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Tancos. Azeredo admite que apagou todas as mensagens antes de sair do Ministério

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Olivier Hoslet / EPA

O ex-ministro da Defesa Nacional, José Azeredo Lopes

O antigo ministro da Defesa Azeredo Lopes reiterou nada saber sobre a “encenação” na recuperação das armas de Tancos, admitindo ainda que apagou as mensagens de todos os telemóveis antes de deixar o Ministério.

As declarações do antigo governante fazem parte do interrogatório de 4 de junho, a que a SIC Notícias e o Expresso tiveram a acesso. Foi neste mesmo dia, recorde-se, que Azeredo Lopes foi constituído arguido no processo de Tancos.

Durante o interrogatório, no Tribunal de Instrução criminal (TIC), em Lisboa, Azeredo Lopes reiterou nada saber sobre a “encenação” e disse que não se lembra de ter visto o memorando da Polícia Judicial Militar (PJM) sobre a encenação das armas de Tancos enviado pelo chefe de gabinete por WhatsApp para o seu telemóvel, conta o semanário.

O antigo governante admite que possa ter apagado a mensagem, uma vez que apagou os registos de todos os telemóveis antes de deixar o Ministério da Defesa.

“Tinha por hábito todas as semanas apagar tudo. Foi o conselho que me deram por razões de segurança. Antes de sair do ministério, apaguei os telemóveis todos“.

Azeredo Lopes insistiu nada saber sobre o caso, dizendo que apenas teve consciência de um clima de conflito entre a Polícia Judiciária (PJ) e a PJM.

“A construção que é feita contra mim põe-me como um enorme protagonista e uma espécie de mandante. É a construção de alguém que tem quase um orgulho clubístico na PJM. Estou a sorrir porque me causa surpresa a tese de que eu sabia de qualquer coisa antes da descoberta”, afirmou ao juiz de instrução João Bártolo.

“O sr. Coronel Vieira [então número dois da PJM] manifestamente não se conformava com a atribuição da investigação à PJ. Essa convicção dominou-o completamente. A certa altura tornou-se uma obsessão”, acrescentou.

O antigo ministro estendeu ainda críticas à atuação do major Vasco Brazão, inspetor da PJM no âmbito do processo de Tancos. “As suas declarações mostram que é alguém que está perturbado, é um mitómano, não está bom da cabeça”.

“Fui enganado de forma sistemática“, afirmou, confessando que, na época, não se certificou em como os militares da PJM tinham sabido do local onde se encontrava o arsenal. Achou que tinha sido através de uma denúncia anónima. Agora, sabe que se tratou de “uma operação criminosa”.

No decorrer do interrogatório, Azeredo Lopes admitiu mesmo que, até à data dos factos, não sabia o que era um paiol. “É bom ter presente. E digo isto sem ironia. Eu não fazia a mínima ideia do que era um paiol”, afirmou.

O antigo ministro responderá por quatro crimes: abuso de poder, denegação de justiça, prevaricação e favorecimento pessoal. De acordo coma a acusação do Ministério Público, Azeredo Lopes não só o antigo ministro soube de toda a operação para a “recuperação” das armas furtadas, como também utilizou a situação para tirar louros políticos.

Joana Marques Vidal é testemunha

A ex-procuradora-geral da República, o ex-chefe de gabinete do ministro da Defesa e o antigo chefe da Casa Militar do Presidente da República estão entre as testemunhas do Ministério Público para o julgamento do processo de Tancos.

Segundo a acusação do processo, a ex-procuradora-geral da República Joana Marques Vidal foi responsável pela atribuição da investigação do furto e da encenação da recuperação das armas dos paióis de Tancos à PJ, contra a vontade do então diretor da PJM, Luís Vieira, arguido acusado no processo.

A antiga Procuradora Geral da REpública disse, a 19 de março, na comissão de inquérito ao caso de Tancos, que a PJM atuou de forma ilegal no processo que levou ao “achamento” do material militar furtado, em 2017. A PJM “fez diligências” e prosseguiu uma “investigação criminal quando não tinha competência para isso”, pois “estava entregue à PJ [Polícia Judiciária]”, afirmou na comissão de inquérito.

Joana Marques Vidal relatou que, no dia em que se soube do reaparecimento de parte do material furtado, tentou por diversas vezes contactar o então diretor desta polícia, Luís Vieira, assim como Amadeu Guerra, à data diretor do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), outra das testemunhas arroladas.

Entre as 112 testemunhas, o Ministério Público quer também chamar a depor António Martins Pereira, ex-chefe de gabinete de do antigo ministro da Defesa Azeredo Lopes, e o ex-chefe de Estado Maior General das Forças Armadas Artur Monteiro e ainda Rovisco Duarte, na altura Chefe Estado Maior do Exército.

O caso do roubo nos paióis de Tancos conta com 25 arguidos. O furto de material de guerra foi divulgado pelo Exército a 29 de junho de 2017. Quatro meses depois, a PJM revelou o aparecimento do material furtado, na região da Chamusca, a 20 quilómetros de Tancos, em colaboração de elementos do núcleo de investigação criminal da GNR de Loulé.

Entre o material furtado estavam granadas, incluindo antitanque, explosivos de plástico e uma grande quantidade de munições.

