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Universidade argentina adota voluntariado obrigatório para compensar ensino gratuito

Tulane Publications / Flickr

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A partir de 2017, os cerca de 320 mil alunos da Universidade de Buenos Aires (UBA) passarão a ter que realizar atividades solidárias para que possam terminar os estudos e obter o seu diploma, de acordo com uma directiva da própria entidade – que é pública e gratuita.

No entendimento dos diretores e professores, a sociedade deve ser “recompensada” por ter permitido aos alunos a oportunidade de usufruírem de um ensino gratuito, afirmou à BBC a secretária de assuntos académicos da UBA, a pedagoga Maria Catalina Nosiglia.

Desta forma, a disciplina de “educação prática solidária” passará a ser um requisito obrigatório para os estudantes.

“O nosso objetivo é que os alunos tenham um compromisso com a nossa sociedade“, argumentou Nosiglia. “Afinal, toda a sociedade está de certaforma a pagar para que os alunos estudem gratuitamente. Além disso, somos de uma região desigual e essa responsabilidade social é fundamental.”

Nosiglia afirmou ainda não se tratar “apenas de solidariedade, mas sim de educação”.

Cada faculdade da universidade deverá adaptar até 2017 o currículo para incluir a disciplina, que será ministrada a partir do segundo ano e com a orientação de tutores.

Nosiglia contou que já foram definidos detalhes do chamado “projeto pedagógico e de intervenção social”.

Famílias desfavorecidas

A disciplina terá 42 horas e o aluno deverá ser aprovado pelo seu tutor. No caso dos cursos de administração e de economia, os alunos poderão, por exemplo, ajudar as famílias carentes, ONGs ou pequenos empresários sobre como organizar um orçamento e ajudá-los a adquirir um microcrédito para empreendimentos.

“Outra forma de educação solidária será orientar as mães de famílias carentes sobre como gerir melhor os seus recursos”, afirmou.

A medida foi criada em 2010 e regulamentada em 2011, mas foi na semana passada que foi estipulado um novo prazo para que todos os currículos estejam adaptados e o projeto entre em prática em 2017.

Nosiglia reconheceu, contudo, que será “um desafio” incluir a disciplina em algumas faculdades. “A parte mais difícil está ligada às ciências exatas e naturais”, disse.

Para estes, o projeto deve incluir aulas de computação a pessoas com dificuldades e, no caso de biologia, por exemplo, envolver projetos de conscientização sobre o meio ambiente. “É importante que todos, sem exceção, tenham responsabilidade social”, afirmou a pedagoga.

Alguns cursos já implementaram a medida nos seus planos de estudo, como as faculdades de medicina, arquitetura e de veterinária – que já contamcom a disciplina prática de educação solidária no currículos.

O reitor da faculdade de veterinária da UBA, Marcelo Miguez, afirmou à BBC que a disciplina de sociologia urbana e rural, com prática solidária, foi incluída em 2007 no plano de estudos do curso, com visitas a lugares desfavorecidos, onde alunos e orientadores abordam temas básicos desde saúde pública, vacinas aos animais ou prevenção de doenças.

A faculdade de veterinária tem atualmente 4 mil alunos, e cerca de 500 deles já frequentaram a “disciplina solidária”.

Santiago Pillado, um aluno de 25 anos, no terceiro ano de veterinária, apoiou a inclusão da disciplina no currículo “Podemos apenas não curar animais, mas ter a consciência social de ajudar pessoas. Visitamos quintas e ajudamos os pequenos produtores agrícolas a prevenir doenças.

Aprendemos como colaborar na adoção de animais de rua, ou ajudamos os alunos de escolas técnicas a estudar, despertando o seu interesse em frequentar a faculdade.”

O especialista argentino em educação Alieto Guadagni afirmou que, perante o aumento do número de alunos da UBA – incluindo estudantes vindos de universidades privadas -, a medida é “bem-vinda”.

ZAP / BBC

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