A Terra é um planeta “privilegiado”: possuiu uma superfície sólida e um clima ameno, potenciando assim a habitabilidade. Uma nova investigação concluiu que, em parte, estas condições se devem a uma estrela massiva que “morava” no ambiente de nascimento do Sol.
Em comunicado, a equipa realça a importância da estrela, explicando que sem os elementos radioativos deste corpo celeste presentes no início da formação do Sistema Solar o Planeta Azul poderia, na verdade, ser um mundo oceânico hostil coberto por enormes mantos de gelo. O estudo em causa foi publicado esta semana na revista especializada Nature Astronomy.
“Os resultados das nossas simulações sugerem que existem dois tipos de sistemas planetários qualitativamente diferentes”, disse Tim Lichtenberg do Centro Nacional de Competência em Pesquisa de Planetas (NCCRPS), na Suíça, citado na mesma nota.
Existem sistemas “semelhantes ao nosso Sistema Solar, cujos planetas têm pouca água, e aqueles nos quais mundos oceânicos são primordialmente criados, porque não não havia uma estrela massiva por perto quando o seu sistema hospedeiro foi formado”, explicou.
Lichtenberg e a sua equipa, que contou com a colaboração do astrónomo da Universidade de Michigan, Estados Unidos, Michael Meyer, ficaram intrigados como o papel que a presença de uma eventual estrela massiva podia ter na formação de um planeta.
Apesar de ser importante para o campo que estuda a formação e evolução planetária e de responder a algumas, os cientistas reconhecem que a descoberta deixa também questões.
“É ótimo saber que os elementos radioativos podem ajudar a tornar um sistema húmido mais seco e ter uma explicação para que os planetas pertencentes ao mesmo sistema solar partilhem propriedades semelhantes”, explicou o cientista.
Porém, “o aquecimento radioativo pode não ser tudo. Como podemos explicar a nossa Terra, que é muito seca, na verdade, comparada aos planetas formados nos nossos modelos? Talvez ter Júpiter [na posição] onde também estava foi também importante para manter a maioria dos corpos gelados fora do Sistema Solar interno”.
De acordo com os cientistas e em termos astronómicos, a água cobre mais de dois terços da superfície da Terra, enquanto que os planetas terrestres interno dos nosso Sistema Solar são muito secos – e ainda bem que assim são.
Todos os planetas têm núcleo, manto (camada interna) e a crosta. Se o conteúdo da água de um planeta rochoso é significativamente maior do que o da Terra, o manto fica imerso num oceano profundo e global e uma camada de gelo impenetrável no fundo do oceano. Esta “imersão” seria prejudicial, uma vez que evita certos processos químicos, como é o caso do ciclo do carbono na Terra, que estabiliza o clima e cria condições superficiais conducentes à vida tal como a conhecemos.
Tal como mencionado anteriormente, os cientistas recorreram a modelos computacionais para simular a formação planetária a partir dos seus blocos de construção, os planetesimais (enormes corpos rochosos ou gelados com provavelmente dezenas de quilómetros de comprimento. Durante o nascimento de um sistema planetário, explicam, os planetesimais formam-se num disco de poeira e gás em torno de uma estrela jovem e torna-se depois em “embriões” planetários.
Como estes blocos são aquecidos a partir do interior, parte do conteúdo inicial de gelo evapora e escapa para o Espaço antes mesmo de poder ser enviado para o próprio planeta. Este aquecimento interno, segundo os cientistas, pode ter ocorrido logo após o nascimento do nosso Sistema Solar, há 4.600 milhões de anos, tal como é sugerido pelos traços primitivos dos meteoritos, podendo ainda estar em progresso em vários lugares.