/

Delator da chamada telefónica de Donald Trump pode ser um agente da CIA

O New York Times revelou esta quinta-feira que o whistleblower que denunciou as manobras de Donald Trump para influenciar a corrida presidencial para 2020 é um agente da CIA que terá trabalhado na Casa Branca.

A transcrição de um telefonema entre Donald Trump e o Presidente da Ucrânia, Volodymir Zelenskyy, em que o primeiro terá pedido ao governante ucraniano para investigar o filho de Joe Biden, foi publicada na quarta-feira.

O jornal norte-americano The New York Times revelou que o denunciante era um agente da CIA. De acordo com a revista Forbes, o homem em questão terá trabalhado na Casa Branca mas, entretanto, regressou à CIA. O advogado do whistleblower disse que revelar informações sobre o agente da CIA coloca-o em perigo: “Tem direito ao anonimato”.

O Presidente dos EUA reagiu no Twitter às notícias: “Um whistleblower com informações em segunda mão? Mais fake news! Vejam o que foi dito na minha chamada muito simpática e sem pressão [ao Presidente ucraniano]. Outra caça às bruxas!“.

Já é conhecido, na íntegra, o relato que a pessoa que denunciou as suspeitas de pressão enviou para o presidente do Comité do Senado para os Serviços de Informações e para o presidente do mesmo comité mas na Câmara dos Representantes e essa pessoa acusa o Presidente dos EUA de colocar em causa a segurança nacional e de “minar os esforços já demonstrados pelos EUA em combater e diminuir a possibilidade de interferência de poderes estrangeiros nas eleições de 2020”.

A denúncia, disponível no jornal britânico The Guardian, começa com uma declaração da gravidade que, no entender da fonte, pesa sobre o assunto. “Estou profundamente preocupado com as ações descritas abaixo porque constituem ‘um sério ou flagrante abuso do poder’ e uma ‘violação da lei ou ordem executiva’ (…). Estou também preocupado que estas ações representam riscos para a segurança nacional e possam pôr em causa os esforços já encetados pelo Governo dos EUA para dissuadir e combater a interferência estrangeira nas eleições.”

“Vários funcionários da Casa Branca com conhecimento direto da chamada informaram-me que, depois de uma primeira troca de amabilidades, o presidente usou o restante da chamada para fazer avançar os seus interesses pessoais. Procurou pressionar o líder ucraniano a tomar medidas para o ajudar a garantir a presidência em 2020.”

Trump pediu para “iniciar ou continuar uma investigação às atividades do ex-vice-presidente Joseph Biden e do seu filho, Hunter Biden; ajudar a descobrir se as alegações de interferência russa nas eleições presidenciais dos EUA de 2016 tiveram origem na Ucrânia, com um pedido específico para que o líder ucraniano localizasse e entregasse os servidores usados ​​pelo Comité Nacional Democrata (DNC) e examinado pela empresa de segurança cibernética dos EUA Crowdstrike, que inicialmente informou que hackers russos haviam penetrado nas redes do DNC em 2016; e conhecer ou falar com duas pessoas que o Presidente nomeou explicitamente como seus enviados pessoais sobre esses assuntos, [Rudy] Giuliani e o procurador-geral [William] Barr, a quem o Presidente se referiu várias vezes em conjunto”.

No total, lê-se ainda na nota do denunciante, cerca de 12 pessoas ouviram este telefonema.

De acordo com o semanário Expresso, a Casa Branca tentou mesmo esconder o telefonema num sistema de encriptação apenas utilizado para ocultar informação que pode prejudicar a segurança nacional.

Segundo o denunciante, nos dias seguintes à ligação “funcionários sénior da Casa Branca intervieram para bloquear todos os registos da ligação, principalmente a transcrição oficial palavra por palavra da chamada”. Ações como esta, continua o denunciante, “tornam claro que os funcionários da Casa Branca entenderam a gravidade do que havia acontecido na ligação.”

“De acordo com os funcionários da Casa Branca com quem conversei, esta não foi a primeira vez ‘sob esta administração’ que uma transcrição presidencial foi colocada nesse sistema de encriptação apenas com o objetivo de proteger informações politicamente sensíveis – em vez de sensíveis à segurança nacional.”

O caso surgiu na sequência de uma denúncia que foi divulgada pelo diretor interino do departamento de serviços de informação, Joseph Maguire, que reportou o incidente ao Congresso, sem, contudo, prestar mais esclarecimentos, alegando privilégios presidenciais.

Donald Trump é acusado de ter feito um telefonema para o presidente da Ucrânia, Vladimir Zelenski, em julho passado, pressionando-o a investigar Hunter Biden, filho de Joe Biden, vice-presidente no mandato de Barack Obama e atual candidato à Casa Branca pelo Partido Democrata, por suspeita de irregularidades na sua ligação com uma empresa ucraniana.

Hunter Biden foi contratado pela empresa ucraniana Burisma, de extração e produção de gás, e Joe Biden, quando era o principal interlocutor da Casa Branca na Ucrânia, incentivou o Governo de Kiev a libertar-se da dependência energética em relação a Moscovo. Trump também terá lançado dúvidas sobre o papel do ex-vice no afastamento de um ex-procurador-geral ucraniano.

Trump também pediu a Zelensky para entrar em contacto com o seu advogado pessoal, Rudolph Giuliani, e com o procurador-geral dos Estados Unidos, William Barr.

Durante a conversa telefónica, Trump não fez qualquer referência ao pacote de ajuda financeira à Ucrânia de 250 milhões de dólares, cerca de 226 milhões de euros, que tinha sido suspenso uns dias antes. O Presidente ucraniano negou que Trump o tenha pressionado, afirmando que a única pessoa que o consegue pressionar é o seu filho de seis anos.

A polémica levou a líder da maioria Democrata na Câmara de Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, a anunciar na terça-feira um pedido formal de impeachment de Donald Trump.

A presidente da maioria Democrata na Câmara de Representantes, Nancy Pelosi, disse no domingo que, a menos que Joseph Maguire dê mais dados, a contenção de informação, por razões de privilégios presidenciais, poderá ser tomada como uma obstrução de Justiça, passível de levar a um processo de destituição do Presidente.

Na história dos EUA, nunca houve um Presidente destituído. Apenas dois chefes de Estado enfrentaram esta medida — Bill Clinton em 1998 e Andrew Johnson em 1868 — tendo ambos sido absolvidos.

ZAP //

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.