“Não é surpreendente” que haja raiva contra os deputados britânicos por causa do ‘Brexit’, declarou na quinta-feira Dominic Cummings, artífice da campanha pela saída do Reino Unido da União Europeia (UE) no referendo de 2016 e atual chefe de gabinete do primeiro-ministro, Boris Johnson.
Segundo o próprio, citado esta sexta-feira pelo Expresso, a única forma de resolver a situação é “respeitar” o resultado da consulta popular.
Na reabertura antecipada do Parlamento, depois de o Supremo Tribunal ter deliberado que a sua suspensão tinha sido “ilegal”, Boris Johnson foi criticado na quarta-feira por, entre outras considerações, se ter referido às preocupações de uma deputada trabalhista com a segurança como “treta” e ter usado palavras como “rendição” e “traição”.
No dia seguinte, a Câmara dos Comuns voltou a discutir a questão das ameaças. A ex-deputada conservadora, atualmente independente, Caroline Nokes relatou que, durante uma caminhada no seu círculo eleitoral, foi abordada por alguém que a apelidou de “traidora que merecia ser baleada”.
“Isto é um passeio no parque. Estamos a gostar”
Após três anos de “guinadas” na sequência do referendo, “não é surpreendente que algumas pessoas estejam zangadas”, disse Dominic Cummings. Tanto apoiantes da saída da UE como apoiantes da manutenção receberam “ameaças” de violência, que devem ser levadas a sério, sublinhou.
Mas acrescentou: “Se há um grupo de políticos que promete respeitar o resultado de uma votação democrática e, depois de perder, diz ‘não queremos respeitar esse voto’, o que é que se espera? No final, a situação só pode ser resolvida no Parlamento honrando a promessa de respeitar o resultado”.
Citado pela BBC, Dominic Cummings negou que Downing Street esteja sob pressão após a decisão do Supremo, a série de derrotas parlamentares e a reação aos comentários do primeiro-ministro. “Isto é um passeio no parque comparado com o referendo. Estamos a gostar disto. Vamos sair [da UE] e vamos ganhar”, declarou.
Os ataques ao “ato de rendição”
Boris Johnson tem-se referido ao projeto Benn Bill, apresentado pelo trabalhista Hilary Benn, como um “ato de rendição”.
Segundo aquela legislação, aprovada este mês, o primeiro-ministro está obrigado a pedir a Bruxelas um novo adiamento do prazo do ‘Brexit’ para lá de 31 de outubro no caso de não conseguir aprovar um acordo de saída no Parlamento ou de não conseguir que os deputados aprovem um Brexit sem acordo até 19 de outubro.
O antigo primeiro-ministro John Major acusa Boris Johnson de “deliberadamente” destruir as perspetivas de um acordo multipartidário para o ‘Brexit’, manifestando a sua preocupação com a possibilidade de o Governo tentar contornar a lei. O co-presidente do Partido Conservador James Cleverly recusou-se esta quinta-feira a descartar esse cenário.
De um lado, o Governo reitera que irá cumprir a lei, do outro, o primeiro-ministro desse Governo insiste que não pedirá um novo adiamento do ‘Brexit’, que é precisamente o que a legislação exige segundo os pressupostos enunciados, lê-se no Expresso.
O ex-procurador-geral Dominic Grieve afirmou, todavia, estar confiante de que qualquer tentativa de contornar a lei fracassará.