Começou nesta semana, em França, o julgamento da portuguesa Rosa Cruz, de 50 anos, que escondeu a filha na mala do carro, durante os seus primeiros 23 meses de vida. Um caso grave de maus tratos que deixou a criança com sequelas graves e permanentes.
Rosa Cruz apresentou-se cabisbaixa e de cara fechada no julgamento que começou nesta segunda-feira, no Tribunal de Tulle, região da Nova Aquitânia, no departamento de Corrèze, no centro de França.
Escondendo o rosto por vezes, a emigrante portuguesa chegou a soltar algumas lágrimas quando ouviu o pediatra Jean-Louis Demarquez, que assistiu a filha no hospital, a contar como ela tinha “carências históricas” de vitamina D e “carências socio-afectivas” como nunca tinha visto em toda a sua carreira, conforme relata o jornal local La Montagne.
Séréna, a filha desta mulher de 50 anos, passou os primeiros 23 meses de vida fechada na mala do carro da mãe, escondida do mundo.
Foi preciso lavar a criança quatro vezes
Quando foi descoberta no cofre do veículo, tinha 7,8 quilos de peso e um desenvolvimento semelhante a um bebé de 7 meses quando já tinha dois anos. Estar com a criança era como enfrentar “uma espécie de muro”, revelou o pediatra em tribunal.
Quando lhe estenderam o biberão, a criança “apreendeu-o com os pés”, levando-o às mãos e depois, à boca, contou ainda o pediatra.
Foi preciso lavar a criança quatro vezes no hospital, tal era o estado em que se encontrava, revelou-se também no tribunal.
A leitura do estado físico e mental em que Séréna foi encontrada deixou a sala de audiência em estado de choque, como relata a imprensa francesa.
“Nua, extremamente suja, desidratada, desarticulada, parecendo procurar ar, revirando os olhos, cercada por excrementos, mas também por larvas, vermes, ao lado de brinquedos e peluches”, e no meio de “um cheiro nauseabundo”, assim se descreveu a terrível descoberta da criança em tribunal, de acordo com o Le Nouvel Observateur.
Os peritos ouvidos no caso apontam que a menina, que completa 7 anos no próximo dia 24 de Novembro, apresenta um “défice funcional de 80%” e um “síndroma autístico provavelmente irreversível”, que está directamente relacionado com o isolamento a que foi sujeita.
As perícias toxicológicas concluíram, a partir da análise a uma mecha de cabelo, que a criança apresentava concentrações fracas de vários medicamentos, nomeadamente analgésicos, ansiolíticos, sedativos e anti-convulsionantes. Disto se conclui que a mãe ter-lhe-á dado medicamentos que não são recomendáveis para crianças tão pequenas.
“Lamento o mal que fiz à Séréna”
Os investigadores do caso acreditam que a criança passava praticamente todo o tempo na mala do carro, embora a mãe tenha garantido que a retirava de lá com regularidade, para um local no rés-do-chão da casa onde ninguém costumava ir.
A menina foi encontrada em Outubro de 2013, por um mecânico que ficou curioso com os gemidos que ouviu, quando o Peugeot 307 de Rosa Cruz se encontrava na garagem onde trabalhava à espera de ser reparado.
Rosa Cruz terá escondido a gravidez de todos, até do marido, com quem tem outros três filhos, com idades entre os 9 e os 15 anos. Estas crianças estão a viver com os pais, incluindo a arguida que não se encontra detida, enquanto Séréna vive com uma família de acolhimento.
O pediatra ouvido em tribunal salientou que os outros três filhos de Rosa Cruz estão bem cuidados, revelando “uma boa qualidade de trabalho como mãe“. “Não se compreende porque é que Séréna escapou a este cuidado”, referiu.
Em tribunal, Rosa Cruz falou da infância e do casamento felizes, de como o primeiro filho foi “desejado”, e de como o segundo e o terceiro surgiram no âmbito de uma “negação da gravidez”, o mesmo que diz ter acontecido no caso de Séréna.
“É muito duro ser confrontada com a realidade. Lamento o mal que fiz à Séréna“, disse também na sala de audiências.
A defesa da portuguesa alega que a própria Rosa Cruz é também uma “vítima” de “uma negação absoluta de gravidez e da criança“, o que implica “um grande sofrimento”.
Em Novembro de 2013, Rosa Cruz contou à TFI que deu à luz sozinha, na sua casa, em Novembro de 2011, e que não conseguiu assumir o nascimento da menina perante a família. “Fechei-me numa mentira, num abismo“, referiu. “Tentei mantê-la viva”, disse ainda.
Os investigadores que lidaram com a emigrante consideram que ela não queria deixar a filha, mas também que queria ser descoberta.
O responsável da investigação contou em tribunal um episódio quase anedótico, que reflecte o complexo estado desta mulher. “Quatro dias depois da descoberta da criança, Rosa Cruz telefonou-me para me culpar por ter deixado entrar os seus gatos na casa, então selada”, no âmbito dos procedimentos de inquérito, frisou.
O marido já foi ouvido em tribunal, em cadeira de rodas, depois de ter sofrido uma queda, dando muitas respostas evasivas. “Não sabia de nada. Não compreendo porque é que ela fez isto”, garantiu ao juiz do caso, admitindo que quem tratava de tudo em casa era a mulher.
Rosa Cruz está acusada de crimes de violência com mutilação ou incapacidade permanente sobre menor de 15 anos, privação de cuidados ou de alimentos comprometendo a saúde de criança, e dissimulação atentatória do estado civil de uma criança. Arrisca ser condenada a uma pena de 20 anos de prisão.
Só é pena não a meterem na mala de um carro e a atirarem de uma ribanceira abaixo, era o que esta criatura merecia.
Não há palavras para classificar este ser “humano”, inimaginável tal situação! Falta total de valores, de amor e humanismo praticado, prisão perpétua no mínimo, não é ser digno de retomar a vida entre humanos!. Cometer um acto momentâneo em situação de desespero ainda poderá haver algum perdão, cometer uma atrocidade destas perante uma filha indefesa recém nascida e de tal forma durante 2 anos sem haver um dia de arrependimento é demasiado duro, como é possível?
Como pode ser possivel. Prisao perpetua, tortura, era pouco. De lamentar uma portuguesa fazer isto. Traiu o marido, engravidou de outro e simplesmente escondeu… inexplicável porque nao abortou…
Entristecedor.
Filha da p***