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Há 24 mil pessoas presas nas ilhas gregas

Anna Pantelia / Médicos Sem Fronteiras

Os cinco pontos de chegada nas ilhas da Grécia só têm capacidade para 6300 pessoas. Apesar de já sobrelotados, continua a chegar mais gente todos os dias – mais de metade são mulheres e crianças.

Zeynab, de 12 anos, partilha a tenda com a família e quando dorme não tem espaço para esticar as pernas. Há dias, Zeynab teve uma crise de epilepsia e diagnosticaram um tumor no cérebro. Na altura, estava na Turquia e, na esperança de melhores cuidados médicos, a família atravessou o mar Egeu para chegar à Europa.

Agora, estão na ilha grega de Lesbos, em Moria, um dos maiores campos de refugiados da Europa. Nos últimos anos, a sobrelotação daquele espaço que em tempos foi uma base militar é constante. Gente a mais é uma realidade ali e nas restantes ilhas gregas, mas agora os números aumentam e há muito tempo que não havia tantas pessoas.

“A situação nas ilhas da Grécia está em ponto de rutura: estas 24 mil pessoas encontram-se em cinco hotspots que, no seu conjunto, têm capacidade para 6300. Em Lesbos e em Samos, milhares de pessoas estão ao abandono, em condições desumanas, com muito limitado acesso à água, saneamento e a cuidados de saúde”, denunciam os MSF, que apontam culpas para uma União Europeia.

De acordo com o Expresso, para os MSF, a UE falhou “na gestão das migrações e asilo, bem como na devida prestação de cuidados de saúde e em encontrar soluções para pôr fim às condições desumanas e inaceitáveis de vivência”.

Vieram seis pessoas da família de Zeynab para Moria, incluindo o avô de 97 anos. Deram-lhes um lugar numa tenda, ao lado de outras quatro famílias. O espaço é dividido e não dá mais do que quatro ou cinco metros quadrados a cada um – equivalente à dimensão de uma pequena casa de banho.

Zeynab está referenciada pela clínica pediátrica dos MSF para ser rapidamente atendida no hospital. Na mesma clínica também está a ser acompanhada Fatima. Tem nove anos e fugiu do Afeganistão com a família. Um bomba explodiu à porta de casa e o corpo de Fatima foi atirado para longe e ficou caído no chão. Ela está viva, mas o irmão de quatro anos morreu. Foi operada três vezes no Afeganistão. Vieram para a Europa e estão em Moria, dentro de um contentor.

Pelo menos uma centena de menores de idade com doenças graves ou crónicas são atualmente atendidos regularmente na clínica pediátrica da organização não-governamental. Ali chegam problemas de coração, diabetes, epilepsia, feridas de guerra.

Moria é um hotspot criado pela União Europeia para registar todas as pessoas que chegam à ilha. Em 2016, as coisas mudaram quando a UE assinou um acordo com a Turquia que, na prática, impede as pessoas que chegam à Grécia de seguirem caminho. Uma vez ali chegadas, só podem continuar se o pedido de asilo for aceite. Ccaso contrário, são deportadas para a Turquia. O processo chega a demorar anos, tornando o país numa espécie de tampão que impede as pessoas se sair.

Esta semana, o Governo grego começou a transferir migrantes da ilha de Lesbos para o continente, no âmbito dos esforços para travar a sobrelotação dos campos de refugiados. Só em Moria estão 11 mil pessoas e o plano de Atenas é transferir cerca de 1500 migrantes e requerentes de asilo para um outro campo localizado no norte da Grécia continental, conhecido como Nea Kavala.

“Uma vez mais, os Médicos Sem Fronteiras pedem à Grécia e a todos os estados membros que recoloquem as pessoas mais vulneráveis, incluindo crianças”, pede a organização. E questiona: “Quando é que isto vai acabar?”.

ZAP //

 

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