O Império Acádio, primeiro Estado mesopotâmico semita, desintegrou-se bruscamente e desapareceu há 4.200 anos. A culpa foi das secas e de uma tempestade de areia, que privaram a cidade de todas as reservas de água.
As civilizações surgem e desaparecem por diversas razões, mas as causas do desaparecimento do Império Acádio parecem controversas. A coincidência de tempo de grandes transformações com civilizações do Egito e do Vale do Indo, que são da mesma época, têm levado os historiadores a proporem a causa climática.
Sedimentos do mar Vermelho e do golfo de Omã, entre outros, foram usados anteriormente para sugerir que a Ásia ocidental foi alvo de, pelo menos, um grande período de seca nessa época, mas os dados eram imprecisos para garantir a causa do colapso acadiano.
A Suméria, o Antigo Egito e a civilização do Vale do Indo são as três civilizações mais antigas do planeta. Em meados do terceiro milénio antes de Cristo, o rei Sargão, o Grande, conquistou todas as cidades-estado, unindo-as no Império Acádio com leis, regras comerciais e outros traços da civilização moderna. Apesar de ser considerada uma das potências mais fortes da época, desapareceu 200 anos depois de ser criada.
Os motivos do seu desaparecimento permaneceram um mistério para muitos historiadores que procuraram respostas para esta questão. Desde a insatisfação da população com as autoridades e a luta contra Sargão e os seus descendentes até à invasão de nómadas que teriam devastado o país, não faltam teorias para explicar o desaparecimento.
Recentemente, uma equipa de investigadores começou a estudar a questão e sugeriu uma catástrofe climática como causa do colapso. Escavações na Síria mostram que o Oriente Médio, em 2200 a.C., enfrentou um período de seca fortíssimo que destruiu todas as grandes cidades da região.
Stacy Carolin e a sua equipa encontraram as primeiras provas sólidas desta teoria, examinando estalactites, que se formaram durante últimos cinco mil anos numa gruta no norte do Iraque. O artigo científico foi recentemente publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences.
Estas formações rochosas consistem em “anéis anuais” cuja espessura, composição química e isótopo refletem a quantidade de água na gruta em tempos diferentes de formação. Assim, estas formações podem ser usadas como uma “crónica” climática que mostra as mudanças de temperatura e do nível de precipitações atmosféricas durante os tempos.
A gruta visitada pelos cientistas estava perto das regiões do norte do Império Acádio e tinha aproximadamente o mesmo nível de precipitações da Suméria, o que permitiu reconstruir o clima da época do colapso.
Os cientistas descobriram que a primeira superpotência da Mesopotâmia foi destruída por razões climáticas. Há 4,26 mil anos, o crescimento de estalactites diminuiu bruscamente, ou seja, houve uma diminuição brusca de precipitações atmosféricas. A seca durou mais de três séculos, o que coincide com o tempo do renascimento da Mesopotâmia e com o aparecimento da Babilónia.
Além disso, os investigadores registaram um crescimento de magnésio e cálcio nos “anéis anuais”, o que bate certo com o início de tempestades de areia. Os cataclismos deveriam ter acelerado o colapso da Acádia, privando os agricultores de cultivar, mesmo havendo muita água.
Contudo, esta não foi a primeira vez que as secas e as tempestades de areia sacudiram a Mesopotâmia. Há 4,5 mil anos, os abalos não foram tão prologados, mas podem ter sido fundamentais para o enfraquecimento das cidades-estado.
ZAP // Sputnik News