Família constrói casa nos Açores que se alimenta do sol e da chuva

Eduardo Costa / Lusa

Ricardo Pereira e Mafalda Fernandes vivem com o filho Joaquim numa casa de 45 metros quadrados que está “desligada da rede”, em Fenais da Luz, na Ilha de São Miguel

A casa situada nos Fenais da Luz, no concelho de Ponta Delgada, abriga Ricardo Pereira, Mafalda Fernandes, o filho de 3 anos, o Pi e Branca, dois cães resgatados, e a gata Bebé.

Ricardo, Mafalda e o filho Joaquim vivem numa casa que se alimenta do sol e da chuva, desde 15 de dezembro de 2018. A habitação autónoma tem 45 metros quadrados e é rodeada por um terreno de 960 metros quadrados.

A casa móvel tem três módulos de 15 metros quadrados cada um, assentes em dois atrelados de vacas. O módulo da direita alberga dois quartos, o da esquerda a casa de banho e a cozinha, e a sala fica no do meio. Para a construção da casa e dos móveis, usaram madeiras locais, como acácia, metrosídero e criptoméria.

O espaço é alimentado por 12 painéis fotovoltaicos de 3,3 kilowatts (kw) e um sistema de armazenamento de energia feito com baterias de carros elétricos recicladas, de 10,8 kw.

Não estamos ligados à rede, nem de água, nem de eletricidade. Nós não somos fundamentalistas do ‘off the grid’ (‘fora da rede’), estamos assim porque não temos outro remédio”, explica Ricardo Pereira à Lusa.

A água que consomem vem da chuva e é tratada por um sistema com contador, que filtra os químicos, bactérias e vírus, e faz a esterilização. “Chegamos a ter 1500 litros este verão e, com estas chuvadas, já temos os tanques cheios”, refere Ricardo.

Em anos de seca, como o de 2018, em que “estava tudo seco; o milho não cresceu; foram pelo menos quatro meses sem chuva”, chamam-se bombeiros para encher os tanques. “É como as pessoas fazem com as piscinas” e o problema fica resolvido por 50 euros.

Têm ainda uma horta, que esperam que um dia seja uma agrofloresta, seguindo um modelo de permacultura. Para adubar a horta, têm um sistema de compostagem de lixo orgânico e outro para as fezes.

Foram para a ilha de São Miguel em 2013, altura em que Portugal estava mergulhado na crise, depois de Mafalda ser convidada para trabalhar numa unidade de turismo rural.

A ideia de construir uma casa de raiz, que fosse autónoma, surgiu por “necessidade”, porque aquela era a única forma que tinham de estar naquele terreno, já que fica numa zona florestal, onde não é permitida a construção.

Através de vídeos do YouTube, livros que encontravam na Internet, bem como com o apoio de amigos e de pessoas que nem sequer conheciam, Ricardo e Mafalda construíram a casa e todo o sistema que a abastece.

“Habituamo-nos a ter tudo de mão beijada, a ter tudo quando queremos. Para combater esta questão climática e melhorarmos a nossa relação com a natureza, é passarmos a viver com a natureza e não da natureza”, esclarece Ricardo.

Até hoje, incluindo o valor do terreno, investiram 50 mil euros. Falta construir o sofá, aumentar o sistema fotovoltaico para permitir carregar um segundo carro elétrico e começar a produzir o próprio gás, com o biodigestor que já compraram.

// Lusa

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