ZAP // Lusa

27 Comments

  1. Os militares fizeram bem a cama ao Azeredo, e o anjinho caiu…
    O mau da fita agora é ele, e os militares que na realidade foram os bandidos da historia, ficam esquecidos na história…

    • Será? Se é mesmo anjinho, porque apagou as mensagens todas antes de sair? Já saiu por causa disso… e não se cuidou? Anjinho ou espertinho???

    • Militares ponto e vírgula; foi a PJM!
      Só acho mesmo muito estranho como foram partilhar com um ministro (e logo com este totó) uma artimanha deste nível!!

    • A D. Ana Isabel, possivelmente não foi militar e por isso é possível que não saiba o que é um paiol, agora um ministro da defesa nacional dizer que não sabia o que era um paiol, quer fazer dos outros parvos, mas o idiota é ele. É como o PR dizer não teve conhecimento de nada. Então para que existem os assessores civis e militares? É só para ganharem dinheiro com o “tacho”?

      • Exatamente! Se não sabe sequer o que é um paiol não pode ser ministro da defesa. Varredor, talvez. Estão sempre a fazer-nos de parvos…

      • Não, é para andarem todos bonecos com os políticos de latrina esquerdista que usam o erário público para viverem à nossa custa – pagantes de impostos.

    • Ai Ana que tu andas toda queimadinha…
      Seguindo a tua lógica, que nada tem de lógico, por que motivo apagaria ele depois as mensagens? E por que motivo negou sempre tudo?

      Olhe Ana, procure dormir um pouco porque em princípio os seus amigos ficarão lá por mais 4 anos.

  2. mais um caso para se arrastar nos tribunais até todos se esquecerem disto e acabar tudo com penas suspensas e na mesma a desempenhar cargos publicos!
    se mantiverem os que lá estão por mais 4 anos vai ser mais do mesmo.
    nunca esteve tão parado caso do antigo primeiro ministro PS!
    será coincidência?

    • Pois é Bruninho, vai ter que suportá-los mais 4 anitos. Sinceramente, os seus comentários são bastante tendenciosos para um único sentido. Dir-me-á que sou um esquerdalho, não sou Antônio Costa, com toda a certeza!

      • não tenho cor politica! apenas analiso políticos e politicas e o que vejo é mau! Dizer o que pensamos é sempre tendencioso, pois é a nossa opinião. Mais tendencioso é quando difere das opiniões dos outros.
        agradeço o diminutivo empregue pois fez-me sentir mais novo!

    • Coincidência foi o conluio entre o PR e o Costa em não conduzirem a ex-PGR porque sabiam que a senhora é demasiado honesta e que se fosse preciso levava esses dois a Tribunal. Como a escolhida por eles é uma das suas de ‘muita confiança’, ambos traíram a Dr. Joana Marques Vidal!

      • É tão honesta que os submarinos não foram investigados…
        E como por milagre na Alemanha houve gente detida por corrupção nos submarinos portugueses.
        Confuso?!
        Nã… Isto é Portugal.
        – Para poupar tempo e mensagens:
        Não, não sou Costa, Catarina, Jerónimo, Rio, Silva, nem, claro, Cristas…
        Quanto aos restantes, se não fosse de meter medo seriam só patéticos.

      • E não só os submarinos. Lembram-se do honesto e brilhante economista Sr. CAVACO vir para a televisão dizer que o BES estava sólido e que os Portugueses podiam investir que era um investimento seguro. Para ele seguro foram as vendas das acções dele e da filha do BPN

  3. Apagou todos os registos dos telemóveis? É porque tem algo a esconder senão não apagava. Foi enganado, não se recorda? Cidadãos quando tiverem algo p/ pagar nas finanças ou a algum órgão do Estado digam o mesmo que não sabem, não se lembram, foi enganado e Tudo lhes vai ser perdoado… Achas mesmo que todos os portugueses são Lorpas, nem todos só mesmo os mais ignorantes e que não queiram por a cabeça a pensar um pouco. Estes politicos sem classe, sem cultura, sem escrúpulos – RUA com eles.

  4. Eu quando sai de uma Empresa aonde trabalhava há 5 anos e fui trabalhar para outra tb apaguei tudo o que tinha no computador e no telemóvel e que se referia a questões que tinham que ver com a Empresa de onde ia sair. Isso é normal, para mais tarde não se vir fazer uso de assuntos que já não nos dizem respeito

  5. Em qualquer país civilizado, mal tivesse acontecido uma coisa daquelas, a cabeça do ministro rolava imediatamente. Por cá, temos o Costa (e outros noutras alturas) a segurá-los até se tornar insustentável. Os idiotas sempre acham que todos são como eles.

    • Sem duvida! O ministro (que é um totó incompetente e uma vergonha para os militares) e principalmente das chefias militares que, além de não terem sido competentes para fazer o mínimo (que era guardar o material militar), ainda vêem a sua PJM a fazer um “filme” destes!…

  6. O ex-ministro apagou as mensagens de TODOS os TELEMÓVEIS. Mas afinal, as mordomias continuam a existir: qual a razão para cada ministro ter acesso a mais do que um telemóvel?!….e os popós?…..e os….?e as….? Que raio de democracia é esta?

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