Um relatório da ONU acusa guardas líbios de terem disparado sobre migrantes que tentavam fugir dos ataques aéreos, esta terça-feira, no centro de detenção perto da capital, que mataram pelo menos 53 pessoas.
O Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) diz ter informações de que guardas líbios dispararam sobre migrantes que tentavam fugir dos ataques aéreos de terça-feira no centro de detenção de migrantes perto de Tripoli.
“Há relatos de que, depois do primeiro impacto, alguns refugiados e migrantes foram baleados por guardas enquanto tentavam escapar“, lê-se no documento das Nações Unidas citado pelo Expresso.
Tanto o Ministério do Interior líbio como alguns guardas do centro de detenção de migrantes atingido já negaram categoricamente estas acusações.
De acordo com o novo balanço da Organização Internacional para as Migrações (OIM), os ataques mataram pelo menos 53 pessoas, entre as quais seis crianças, e fizeram cerca de 130 feridos. O relatório da OCHA sugere ainda que o número de vítimas mortais possa aumentar, uma vez que ainda há corpos a serem retirados dos destroços.
“Esta não é a primeira vez que o centro de detenção de Tajura é atingido, devido à sua proximidade direta a uma base militar e à sua localização. Apesar disto, as autoridades continuaram a transferir refugiados e migrantes para Tajura. Mais de 600 refugiados e migrantes estavam a ser mantidos contra a sua vontade no centro de detenção no momento do ataque”, lê-se ainda no relatório citado também pela RTP.
Depois dos bombardeamentos, o Governo de Fayez al-Sarraj, reconhecido pela comunidade internacional, responsabilizou o Exército Nacional Líbio (ENL), liderado pelo marechal Khalifa Haftar, pelo ataque.
O general nega as acusações do Governo, dizendo ter realizado ataques que visavam um acampamento militar próximo, mas sem atacar o hangar onde se encontravam os migrantes, destaca o semanário.
Na terça-feira, o enviado da ONU à Líbia, Ghassan Salame, já tinha afirmado que este ataque aéreo pode constituir um “crime de guerra”, tendo pedido à comunidade internacional para “condenar este crime e impor sanções apropriadas aos que realizaram esta operação em flagrante violação do direito internacional humanitário”.
Tal como o secretário-geral da ONU, António Guterres, o porta-voz da OIM, Joel Millman, apelou à realização de uma “investigação independente” sobre as circunstâncias do ataque.
Nos últimos anos, a Líbia têm sido um trampolim de passagem para migrantes africanos que procuram fugir para a Europa. Muitos são apanhados e mantidos nestes centros de detenção sobrelotados e precários, em condições que as Nações Unidas e grupos de defesa de direitos humanos classificam como desumanas.
A Líbia, imersa num caos político e securitário desde a queda do regime de Muammar al-Gaddafi e devido a divisões e lutas internas de influência entre milícias e tribos, tem sido um terreno fértil para as redes de tráfico ilegal de migrantes e de situações de sequestro, tortura e violações nestes centros de detenção.
O ministro líbio do Interior, Fathi Ali Bashagha, anunciou que o Governo está a considerar encerrar todos os centros de detenção de migrantes e libertá-los.
ZAP // Lusa