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Pedro Nuno Santos criticou direção do PS. E foi Costa quem lhe respondeu

Tiago Petinga / Lusa

Pedro Nuno Santos, Antonio Costa, Augusto Santos Silva: o núcleo duro do Governo no Parlamento

O PS aprovou as listas de candidatos a deputados para as próximas eleições legislativas num processo que não foi consensual e que gerou críticas, designadamente no âmbito das escolhas feitas em Braga que colocam o ministro Pedro Nuno Santos contra a direcção do partido.

O presidente do PS, Carlos César, anunciou já de madrugada que a Comissão Política Nacional do partido aprovou as listas de candidatos socialistas a deputados nas próximas eleições legislativas com votações entre os 80% e os 92%.

O anúncio foi feito após uma reunião em Lisboa que demorou cerca de duas horas e meia, menos do que o habitual em comissões políticas destinadas a aprovar listas de candidatos a deputados.

Mas esta rapidez não reflecte consenso após um processo que gerou algumas polémicas, nomeadamente em Braga, com o ministro Pedro Nuno Santos, responsável pela pasta das Infraestruturas e dirigente do PS, a criticar a direcção pela forma como foram feitas as escolhas.

As críticas de Nuno Santos visavam sobretudo a secretária-geral adjunta do PS, Ana Catarina Mendes, que coordenou todo o processo de escolha dos candidatos socialistas a deputados nas próximas legislativas, mas foi o próprio António Costa quem respondeu ao ministro, como apurou a Lusa.

A agência de notícias refere que, de acordo com dirigentes socialistas, o episódio entre Nuno Santos e Costa passou-se na terça-feira ao fim da tarde, durante a reunião do Secretariado Nacional do PS que antecedeu a aprovação das listas.

Nuno Santos considerou que houve uma excessiva interferência da direcção na composição da lista do círculo de Braga, depois de a respectiva federação a ter aprovado com mais de 80% de votos favoráveis, conforme nota a Lusa.

Costa respondeu às críticas de Nuno Santos e contrapôs que estava em causa a qualidade da lista aprovada pela Comissão Política Federativa de Braga.

Na reunião que se seguiu da Comissão Política Nacional do PS, o líder federativo de Braga, Joaquim Barreto, fez uma intervenção com críticas duras à actuação do seu partido – e Nuno Santos aplaudiu o discurso.

Sónia Fertuzinhos, cabeça de lista pelo círculo eleitoral de Braga, e Hugo Pires, secretário nacional do PS para a Organização, não constavam dos candidatos incluídos na lista aprovada pela Federação de Braga, tendo sido escolhas directas do secretário-geral do PS.

O terceiro nome da lista de Braga, Maria Begonha, líder da Juventude Socialista, também foi apontado pelo secretário-geral.

Os “suspeitos do costume” e o cuidado com o “familygate”

Também houve polémicas com as escolhas feitas noutros distritos, nomeadamente na Guarda e no Porto. E o líder da corrente minoritária socialista, Daniel Adrião, acusa Costa de ter privilegiado o aparelho partidário na definição das listas.

“São escolhas que reflectem o peso e a influência do aparelho, mas que não reflectem a desejável abertura à sociedade que se impunha, tendo em conta os fraquíssimos níveis de participação eleitoral que se têm vindo a registar”, apontou Adrião na sua intervenção na reunião da Comissão Política em Lisboa.

Adrião realçou ainda que se “valorizou o controlo em detrimento da inovação”, com a direcção a “insistir num modelo de organização política caduco e esgotado, que não é minimamente atractivo” para a sociedade actual. “O resultado são listas sem novidade, sem frescura, construídas apenas numa lógica de gestão de equilíbrios de poder interno”, concluiu.

O PS anunciou uma renovação na composição das listas, relativamente a 2015, mas, na verdade, são compostas pelos “suspeitos do costume”, com “30 actuais governantes em lugares previsivelmente elegíveis”, como salienta o Observador. Esta publicação fez as contas e aponta que “mais de 45% do Governo” integra as listas do PS.

A escolha dos deputados teve especial cuidado com os militantes familiares depois do escândalo do “familygate. Assim, em Setúbal, o líder da distrital, António Mendonça Mendes, secretário de Estado e irmão de Ana Catarina Mendes, não surge na lista que é encabeçada pela secretária-geral adjunta do PS.

Voto secreto e “mais de 56% de mulheres”

No anúncio de aprovação das listas, Carlos César sublinhou que o PS apresenta “mais de 56% de mulheres entre os seus efectivos, respeitando assim a distribuição equilibrada em termos de género”. “Também têm a particularidade de terem sido aprovadas por voto secreto com votações que oscilaram entre os 80% e os 92%”, acrescentou o presidente dos socialistas para demarcar o partido do PSD.

Confrontado com o facto de as listas de candidatos não terem agora representantes nem da CGTP-IN, nem da UGT, Carlos César contrapôs que incluem “personalidades que são pessoas sindicalizadas, que desde logo trabalham e têm um domínio em matérias laborais”.

Para o presidente do PS, mais importante do que a questão de representantes das centrais sindicais nas listas, “é saber o que se pretende para o país”, designadamente nos planos “laboral, económico e social”.

Já sobre as polémicas em torno das listas com as Federações da Guarda e de Braga, Carlos César negou a existência de “problemas específicos nessas áreas”, frisando que “é inevitável” que aconteçam divergências nas escolhas “num partido democrático”.

ZAP // Lusa

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