpam Venezuela

De acordo com o Observador, um relatório publicado a 8 de outubro pela Petrobras, que analisou 23 amostras da mancha, aponta o dedo à Venezuela.

Bolsonaro retrai-se em dizer nomes: “Eu não posso acusar um país. Imagine que não é aquele país. Não quero criar problemas com outros países. É reservado. É um volume que não está sendo constante, não é? Se fosse um navio que tivesse afundado, estaria saindo ainda óleo. Parece que criminosamente algo foi despejado lá”, acusa.

Ricardo Salles, ministro do Ambiente, é menos cauteloso e diz que o petróleo que está a causar este “desastre ambiental” é “muito provavelmente” da Venezuela.

Já a Universidade Federal de Sergipe aponta o dedo à Shell. De acordo com a instituição, foram encontrados no mar barris dessa petrolífera cujo conteúdo corresponde ao que chegou às 225 praias brasileiras. A empresa já se defendeu, dizendo que os barris podem ter sido reutilizados por outras partes.

A Universidade Federal de Sergipe ainda insiste noutra hipótese: que o petróleo não tenha sido despejado na superfície do mar, mas sim que venha do fundo do oceano.

O que se sabe até agora é que a investigação prossegue com todas as possibilidades em aberto e a mancha não pára de se espalhar pelo nordeste do Brasil.

ZAP //

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