Doug Lindsay tinha 21 anos quando descobriu que ia passar o resto da sua vida preso a uma cama. Começou a investigar e, além de ter descoberto a doença, encontrou também a sua cura.
A mãe de Doug Lindsay tinha “o corpo por um fio”: quando o filho nasceu, só teve forças para pegar nele até ao primeiro ano de idade. Quando o bebé cresceu e ingressou no curso de Biologia, percebeu que, tal como a sua mãe e a sua tia materna, também o seu corpo era uma autêntica bomba-relógio.
Lindsay sentia vertigens, o coração muito acelerado e mal conseguia estar na vertical ou andar sem a necessidade de se deitar. “Mesmo deitado no chão eu sentia que não estava baixo o suficiente”, contou à CNN. Tinha 21 anos quando percebeu que os 11 anos seguintes seriam passados numa cama, durante 22 horas por dia.
A sua doença, e dos seus familiares, era completamente misteriosa. A mãe deixou de andar e a tia ficou tão fraca que mal tinha forças para se calçar. Numa noite do ano de 1999, o jovem ligou para a mãe e anunciou que ia desistir da universidade – ambos sabiam que era por causa da sua saúde que tinha tomado esta decisão.
Nessa altura, o jovem biólogo começou a pesquisar, em velhos livros de medicina, pistas para a doença que era como “uma maldição de família” e consultou especialistas de endocrinologia, neurologia, medicina interna e de outras especialidades para obter ainda mais informações. Contudo, percebeu que se queria uma cura, teria de ser ele mesmo a encontrá-la.
Num livro que encontrou junto a um caixote de lixo perto da faculdade, Linsay encontrou a primeira pista: uma passagem do livro falava em distúrbios adrenais que poderiam espelhar distúrbios da tiroide. O biólogo concentrou-se então nas suas glândulas suprarrenais.
Lindsay acabou a formular a hipótese de que poderia existir toda uma classe de distúrbios do sistema nervoso autónomo além das já conhecidas por endocrinologistas ou neurologistas. No site da National Dysautonomic Research Foundation descobriu que havia especialistas que se dedicavam a estudar o distúrbio de que ele e a sua família sofriam.
O jovem conseguiu que um investigador trabalhasse com ele e encontrou-o na American Autonomic Society, uma associação que reúne cientistas de todo o mundo.
Segundo o Diário de Notícias, em 2002, Doug Lindsay fez uma apresentação sobre a sua doença na reunião do grupo de cientistas. “Não foram paternalistas. Trataram-me como um cientista”, contou Lindsay.
O professor de Medicina da Universidade de Alabama-Birmingham H. Cecil Coghlan abordou Lindsay após a sua apresentação. O jovem defendia que uma droga específica o poderia ajudar e Coghlan achou que ele poderia ter razão.
Em 2004, um dos amigos de Lindsay alugou uma carrinha onde foi colocado um colchão para Doug e conduziu-o durante 800 quilómetros até Birmingham. Lindsay suspeitava que o seu corpo estivesse a produzir demasiada adrenalina e decidiu medicar-se com Levophed, uma injeção de noradrenalina, que contraria os sintomas criados pelo excesso de adrenalina.
Lindsay convenceu Coghlan a reaproveitar o remédio para que ele pudesse receber gotas de noradrenalina 24 horas por dia, sete dias por semana, durante seis anos. O biólogo conseguiu estabilizar a sua saúde e Lindsay conseguiu ficar em pé, pelo menos durante algum tempo.
O médico achava que Lindsay tinha um tumor adrenal, apesar dos exames não o confirmarem. Lindsay não percebia a razão pela qual as análises eram negativas e voltou a mergulhar nos livros: suspeitava que a sua glândula suprarrenal agisse como um tumor sem o ser. Um quarto exame, em 2006, mostrou que as suas glândulas suprarrenais “brilhavam intensamente”, algo anormal.
Doug Lindsay sofria de hiperplasia medular adrenal bilateral, o que significa que as suas glândulas suprarrenais estavam aumentadas e agiam como tumores, produzindo muita adrenalina. Coghlan arriscou a sua reputação profissional e decidiu apoiar Lindsay no diagnóstico.
O jovem acabaria por descobrir que existiam apenas 32 casos registados desta doença em todo o mundo e a cura passa pelo corte de parte das suas glândulas suprarrenais. No entanto, faltava ainda convencer um cirurgião a salvar a vida a Lindsay.
Um ano e meio depois, conseguiu: um cirurgião da Universidade de Alabama-Birmingham aceitou realizar a cirurgia e, em setembro de 2010, o médico extraiu com sucesso uma das suas medulas adrenais. Três semanas após a cirurgia, Lindsay conseguiu ficar de pé três horas.
Em 2012, foi submetido a uma segunda cirurgia na Universidade de Washington, em St. Louis, para remover a medula da outra glândula suprarrenal e, um ano depois, Doug Lindsay conseguiu viajar para as Bahamas.
Hoje, com 41 anos, Lindsay ainda toma nove medicamentos por dia e não tem uma saúde perfeita. Mas o calvário chegou ao fim: pode andar e ajudar outras pessoas como ele.